Obra ainda ressalta a importância das políticas públicas do Estado para o segmento
Para a leitura e a produção literária crescerem em uma localidade, elas precisam fazer parte das políticas públicas de Estado. É nisso que acredita o pesquisador e professor Vanderlei dos Santos, que lança nesta quinta-feira (21), a partir das 19h, na Biblioteca Pública Estadual Dr. Isaías Paim, o livro “A Literatura nas Políticas Públicas de Estado do Brasil e de Mato Grosso do Sul: A Produção, a Circulação e a Promoção da Leitura”, que teve financiamento do Fundo de Investimentos Culturais (FIC-MS).
Conforme a pesquisa ‘Retratos da Leitura no Brasil’ realizada pelo Instituto Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria) e pelo Instituto Pró-Livro, a leitura de livros está sendo menos praticada pelos brasileiros: 53% dos entrevistados na pesquisa não leram nem mesmo parte de uma obra nos últimos três meses. É a primeira vez que o levantamento conclui que a maioria dos brasileiros não lê livros.
Ainda segundo a pesquisa, o Brasil tem atualmente 93,4 milhões de leitores, mas nos últimos quatro anos, houve uma redução de 6,7 milhões de leitores no país. O Centro-Oeste possui 47% de leitores, sendo Mato Grosso do Sul o segundo Estado que menos lê, com 40%, perdendo apenas para o Mato Grosso, com 36%.
E, um dos destaques, é o fato que a escola não é mais o espaço de leitura. Em 2007, primeiro ano da pesquisa, 35% citaram o local como local onde mais havia lido; em 2011 o número cai para 33%, em 2015 são 25%, 2019 marcam 23% e em 2024 apenas 19% responderam que leem na escola, o menor índice registrado. O dado também é confirmado no percentual de leitores por idade escolar, onde quem está no Ensino Médio, – ano do Enem – também apresentou queda na leitura.
“Se o aluno tem acesso ao livro no Ensino Fundamental, se ele consegue entender o lugar que ele vive, se ele tem esse conhecimento, tem muito mais condições de pensar. A leitura é fundamental, cada um deve ler conforme tiver oportunidade, seja no físico ou no digital, mas o que não pode é a pessoa passar pelo processo de formação sem a leitura. Nós não conseguimos hoje em dia conviver bem na sociedade sem leitura. Até para ser raso você precisa ler, que dirá para mergulhar em águas mais profundas”, destaca o professor Vanderlei, autor do livro ‘A Literatura nas Políticas Públicas de Estado do
Brasil e de Mato Grosso do Sul: A Produção, a Circulação e a Promoção da Leitura’.
Dos 28 livros mais listados, ‘Turma da Mônica’ fica em terceiro lugar, com a Bíblia ocupando o primeiro e ‘O Pequeno Príncipe’ em seguida, que possui dez obras nacionais citadas.
Incentivos
Para Vanderlei, o incentivo à leitura e à escrita abre as portas do conhecimento e proporciona recursos, tanto para estudantes como para a sociedade em geral. “Eu penso que o livro é o registro daquilo que produzimos, daquilo que a sociedade fez ou de como ela foi. Todos nós, em nosso processo de formação, precisamos saber como a sociedade caminhou, como se comportou, e é isso que o livro nos dá. Ler é conhecer a própria história, e conhecendo o que já se fez vai se conseguir pensar e projetar um futuro para você e para a sociedade como um todo. A leitura não é uma tarefa só das matérias de Literatura ou Língua Portuguesa, é de todas as disciplinas, pois todas dependem dela”, resume.
A obra trata da importância da produção e da circulação literária e da promoção da leitura como políticas públicas de Estado, ou seja, a partir de projetos que contam com apoio e recursos do governo, seja ele estadual ou federal. “Acredito que de maneira geral a gente tem tido resultados bastante positivos, tem desafios a serem enfrentados, mas é a partir do fomento que os produtores terão condições de alavancar a economia criativa e caminhar com as próprias pernas”, detalha Vanderlei.
Caminhos
“A motivação da escrita do livro surge a partir da pesquisa acadêmica. Eu tinha feito na graduação pesquisa sobre política cultural para Mato Grosso do Sul de forma geral, abarcando todos os segmentos artísticos e culturais do Estado, e durante o processo de pesquisa já havia identificado que estudos nessa área da literatura eram muito raros de se identificar. Por conta dessa lacuna, decidi fazer a pesquisa”, explica o autor.
Ele ainda relembra que, também percebeu que precisava entender sobre as políticas culturais para a literatura em um nível nacional, e em como elas podem influenciar Mato Grosso do Sul.
“É preciso entender como se desenvolveu em âmbito nacional para depois pensar como isso chega em MS, que é um estado recente. Eu tive que fazer uma investigação de como ocorreu essa política no Brasil desde os primórdios até 2017, um processo histórico longo, e tive que encontrar pedaços dessa linha histórica em diversas áreas do conhecimento”, recorda.
“Tem bastante coisa que já foi feita, tem bastante coisa sendo feita, mas ainda tem bastante por fazer. Governo e sociedade como um todo tem um grande desafio: fazer a gestão da avaliação, política cultural tem que acompanhar o momento e a modernização. Tem que se pensar como garantir acesso das minorias à publicação de suas produções”, complementa.
Solo pantaneiro
Em Mato Grosso do Sul, um dos destaques é justamente a iniciativa que agora financia o livro, o Fundo de Investimentos Culturais, responsável pela produção e circulação de milhares de obras desde sua criação, em 2002. O local escolhido para o lançamento do livro também é uma iniciativa de destaque, a Biblioteca Pública Estadual Dr. Isaías Paim, que conta com um acervo com mais de 44 mil publicações, entre periódicos, livros e obras raras, disponíveis para consulta e empréstimo, incluindo muitos livros regionais. “Tudo isso é um resultado prático do que o livro apresenta. Entender o que já foi feito e como foi feito ajuda a argumentar para pleitear determinadas políticas”, diz o autor.
Eu acredito que a produção literária regional precisa fazer parte dos textos que os alunos leem em sala de aula. Manoel de Barros é referência, mas MS não é só Manoel de Barros, tem diversos escritores de diversos gêneros literários que são muito bons e que deveriam também estar em sala de aula. Ainda falta a produção regional de MS chegar às bibliotecas e falta os professores que lidam com literatura nas mais diversas disciplinas apresentarem essas produções. A gente precisa ler quem nós somos, porque temos um costume de ler o que os outros são, o que São Paulo é, o que os Estados Unidos é, mas primeiro a gente precisa ler quem nós somos”, completa.
Serviço
O livro “A Literatura nas Políticas Públicas de Estado do Brasil e de Mato Grosso do Sul: A Produção, a Circulação e a Promoção da Leitura”, do pesquisador e professor Vanderlei dos Santos, publicada pela Life Editora, será lançado nesta quinta-feira (21), a partir das 19 horas, na Biblioteca Pública Estadual Dr. Isaías Paim, que fica na Av. Fernando Corrêa da Costa, nº 559 – Centro (térreo). Evento aberto ao público e com entrada gratuita.
Por Carolina Rampi
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