Produção no Estado registrou retração de 0,52% de janeiro a setembro comparado ao mesmo período do ano passado
Com previsão de aumento por parte de especialistas do setor do agronegócio, o preço do leite captado em setembro seguiu em alta. De acordo com a pesquisa nacional realizada pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da Esalq/USP, o preço do produto em setembro alcançou R$ 2,8657 por litro, representando um aumento de 3,3% em relação ao mês anterior e uma elevação de 33,8% em comparação a setembro de 2023.
A pesquisa indica que embora o valor pago ao produtor por litro de leite tenha apresentado um crescimento real de 36,4% desde o começo de 2024, a média entre janeiro e setembro deste ano, que é de R$ 2,58 por litro, ainda é 4,7% inferior à registrada no mesmo período de 2023.
Diferentemente do cenário nacional, em Mato Grosso do Sul a produção e preços de produtos advindos do leite se mantém em queda. Dados da Semadesc sobre o Índice do Leite apresentam que os preços para a cesta de produtos lácteos do MS como um todo teve uma variação de 0,92% no mês de Setembro/2024 comparado ao mês imediatamente anterior. Em relação ao mesmo mês do ano passado (2023), obteve-se uma diferença de 8,51 pontos percentuais.
O Secretário-Executivo da Câmara Setorial do leite do MS, Orlando Serrou Camy explica que mesmo com que o preço do leite pago ao produtor tenha recebido um aumento registrado em 12,6% no último trimestre, o Estado voltou a registrar uma queda a partir de setembro.
“Normalmente, no período de seca os preços para o produtor se elevam, porque os laticínios precisam manter o fornecimento no mercado e os produtores fidelizados. Mas o mercado tem um teto de preço, conforme a realidade da economia. No momento estamos com o poder de compra caindo. Então, as indústrias não conseguem repassar todo o custo, tendo que reduzir os valores agora”.
Para o secretário, o período da estiagem e mudança das pastagens são fundamentais para influenciar na alteração de preços no mercado do leite. “Anualmente o preço do leite oscila entre o período das águas e a seca em razão da mudança da qualidade da pastagem, que leva a uma redução na quantidade de leite produzido pelas vacas”. Além desses fatores, Orlando afirma que a oferta e demanda dentro do mercado nacional e estadual também são fatores fundamentais para mudança de preços.
“Outro fator é a natureza do mercado, a oferta e demanda, influenciada pela renda das famílias. Este ano temos, também, o fator importação de leite pelas grandes redes do varejo, que ficou mais elevada que ano passado, pressionando os preços no mercado nacional”.
O economista Lucas Mikael afirma que as mudanças nos preços do leite podem impactar significativamente a inflação e a economia de Mato Grosso do Sul, uma vez que o leite é um item básico na cesta de consumo das famílias. “O aumento nos preços do leite podem elevar o Índice de Preços ao Consumidor, pressionando a inflação geral e reduzindo o poder de compra das famílias, que podem ter que destinar uma parte maior de sua renda para produtos lácteos, sacrificando outras despesas. Podendo beneficiar os produtores locais, aumentando seus rendimentos e incentivando investimentos no setor, porém levando a uma redução na confiança do consumidor e impactar a política monetária, resultando em taxas de juros mais altas. Com isso os efeitos dos preços do leite reverberam por toda a economia, influenciando o consumo, a produção e o equilíbrio da balança comercial”.
Captação de leite em MS
De acordo com o Boletim da Bovinocultura de Leite, realizado pela Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de MS), a coleta de leite no Estado, entre janeiro e setembro deste ano, registrou um total de 124,24 milhões de litros. Esse volume atual representa uma redução de 0,52% em comparação ao mesmo período de 2023, quando a captação foi registrada em 124,89 milhões de litros.
A pesquisa analisou cerca de 1.252 produtores atendidos pela ATeG na área de Bovinocultura de Leite em MS. Dentre esses produtores, mais de 60% vendiam leite para indústrias, enquanto 37% se dedicavam à produção de derivados lácteos (queijo e outros produtos). O preço médio do leite recebido por esses produtores foi de R$ 2,36, o que está abaixo da média nacional.
Na análise do especialista Orlando Serrou, a baixa na produção é resultado de um longo período de seca em Mato Grosso do Sul, oque interfere na alimentação dos animais e na quantidade de leite que é produzido. “Em MS houve queda constante da produção devido aos custos elevados em toda a cadeia produtiva, mas a seca dos últimos 2 anos afetou grandemente a oferta de pasto, matéria prima do leite. Com menos pasto de qualidade, menos leite. Por outro lado, há desistências também, produtores que param com a atividade por não conseguirem a renda esperada ou pela falta de mão de obra”.
O secretário ressalta que este período de dificuldade ao trabalhar na captação de leite, faz com que haja uma mudança no perfil dos profissionais da área. “A cadeia do leite está mudando o perfil dos produtores, está ocorrendo investimento para aumento da escala de produção da propriedade, tanto em quantidade de vacas em lactação quanto em melhoria genética do rebanho”. Em sua opinião, o cenário pode sim melhorar para os produtores, porém a tendência será dos custos se manterem em alta por um certo período. “A tendência é um crescimento no volume até meados de 2025 em razão da melhoria da forragem nos pastos, mas o cenário econômico preocupa, porque os custos tendem a se elevar mais”.
Por João Pedro Buchara
Confira as redes sociais do O Estado Online no Facebook e Instagram