Mais barato e menos poluente, etanol é escolha de grandes empresas

(Fotos: Marcos Maluf)
(Fotos: Marcos Maluf)

A opção gera uma economia de R$ 30 mil

Enquanto alguns motoristas resistem aos mitos em abastecer com etanol, na outra ponta grandes empresas encontram no combustível uma forma de economizar e contribuir para o ar que respiramos. É o caso de uma locadora de veículos localizada na Avenida Afonso Penas em Campo Grande, a gerente conta que todos os 400 carros que a empresa trabalha atualmente, são abastecidos com etanol, prática que resulta em uma economia em torno de R$ 30 mil em comparação com o gasto que teria optando pela gasolina.

“A preocupação da empresa é em ambos benefícios, tanto o econômico quanto a questão sustentável. Nossa locação diária trabalha com uma frota de 400 carros, e abastecemos em média de 40 à 45 litros”, calcula a gerente. Em Campo Grande, o preço médio do etanol é de R$ 3,50 conforme levantamento feito pelo jornal O Estado em oito postos de combustíveis. Enquanto o litro da gasolina custa R$ 5,39 em média.

Através desses dados, a empresa tem um gasto de R$ 56 mil por mês abastecendo com etanol. Mas caso o estabelecimento optasse em abastecer com a gasolina o valor dessa conta subiria para R$ 86 mil. Ou seja, além da escolha sustentável, no fim das contas a empresa consegue economizar cerca de R$ 30 mil.
Outra empresa que está ligada nos benefícios do biocombustível é o Sistema Famasul, que desde setembro de 2023 abastece toda sua frota com 100% de etanol. O presidente da Instituição, Marcelo Bertoni esclareceu que os 12 veículos são flex e percorreram juntos 371 mil quilômetros, resultando na emissão de 93 toneladas de gás carbônico equivalente. Para este ano, a previsão é que 54 toneladas do gás sejam evitadas com a mesma frota, abastecida 100% por etanol.

“Para estimular o consumo consciente e a valorizar o etanol produzido no estado a partir da cana-de-açúcar e do milho. Além disso, o etanol é um biocombustível limpo e renovável capaz de reduzir até 90% os gases de efeito estufa, como dióxido de carbono (CO2), quando comparado a gasolina, sendo fundamental na transição energética para um modelo de economia global de baixo carbono e menor impacto ambiental”, comentou o dirigente da Famasul, sobre o motivou a optar pelo abastecimento com o álcool.

Mas afinal como saber se de fato estamos gerando uma economia em nosso orçamento? Conversamos com o economista e professor da UFMS, Odirlei Dal Moro, que explicou uma continha básica para saber qual combustível rende mais quilômetros percorridos. “O consumidor tem que pegar o preço do álcool e dividir pelo preço da gasolina. Se o resultado for menor ou igual a 0,70% é porque compensa abastecer com álcool. Se for maior que 0,70% compensa abastecer com gasolina”, calcula.

Dal Moro, detalha ainda que existem inúmeras variáveis que interferem no consumo do combustível por parte dos veículos. Ou seja, o rendimento de 70% (segundo o cálculo) do álcool em relação à gasolina varia muito de veículo para veículo. E a forma como o veículo é conduzido, se anda e pára muitas vezes, por exemplo. Se é um veículo automático ou não, depende da potência do veículo, se o percurso é na estrada ou se é na cidade.

Biosul

A produção de etanol em Mato Grosso do Sul nas últimas quatro safras da cana-de-açúcar, somaram mais de 10,9 milhões de litros produzidos no estado, segundo dados da Biosul (Associação dos Produtores de Bioenergia de MS). Resultado este que evitou que mais de 12,7 milhões de toneladas de CO2 (dióxido de carbono) fossem emitidos para a atmosfera. Esse cenário revela o processo produtivo cada vez mais eficiente nas usinas de bioenergia certificadas no RenovaBio – Programa Nacional de Biocombustíveis neste período.
Para o presidente da Biosul, Amaury Pekelman, o número reflete o ganho ambiental que o setor de bioenergia representa para o Estado e na agenda de transição energética do País. “A sustentabilidade do etanol não está apenas no consumo do biocombustível, que é 90% mais limpo que o concorrente fóssil, ela é do poço à roda (conceito que considera todo o ciclo de vida do combustível). E o RenovaBio é um programa que estimula ainda mais as usinas a tornarem o seu processo de produção cada vez mais eficiente, provocando inovação no setor que, consequentemente, eleva a sua nota no programa e gera mais Cbios (Créditos de Descarbonização). As usinas de MS abraçaram o programa e hoje toda a sociedade se beneficia”, destaca o presidente.

Pelo programa, cada crédito de descarbonização corresponde a 1 tonelada de CO2eq. evitada na atmosfera. Para se ter uma ideia, o volume representa a absorção feita por cerca de 89 milhões de árvores plantadas e mantidas de pé por 20 anos, o que seria representado por uma área equivalente a 1.584 campos de futebol. No primeiro ano do RenovaBio, em 2020, todas as usinas em operação no Estado passaram pelo processo de certificação executado pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). Após o terceiro ano, as unidades passaram pela renovação do título e todas elas permanecem certificadas pelo RenovaBio.

“A auditoria da agência reguladora faz a avaliação da quantidade de carbono emitida em cada fase de produção do etanol, da área agrícola até a frota de veículos utilizada por unidade, atestando todas as práticas sustentáveis aplicadas na produção do etanol no nosso Estado”, explica Pekelman. Entre os requisitos do RenovaBio, está a proibição do uso de áreas de desmatamento ou de supressão de vegetação nativa.

Novos investimentos e produtos

O perfil de produção de bioenergia no Estado conta com 19 unidades em operação. Todas são produtoras de etanol hidratado, 11 produtoras de anidro, 2 produtoras de etanol a partir do milho, 10 produtoras de açúcar. Todas cogeram bioeletricidade, energia elétrica gerada a partir da biomassa da cana, sendo 13 usinas exportadoras do excedente para a rede nacional de energia elétrica, que chega a milhares de residências pelo Brasil.

Em 2022, o Estado deu início a produção de etanol de milho que trouxe um incremento de 25% na produção do biocombustível na última safra, até então produzido a partir da cana-de-açúcar. Esse potencial deve aumentar neste novo ciclo com o início das operações da unidade Neomille, do Grupo CerradinhoBio, no município de Maracaju, e da segunda unidade da Inpasa, em Sidrolândia, em fase de instalação.

Outros dois projetos voltados para a cana-de-açúcar também avançam no Estado. Em Paranaíba, a Usina Cedro, do Grupo Pedra Agroindustrial, deve entrar em operação ainda em 2024. Recentemente, foi anunciado também investimento do Grupo Agroterenas para reativação da antiga Usina Aurora, em Anaurilândia.

São R$ 5,3 bilhões em investimentos de novas plantas e ampliações anunciados pelo setor bioenergético para Mato Grosso do Sul, segundo o presidente da entidade. “São investimentos que serão transformados em novas oportunidades de empregos e desenvolvimento econômico para as pessoas que vivem aqui”, destaca.

Mitos sobre o etanol

Questionamos o engenheiro mecânico, Marco Aurélio Cândia, sobre se é mito ou verdade que o etanol causa danos para os automóveis. “No Brasil, a maior parte dos carros novos já são flex, o que não atrapalha em nada. O problema são carros e motos antigas, que eram só a gasolina, eles sofrem mais com a corrosão do etanol. Os importados também sofrem com a adição de etanol na gasolina”, ponderou.

Marco Aurélio explicou também a diferença da combustão da gasolina em relação ao etanol. “A combustão do etanol e da gasolina são diferentes. A combustão do etanol é uma combustão mais limpa. É um combustível mais amigo do meio ambiente. Enquanto que a gasolina polui muito devido ao carbono lançado na atmosfera, o álcool etanol não. Então é a função mais amiga do ambiente. Por isso que está adicionando etanol na gasolina pra ficar um combustível menos agressivo ao meio ambiente.

Preços

Para observar o comportamento dos preços aplicados sobre o litro do etanol e da gasolina, a reportagem do jornal visitou oito estabelecimentos: Na Avenida Costa e Silva, no posto Kátia, o consumidor paga R$ 5,44 no litro da gasolina e R$ 3,49 no etanol. Em outra unidade, localizada na Av. Júlio de Castilho o litro custa R$ 3,45 (etanol) e R$ 5,35 (gasolina). Em outro ponto na mesma avenida a gasolina comum é vendida por R$ 5,29/ litro e R$ 3,35 o etanol.

Em outro posto de combustíveis, localizado na Av Calógeras, o litro da gasolina sai por R$ 5,69 no local não é comercializado etanol. Outro estabelecimento na Rua Dolores, no bairro Vila Sobrinho o litro da gasolina custa R$ 5,42 e R$ 3,49 o etanol. Outro posto na Marechal Rondon com a Rua Almirante Barroso os valores são repassados para o consumidor por R$ 5,49 e R$ 3,49 (Gasolina e etanol). No posto Ipiranga da calogeras, o cliente paga no litro do etanol R$ 3,36 e gasolina R$ 5,34. Em outro posto Taurus, o litro da gasolina é vendido por R$ 5,39.

 

Por Suzi Jarde 

 

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