Retomar ala de oncologia infantil é uma das metas da nova gestão do Hospital de Câncer
Amilcar Silva Júnior, 56 anos, é o novo presidente do Hospital de Câncer Alfredo Abrão. Ele possui no currículo 30 anos em experiência com advogacia, e durante seus anos de trabalho já percorreu diversas áreas, que permitiram adquirir conhecimento para enfrentar o desafio de gerenciar a unidade hospitalar. Eleito por meio de votos do Conselho Curador da Fundação Carmem Prudente de Mato Grosso do Sul, a expectativa de Amilcar para a nova gestão é de concluir o novo prédio do HCAA. A estrutura tem hoje o subsolo e o térreo em funcionamento, e a obra está em fase de acabamento, sendo esse um dos processos mais demorados da construção, já que o material usado precisa ser específico, por se tratar de uma unidade hospitalar. A entrega da nova estrutura permitirá dobrar o número de leitos, e o principal: retomar a ala de oncologia infantil, pois o tratamento das crianças hoje é realizado no Hospital Regional. A unidade, nos últimos três anos, notificou um aumento de 20 mil atendimentos, com serviço voltado quase que a 100% dos pacientes provindos do SUS (Sistema Único de Saúde). Atualmente, o hospital realiza, por dia, cerca de 15 horas de atendimento com radioterapia, iniciando às 7h e terminando às 22h, trabalho que será mantido durante a nova gestão. Confira a entrevista:
O Estado: Qual foi sua trajetória para chegar até o cargo de presidente do Hospital de Câncer?
Amilcar: Ao fazer parte do conselho da Fundação Carmem Prudente de Mato Grosso do Sul, os integrantes do conselho é que elegem o presidente e o vice, os demais cargos são diretores que são escolhidos. Estão sendo minhas primeiras semanas à frente da administração, aqui no hospital, existe uma equipe muito boa, e não vamos fazer nenhum tipo de revolução. Estou aqui para ajudar a instituição a se desenvolver, e a se adequar com algumas questões.
O Estado: Atualmente a rede de tratamento do câncer, com apoio do SUS (Sistema Único de Saúde), tem crescido em todo o país, inclusive em Mato Grosso do Sul. Atualmente o Hospital de Câncer chega a fazer quantos atendimentos por mês?
Amilcar: Atualmente, o Hospital de Câncer atende cerca de 98% dos pacientes com o auxílio do SUS, restando apenas 2% para vagas particulares. Apenas em 2019, foram realizados mais de 65 mil atendimentos, ao passo que no ano de 2016 foram 46 mil, portanto houve um crescimento significativo entre os últimos anos. Acredito que esse aumento possa representar também o aumento do diagnóstico do câncer, pois a doença sempre existiu só que muitas vezes não era diagnosticada, e hoje existe uma facilidade maior no acesso ao tratamento.
O Estado: Mas o hospital tem se preparado para suportar esse aumento no número de casos…
Amilcar: Queremos construir o novo prédio do hospital, a expectativa é de que em dezembro ele seja concluído. Assim vamos poder atender um número maior de pessoas; a expectativa é de triplicar a capacidade de atendimento, e proporcionar ao paciente tratamento de quimioterapia, radioterapia, e a imunoterapia, pois o tratamento do câncer, na maioria das vezes, é sempre o mesmo em todos os hospitais, e alguns têm aparelhos e outros não, mas depende também do melhor tratamento indicado para o paciente.
O Estado: Existe algum suporte para aqueles que buscam tratamento no hospital?
Amilcar: A gente realiza o suporte de pacientes que vêm até de outros países; hoje nós possuímos a rede feminina, que faz parte do hospital e realiza atividades como bazar, confecção de perucas. Nós temos também uma casa de acolhimento, para pacientes que vêm de fora e não possuem condição de arcar com as despesas da estada, e são pessoas de todas as regiões, como do Acre, Rondônia, Bolívia e Paraguai. Só não há uma estatística, pois muita gente que vem realiza o exame e às vezes busca tratamento em outro local, ou faz o exame e não constata nada e não dá continuidade ao tratamento.
O Estado: Existe um perfil daqueles que são atendidos pela instituição? Ou então alguma tipagem de câncer que é mais tratada no hospital?
Amilcar: Não distinguimos esse perfil, há no atendimento uma miscigenação muito grande de pessoas. Existe uma variação da doença, pois, como disse, é comum que venham, façam os exames e tenham resultado negativo, deixando de dar continuidade a esse tratamento. O hospital também presta atendimento para os moradores do interior, e muitas vezes a quimioterapia tem um período: o paciente passa pela quimioterapia hoje, e passa dois dias ou três, dependendo do caso, e retorna para casa, voltando para outra sessão em 15 ou 20 dias, conforme a evolução do tratamento.
O Estado: O Ministério da Saúde tem disponibilizado novas verbas para o hospital? Fomentando assim planos para 2020?
Amilcar: Nosso ponto principal é terminar o hospital, pois nós ainda funcionamos em uma estrutura antiga, que não comporta mais tantas pessoas. No novo prédio, iremos ter também uma oncologia infantil, para atender, aproximadamente, 80 crianças, e outros quatro andares para atender adultos. Temos diversos investimentos previstos, todos visando atender um número cada vez maior de pessoas, e atender bem, pois, por exemplo, existem pessoas que não se adaptam à quimioterapia, e precisam fazer radioterapia, e a outras ocorre o contrário, então cada caso é um caso, e por isso nós precisamos ter todos os tratamentos disponíveis. Hoje, nós temos um acelerador funcionando; ele faz radioterapia, e funciona das 7h às 22h, e, apesar do custo elevado, nós estamos aqui fazendo funcionar.
O Estado: Como vai funcionar a ala voltada para oncologia infantil? Esse tratamento já existe na instituição e será expandido?
Amilcar: A oncologia infantil já foi tratada aqui no hospital, mas, por questões burocráticas, foi passada para o Hospital Regional e agora está retornando. Existem andares específicos voltados para esse acompanhamento, com leitos de UTI voltados para essas crianças, pois existem especificações diferenciadas, sendo tudo adaptado para elas, com até mesmo privada e pia mais baixas. Temos ainda um convênio entre o governo do Estado e a AACC (Associação dos Amigos das Crianças com Câncer), para poder decorar as salas com cores, e desenhos diferentes, que também ajudam no tratamento.
O Estado: Quantos funcionários existem atualmente no hospital?
Amilcar: São em torno de 370 funcionários que geram uma despesa por mês de R$ 1 milhão, em média.
O Estado: As obras do novo prédio já foram retomadas?
Amilcar: Retomamos as obras e estamos a todo vapor, mas esta é uma fase mais complicada, que é o acabamento, com assentamento de gesso, pinturas, sendo tudo específico para hospital, que é um material diferente do que é utilizado normalmente em obras, mas nós já conseguimos utilizar o térreo e o subsolo, com atendimento no térreo e a UTI do subsolo.
O Estado: E com a conclusão do prédio, o que isso impacta no tratamento do câncer em Mato Grosso do Sul?
Amilcar: A estrutura do hospital será bem diferente, tanto em acabamento quanto em equipamentos, e com a entrega nós esperamos que traga um outro ânimo para os pacientes, e ainda nós teremos um número maior de internações, pois hoje esse total é limitado: atualmente nós temos em torno de 60 leitos, e com o novo prédio nossa ideia é ter em média 180, mas isso é tudo muito relativo, pois existe a quantidade de camas que o hospital possui e a quantidade que nós conseguimos colocar para funcionar, porque existem aqueles que entram hoje e por vezes não têm previsão para sair, mas, caso nós tenhamos a possibilidade de colocar para funcionar 180 leitos, nós iremos ter condições de triplicar o nosso atendimento.
O Estado: Existe como fazer uma comparação com o atendimento oferecido no Hospital de Câncer de Mato Grosso do Sul com o que existe em Barretos?
Amilcar: Na verdade o tratamento é o mesmo em todas as instituições, a diferença é que a unidade de Barretos conseguiu uma fama muito grande, claro, eles possuem capacidade e uma estrutura muito excelente, e nós mantemos os médicos em contato o tempo todo, por intermédio de videoconferências, para relatar como foi o tratamento, trocando experiências e informações e tudo mais.
(Texto: Amanda Amorim)