“Nada Sobre Nós sem Nós” é o bloco carnavalesco que – depois de dois anos – agora faz parte da Associação de Blocos e Cordões Carnavalescos de Campo Grande (Ablanc). No sábado acontece o concurso de marchinhas e o esquenta de mais um carnaval inclusivo.
“Foi feito para não só nós deficientes visuais, mas como também outras classes de deficiência, já nisso incluindo família, amigos e simpatizantes. Nós somamos para mostrar para a população que a gente também pode brincar o Carnaval com muita alegria e disposição”, explica Damião Zacarias, deficiente físico visual, sambista e voluntário do Corpo de Bombeiros, e idealizador desse movimento.
Da ligação pessoal com a arte e o samba, aponta: “Eu venho de uma família de músicos; faço parte da banda de voluntários do Corpo de Bombeiros, sendo o único deficiente no meio. Foi uma brincadeira da mesa, que eu falei: por que não montar um bloco de deficientes? Passei a ideia para o Oscar, que abraçou essa também”.
“Ano passado deram 196 pessoas e, este ano, saímos como bloco oficial, disputando com os outros. Sábado é a escolha e o resultado será apresentado próximo do dia 4 (fevereiro), próximo do aniversário do Instituto Sul-Matogrossense para Cegos Florivaldo Vargas (Ismac)”, conta Damião.
Oscar Martinez, jornalista e voluntário do Ismac ainda destaca: “O concurso foi criado por nós, eu e o seu Damião, com o objetivo de ter uma marchinha, uma melodia com as nossas características, um refrão que remetesse às propostas do bloco em dar visibilidade às causas da pessoa com deficiência, acessibilidade à participação a toda e qualquer manifestação cultural”.
“Muitos das pessoas que talvez não brincavam é porque os espaços não ofereciam alguns pré-requisitos essenciais, como calçadas, banheiros, pisos com acessibilidade”, aponta o jornalista.
Da realização da ideia, o jornalista ainda destaca: “A escola de samba GRES Os Catedráticos do Samba, em seus temas, já incluiu o Instituto dos Cegos como homenageados e tem como componentes pessoas com deficiências, cadeirantes, cegas, etc… parceira do bloco”.
“Como bloco oficial vamos para a rua. Eu fico muito grato por saber que posso ser útil para algum movimento. E mostrar para os colegas que a gente pode se divertir, sair e mostrar para a sociedade que deficiente não fica só em casa. Muito pelo contrário. É para mostrar para as pessoas que somos capazes de ir, rir, brincar o Carnaval. Não somos limitados”, faz questão de ressaltar Damião Zacarias.
Das dificuldades, Damião aponta que, com a vida de músico: “Já tocava nas noitadas e nunca vi a dificuldade pra mim. E mesmo que houvesse, a gente passa por cima. Eu acho que estou ajudando as pessoas que achavam não serem capazes. Que se sentiam excluídas”.
“Antes o carnaval era na ferrovia e foi mudado até de lugar por causa da acessibilidade, não só para nós deficientes, por conta da bengala, como para os próprios cadeirantes. Agora, parece que vai ser na 14, com o asfalto liso, que dá mobilidade para todos irem brincar. Muitos vão apoiar, levando água, o que precisar, então tem uma estrutura boa para a família inteira e amigos abraçarem a causa e virem juntos”, diz ainda Damião.
Finalizando, o sambista, em nome do bloco, deixa um recado dizendo: “Meu desejo é de que todos brinquem com alegria, saúde e disposição”.
(Texto: Leo Ribeiro)