Especialista explica os impactos do clima severo e dos fenômenos El Niño e La Niña na queda da safra
A safra de grãos de 2024 será desafiadora tanto para o Brasil quanto para Mato Grosso do Sul. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) estima que a produção estadual de grãos, que representa 6,8% do total nacional, acompanhe a queda projetada de 6,7% na produção brasileira, prevista para totalizar 294,3 milhões de toneladas. No comparativo, o país deverá produzir 21,1 milhões de toneladas a menos que em 2023, impactado principalmente pela redução nas safras de milho e soja.
A reportagem do O Estado conversou com o economista Staney Barbosa, do Sindicato Rural de Campo Grande, para entender os impactos dessa retração e as perspectivas para o setor no Estado. Barbosa destacou que fatores climáticos têm desempenhado um papel crucial nesse cenário. “Os anos de 2023 e 2024 foram muito duros para a produção agrícola do Estado.
Tivemos períodos de El Niño de grande intensidade, seguidos de La Niña, com chuvas irregulares e uma estiagem muito severa. Todo este quadro contribuiu para a redução da produção agrícola do Estado.”
Apesar do retorno anual, a estimativa de novembro indica um crescimento de 0,2% na produção nacional em relação a outubro, com incremento de 545,5 mil toneladas. Para Mato Grosso do Sul, o milho e a soja continuam como protagonistas do agronegócio, embora ambos devam sofrer redução na produção em 2024: a soja, principal grão cultivado no Estado, deverá registrar uma retração de 4,7% na produção nacional, enquanto o milho terá queda de 11,9%, resultado da baixa produtividade tanto na 1ª quanto na 2ª safra.
Área cultivada em alta
Enquanto a produção apresenta retração, a área cultivada em Mato Grosso do Sul acompanha a tendência nacional de expansão. Em 2024, o Brasil terá uma área colhida de 79,1 milhões de hectares, aumento de 1,6% em relação ao ano anterior. Entre as culturas com maior incremento no país, destaque para o algodão, com alta de 16,2% na área plantada, e para o feijão, que crescerá 7,1%.
Segundo o economista, essa expansão da área cultivada reflete a resiliência do produtor rural. “A atividade agrícola é uma atividade de alto risco. O produtor é, por natureza, tolerante ao risco e consegue manter expectativas positivas mesmo diante de um período turbulento como esse. Ele reinveste em sua atividade e está sempre expandindo seus negócios. Além disso, incentivos à recuperação de áreas degradadas, métodos mais modernos e a necessidade de ser competitivo no mercado também contribuem para essa expansão. No fim, tudo se resume à resiliência e à expectativa de que o futuro vai dar certo.”
Perspectiva para 2025
Para 2025, o IBGE projeta recuperação. A produção nacional deve atingir 314,8 milhões de toneladas, um crescimento de 7% em relação a 2024. Essa retomada será impulsionada pela soja, com expectativa de alta de 12,9%, e pelo milho da 1ª safra, que deve crescer 9,3%. Mato Grosso do Sul, com seu papel significativo na produção brasileira de grãos, também deve se beneficiar dessa tendência, especialmente com a ampliação da produtividade.
Barbosa aponta que, apesar do cenário otimista, os produtores devem ter cautela. “A volta da regularidade das chuvas é uma notícia muito animadora para todo o setor. Aqui no Estado, a expectativa é de aproximadamente 14 milhões de toneladas. No entanto, estamos em um momento de elevação dos custos de produção e preços dolarizados, o que exige atenção.
Para ele “é crucial operar ferramentas financeiras como seguros e hedge para proteger o negócio, além de adotar métodos que reduzam desperdícios e melhorem a eficiência. Em momentos de pico de colheita, como março e abril, haverá pressão de queda nos preços, o que exige estratégias bem definidas para garantir margens”.
Centro-Oeste mantém liderança
A Região Centro-Oeste continua sendo a principal produtora de grãos do país, concentrando 49,3% do total nacional em 2024. Dentro da região, Mato Grosso lidera com 31,2% da produção nacional, seguido por Goiás (11,0%) e Mato Grosso do Sul (6,8%).
Sobre a relevância da região, o economista é enfático: “Somos o celeiro do Brasil. Nosso Estado foi pensado e planejado para ser uma liderança na produção agrícola. Fazemos isso com vocação, aproveitando nossas vantagens comparativas, como terra fértil e tecnologia de ponta. Apesar dos desafios, seguimos firmes, mantendo nossa liderança no cenário nacional”.
Por Djeneffer Cordoba