VIII Mostra Sesc de Cinema

Foto: Reprodução/Deivison Pedrê/Divulgação
Foto: Reprodução/Deivison Pedrê/Divulgação
Programação conta com narrativas locais, indígenas, infanto-juvenis e temas que exploram a identidade, cultura e criatividade do Estado
A Mostra Sesc de Cinema, uma das principais vitrines para o cinema independente brasileiro, chega à sua oitava edição reafirmando o compromisso com a valorização da produção audiovisual nacional. Em 2025, o evento reúne curtas, médias e longas-metragens finalizados a partir de janeiro de 2023, ainda inéditos no circuito comercial. A iniciativa premia obras de ficção, documentários e animações, oferecendo não apenas reconhecimento, mas também visibilidade por meio de exibições em unidades do Sesc espalhadas por todo o país.
Entre os dias 1º e 4 de outubro, é a vez de Campo Grande (MS) sediar o Circuito Regional da Mostra. A programação, que será exibida no Sesc Teatro Prosa com entrada gratuita, é um recorte potente da diversidade cultural e social do Mato Grosso do Sul. Ao longo dos quatro dias, o público poderá conferir produções que abordam temáticas indígenas, questões territoriais, as fronteiras entre realidade e ficção, além de um filme dedicado ao público infanto-juvenil.
E para ampliar ainda mais o diálogo entre criadores e espectadores, ao final de cada dia da Mostra haverá um bate-papo com os realizadores dos filmes exibidos. Esses encontros contam com mediação especializada e a participação ativa do público, criando um espaço vivo de troca, escuta e debate. A 8ª Mostra Sesc de Cinema é, acima de tudo, uma celebração da criatividade e da potência narrativa do cinema feito nos estados, com sotaques, olhares e realidades que muitas vezes não chegam às grandes telas.
Pelas telas
Para o Jornal O Estado, Cássia Mazzei, uma das responsáveis pela curadoria da Mostra Sesc de Cinema em Campo Grande e Analista Cultural, destaca que os filmes selecionados passaram por uma criteriosa avaliação técnica e artística.
“Foram utilizados critérios como roteiro, qualidade, originalidade, atuação, relevância do tema e representatividade”, explica. Segundo ela, o objetivo é construir uma programação diversa e significativa, que reflita a pluralidade de vozes e narrativas presentes nas produções audiovisuais da região, valorizando tanto a excelência estética quanto o impacto social e cultural das obras.
Cássia também ressalta o esforço da equipe em garantir que a Mostra alcançasse um público amplo e diverso. “Focamos em uma boa divulgação para que chegasse ao máximo de pessoas possível”, afirma. A curadora conta que, ao receberem a lista de filmes inscritos, tiveram a grata surpresa de encontrar uma quantidade significativa de obras que abordavam temáticas indígenas e questões ligadas ao território sul-mato-grossense.
Esse panorama permitiu a criação de um recorte especial na programação, com um dia inteiramente dedicado às produções que trazem as temáticas indígenas para o centro da tela, reforçando o papel do cinema como ferramenta de visibilidade e valorização das culturas originárias.
Segundo Cássia, outro ponto de destaque nesta oitava edição foi o aumento expressivo no número de inscrições em comparação ao ano anterior. Ela atribui esse crescimento às ações estratégicas de divulgação e, principalmente, ao empenho das equipes dos Sescs de todo o país.
“Essas equipes atuaram como verdadeiros facilitadores, articulando e divulgando a mostra junto a grupos culturais, colegiados, universidades e outros espaços onde estão os agentes que se dedicam à linguagem do audiovisual”, explica. Esse movimento ampliou o alcance da Mostra e fortaleceu a participação de realizadores de diversas regiões, contribuindo para uma seleção ainda mais representativa e diversa.
CORAGEM
Um dos destaques da Mostra é o filme CORAGEM, que retrata a trajetória de Emy, travesti negra, professora e artista que transforma vidas no coração do Mato Grosso do Sul. Com sensibilidade e respeito, a obra constrói um retrato íntimo e poderoso de Emy em todas as suas dimensões, filha, esposa, educadora e criadora, rompendo estigmas ao colocar no centro da narrativa a dignidade, os afetos e a potência das existências trans e travestis.
Para o Jornal O Estado, Emy contou que uma das cenas mais marcantes do filme CORAGEM foi a gravação realizada na casa de sua mãe, ao lado da família e das amigas. Ela destaca que o momento desconstrói a ideia de que pessoas trans perdem tudo ao afirmarem suas identidades.
“Foi muito especial, porque redimensiona essa questão familiar e cria um imaginário de que é possível ter afeto, ser quem se é e ainda assim manter vínculos. “Mostra que quem ama a gente, vai estar com a gente em qualquer ocasião”, afirma Emy, reforçando que o filme também é um testemunho de amor, acolhimento e pertencimento.
Emy também compartilha o desejo de que CORAGEM inspire outras pessoas trans e travestis a retomarem seus sonhos e a se enxergarem como parte de uma rede de apoio e possibilidades.Para ela, o filme é uma ferramenta de transformação, que ajuda a romper o ciclo de violência ao fortalecer a noção de comunidade e cuidado mútuo.
“Quero que essas pessoas voltem a sonhar e se imaginem realizando seus sonhos, porque é possível, de alguma forma. Que essas pessoas consigam se enxergar enquanto possibilidades, para além da violência que vivem”, conclui, reafirmando o papel do audiovisual como instrumento de esperança e reconstrução.
Enigmas do Rolê
Para o Jornal O Estado, Ulísver Silva, roteirista e diretor do longa-metragem Enigmas no Rolê, conta a história de uma aventura voltada para jovens, que combina entretenimento e aprendizado, inspirando o desenvolvimento de habilidades fundamentais, principalmente entre jovens de regiões periféricas.
 A trama acompanha Andread, um estudante de Física que desafia seus sobrinhos a resolver enigmas para ganhar um presente especial. Inspirado em experiências pessoais, o filme mescla elementos da cultura afro-urbana, como grafite e hip-hop, com a lógica e o raciocínio, criando uma narrativa envolvente que fortalece laços familiares e valoriza o universo adolescente.
“Para mim é uma felicidade saber que o filme chegará ao público infanto-juvenil espalhado pelo Brasil todo.  É uma aventura que se passa na cabeça dos personagens, já que a aventura é o raciocínio lógico que os personagens precisam encarar para resolver os enigmas. E ele tem uma pegada bem adolescente, com uso de elementos visuais e musicais, bem identificados à cultura afro-urbana. Tem bastante coisa de grafite, tem bastante coisa de hip-hop, tudo isso mesclado ao universo dos enigmas lógicos”, destaca o diretor.
Programação
Programação Mostra Sesc de Cinema – Campo Grande | Sesc Teatro Prosa
01/10/2025, 19h – Temáticas Indígenas em Cena
 +FORTE – Ara Martins (6’)
VIPUXOVUCO – Dannon Lacerda (15’)
 KUÑANGUE 18 ANOS – Marineti Pinheiro e Jaque Aranduhà (22’)
02/10/2025, 19h – Território e Regionalidades
   DEUS TE SALVE, JOÃO! – Karen Freitas (17’)
   * JARDIM DE PEDRA – Daphyne Schiffer e Rodrigo Rezende (16’)
   * TÁ SABENDO? – Lucas Verão (5’30”)
   * CONSTRUINDO A QUARTA PAREDE – Bruno Augusto (25’)
03/10/2025, 19h – Entre a Ficção e o Real
      * FLORES NA MÁQUINA – Diefferson G (3’59”)
      * SEBASTIAN – Cainã Siqueira (13’)
      * COLAR DE PÉROLAS – Ana Letícia Moura (20’)
      * METÁSTASE – Iulik Lomba de Farias (22’)
04/10/2025, 16h – Panorama Infanto-Juvenil
         * ENIGMAS NO ROLÊ – Ulísver Silva (105’)
Amanda Ferreira e Carolina Rampi

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