“Arte de Quinta” celebra Beth Terras com humor, memória e afeto

Foto: Assessoria/Divulgação
Foto: Assessoria/Divulgação

Espetáculo revisita personagens clássicos e esquetes marcantes da companhia ADOTE

Há um ano da perda de Beth Terras, uma das maiores referências da produção cultural em Mato Grosso do Sul, Campo Grande recebe uma homenagem à altura de seu legado. No dia 4 de outubro, o espetáculo Arte de Quinta volta ao palco em uma edição especial que celebra a trajetória da fundadora da ADOTE (Companhia Teatral Ator Domingos Terras). Com esquetes cômicas, personagens clássicos e uma forte carga afetiva, a montagem reafirma o impacto transformador da arte no cenário local.

Criado por Beth há 18 anos, o Arte de Quinta se consolidou como um celeiro de talentos campo-grandenses e se tornou uma das produções mais importantes da Capital. Mais do que um espetáculo, o projeto ajudou a revelar artistas, personagens e a fortalecer a presença do teatro no cotidiano da cidade. Esta nova edição busca resgatar a memória e o espírito irreverente que marcaram a companhia, com um olhar carinhoso sobre tudo o que foi construído ao longo de quase duas décadas.

O público poderá reencontrar no palco figuras queridas como As Princesas, Miss Burra, Shanaya e as Comissárias, personagens favoritos de Beth Terras e parte da memória afetiva da cena teatral regional. O elenco reúne nomes consagrados da ADOTE, como Lucas Oliver, que também assina a direção, além de Giovanna Zottino, Diogo Adriane, Daniel Smidt, entre outros. A produção, encabeçada por Giovanna e Smidt, mantém a essência original do espetáculo, ao mesmo tempo em que propõe releituras e atualizações, sem perder o humor e a conexão direta com a plateia.

Antes das luzes se apagarem

Para o Jornal O Estado, a atriz e produtora Giovanna Zottino contou que os preparativos para essa edição especial do Arte de Quinta estão intensos, cheios de desafios, mas também de muita alegria.Atuando como produtora e também no elenco, ela participa de todas as etapas, desde a escolha dos figurinos até a costura, busca de peças emprestadas e organização dos ensaios.

“É aquela correria gigante de fazer tudo ao mesmo tempo.A gente corta tecido, corre atrás de peruca, de bota emprestada… tudo feito na raça, com esforço coletivo, porque não temos apoio de editais, políticas públicas ou patrocínio”, relata.

Mesmo com o cansaço, principalmente após ações de divulgação nas ruas, Giovanna destaca o quanto os ensaios têm sido divertidos e emocionantes. “A gente ri junto, reencontra personagens que amamos e ainda cria novas versões. É um trabalho de formiguinha, mas que vale a pena. Tenho certeza que vai ser uma homenagem linda. A gente vai se divertir muito no palco”.

Para a reportagem, o diretor do espetáculo, Lucas Oliver, afirmou que o público pode esperar uma experiência intensa, na qual humor e emoção se entrelaçam de forma simbólica. Segundo ele, haverá sim momentos de emoção profunda, em que a presença de Beth Terras é sentida de maneira marcante, mas o foco está em manter o espírito leve e divertido que ela tanto valorizava.

“Não quisemos fazer uma edição triste. Pelo contrário, nossa intenção sempre foi celebrar a vida, a arte e a alegria que a Beth transmitia.Os momentos mais especiais são aqueles em que conseguimos costurar memória e presente. Cenas em que Beth surge não de forma literal, mas como uma presença viva, quase como se estivesse no palco conosco”, completou o diretor.

Legado Beth Terras

Para Lucas, o legado deixado por Beth Terras ultrapassa sua presença em cena e se reflete diretamente na identidade da Companhia ADOTE e no teatro campo-grandense. Segundo ele, Beth ensinou que o teatro pode ser ao mesmo tempo leve, divertido e profundamente transformador.

“Ela foi uma artista generosa, que oferecia muito de si em cada trabalho. Foi exemplo de dedicação, coragem e amor pela arte. Para Campo Grande, ela simboliza resistência e valorização da cultura local. Criou um espaço onde os artistas se reconhecem, se fortalecem e seguem em frente com identidade própria”, completa.

Como produtora e artista, Giovanna acredita que o público vai se emocionar ao reencontrar, ou descobrir pela primeira vez, os personagens icônicos do Arte de Quinta. Além da conexão com a plateia, esse reencontro também acontece internamente, entre os próprios artistas e seus personagens.Um dos momentos mais marcantes para Giovanna é interpretar a personagem Chapeuzinho, papel que era originalmente feito por Beth Terras.

“Tem gente que já foi público e vai reviver essa memória, mas também tem quem nunca viu o espetáculo e vai se encantar agora. É um processo de redescoberta para todos nós.É muito emocionante dar vida a algo que ela tanto amava. É uma grande homenagem”. Segundo a atriz, a escolha das esquetes nesta edição foi baseada nas preferidas de Beth (seja como atriz, diretora ou autora).

Organização

Um dos principais cuidados da equipe foi manter a identidade construída pelo Arte de Quinta ao longo de seus 18 anos, sem abrir mão de atualizações necessárias. A proposta, segundo Lucas, foi preservar essa essência, mas adaptando a linguagem para dialogar com o público de hoje. O equilíbrio entre tradição e inovação foi alcançado ao revisitar quadros clássicos e, ao mesmo tempo, inserir cenas inéditas que refletem questões contemporâneas e mantêm o frescor do espetáculo.

“Esse espetáculo tem uma marca muito forte, que é o humor aliado à crítica, ao olhar irônico e ao mesmo tempo sensível sobre o cotidiano. Não queríamos cair na armadilha da nostalgia. A ideia foi olhar para o passado com carinho, mas também propor novas leituras”, afirma.

Assumir a produção desta edição especial do Arte de Quinta foi, para Giovanna, um desafio tão grande quanto gratificante. Segundo ela, lidar com tantas mentes criativas e com a responsabilidade de resgatar 18 anos de trajetória exige organização, sensibilidade e muito trabalho coletivo. Para Giovanna, é uma forma de honrar o legado de Beth Terras e reafirmar a força do teatro construído com paixão, dedicação e identidade própria.

“Esse espetáculo faz parte da minha história e da história de todos que passaram pela companhia. O Arte de Quinta foi, para nós, uma verdadeira escola, aprendemos a ser artistas no sentido mais completo da palavra. Produzir essa edição é também reviver personagens que amamos, apresentar isso ao público atual e, ao mesmo tempo, dar conta de tudo: figurino, maquiagem, cenário, divulgação. É cansativo, mas recompensador”, finaliza.

Serviço: O espetáculo Arte de Quinta – Especial Beth Terras será apresentado no dia 4 de outubro, às 19h, no Teatro Aracy Balabanian, localizado na Rua 26 de Agosto, 453 – Centro, em Campo Grande. A montagem tem classificação indicativa de 16 anos. Os ingressos já estão disponíveis para compra online, por meio da plataforma Sympla.

 

Amanda Ferreira

 

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