Apresentação musical promete uma noite de axé, alegria, ancestralidade com sustentabilidade e talento
O Teatro Aracy Balabanian será tomado nesta quinta-feira (8) por tambores feitos de latas, timbais construídos com materiais recicláveis e muita emoção, com o espetáculo ‘Africanidades’, apresentado pela Banda Bat’uquecanta, projeto idealizado pela arte-educadora Rosângela Maria do Nascimento e desenvolvido no Centro Cultural Instituto Projeto Livres. A entrada para o show custa R$ 30, que será revertido para o Projeto Livres.
A banda é formada por 12 integrantes, entre jovens/alunos e professores, a partir de um trabalho social que transforma o que seria lixo em instrumentos musicais. Com o projeto, a banda promove a cultura da percussão em sua diversidade de ritmos, do Axé, as levadas do Samba, os movimentos frenéticos das timbaladas e a suavidade do Afoxé que compõe a cultura afro-brasileira com inovação e sustentabilidade.
Arte e sustentabilidade
O surgimento da banda acontece por meio da sugestão de um professor de percussão, mas ganhou força e forma ao longo do tempo. “O projeto de percussão sustentável foi se fortalecendo como ferramenta de aprendizagem para desenvolver em crianças e adolescentes suas habilidades e potencial de assimilar conhecimentos”, explica a Professora Rô. “Ele promove a transformação social”, complementa.
Mais do que ensinar música, o projeto ensina pertencimento. “Cada ser humano é um guardião da cultura, que começa com a história de cada um e se amplia à história do coletivo. Cultura afro é vista na sociedade como entretenimento, mas vai além: é história, é força, é majestade”, afirma.
O show “Africanidades” promete uma noite de axé, alegria e ancestralidade. “Queremos deixar o público apaixonado pela nossa cultura. Cada batida de tambor é um chamado à memória dos nossos ancestrais e ao poder de transformação que a cultura negra carrega”, disse. Essa vivência ancestral foi trabalhada nos alunos por meio da reflexão crítica e discursiva, utilizando as letras das próprias músicas.
“Mostramos e chegamos à conclusão que a música liberta, desperta o pensar, nos incentiva a sonhar e viver um mundo de novas perspectivas… Fazendo-nos enquanto sujeitos acreditar que é possível mudar a nossa realidade, construir um novo mundo, cujas oportunidades sejam dadas a todos”.
Para além da música, a proposta é mostrar que a transformação começa pelo pensamento. “Transformar matérias que degradam a natureza em instrumentos musicais é dizer que um mundo melhor é possível, e começa por cada um, com seu modo de pensar, ser e agir”, reforça Rô. “É também fazer sonhar que podemos mudar o mundo a partir de nós”.
Quem participa do projeto, também se conecta com as próprias capacidades, e entende a importância de temas como a reconstrução e a solidariedade.
Crescer, resistir e refletir
A produtora do evento, Thathy D’Meo, ressalta que a visibilidade do show é essencial para as crianças e adolescentes que compõem a banda. “Esse evento traz a importância da banda vivenciar e realizar seu próprio show. Para os integrantes é o reconhecimento de muito trabalho, é dedicação, caminho que estamos trilhando para o profissionalismo com a música por meio do ensino e prática do projeto”.
O repertório da apresentação contém aproximadamente 17 músicas, entre autorais e de domínio público, conhecidas pelo coletivo e pela população, que refletem a diversidade. “Músicas como as dos Zumbis, que carregam essa temática de luta e resistência, da força do povo negro e do movimento. Elas foram fundamentais para compor um show que representasse toda a riqueza e pluralidade da cultura afro-brasileira”, explica Thathy.
Ao longo da trajetória do grupo, a banda passou por um notável amadurecimento musical, mesmo sendo formada por jovens de 10 a 17 anos — muitos dos quais participam do projeto desde o início. O espetáculo “Africanidades” reflete esse crescimento ao apostar em uma proposta estética alinhada à sustentabilidade: os instrumentos são, em sua maioria, construídos com materiais recicláveis, e até a cenografia do show será composta por elementos reaproveitados, como tambores antigos e lonas, além de grafismos inspirados na cultura afro-brasileira. A exceção é o timbal, utilizado para criar contraste e enriquecer a sonoridade que dialoga com os tambores e latas.
Para a produtora, destacar a importância do reconhecimento publico, para além do caráter social da iniciativa, mostra que a banda está pronta para se tornar profissional. Ela destaca como os jovens já demonstram maturidade artística, acumulando experiências em palcos como do Bloco Reggae.
“Parece gente miúda fazendo trabalho de gente grande — e é exatamente isso que está acontecendo”, completa, reforçando que o objetivo é garantir que esses músicos, vindos de regiões periféricas, possam ser inseridos no mercado, absorvidos por outras bandas e, assim, transformar a arte em profissão.
Os próximos passos da banda Bat’uquecanta envolvem a organização e valorização de sua trajetória por meio de um material qualificado. “Estamos com esse material videográfico e fotográfico justamente para compor um portfólio com mais peso e qualidade”, explica a produtora do projeto. A ideia é também manter um site que consolide a identidade da banda, sempre ligada ao Instituto, “porque, como eu digo e repito, o Bat’uquecanta sempre terá essa forma, esse nascedor, que é uma incubadora onde novos integrantes surgirão”.
Antes do espetáculo, a partir das 14h, o hall do teatro receberá uma exposição de moda sustentável e artesanato, com peças confeccionadas pelas mães dos alunos do projeto. “Tudo se refaz. A cultura, quando entendida como ferramenta de uma educação libertadora, transforma o desenvolvimento cognitivo e emocional de qualquer indivíduo”, defende a Professora Rô.
Ganhar o palco de um teatro tão simbólico mostra a potência da trajetória da banda. “Ter a oportunidade de mostrar que a cultura na nossa cidade está viva, e segue forte ao som produzido com materiais tão simples, recicláveis, e que crianças e adolescentes podem se apaixonar pela arte arrebatadora que a percussão produz em nossas vidas, em nosso cotidiano, e estar num espaço tão sublime nos faz sentir gratidão e honrados, no sentimento místico que essa oportunidade produz em cada um de nós”, finaliza Rô.
Serviço: O show Bat’uquecanta será realizado nesta quinta-feira (8), às 19h, no Teatro Aracy Balabanian, localizado no Centro Cultural José Octávio Guizzo, 453, Centro. Os ingressos custam R$ 30 e podem ser adquiridos via Pix pela chave 40.281.069/0001-55. Toda a renda será destinada à manutenção da banda e de suas ações no território.
Por Carolina Rampi
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