Em expansão, eventos de fomento à “economia criativa” sofrem com falta de apoio público
Em Campo Grande, as chamadas feiras culturais têm se mostrado um componente cada vez mais importante para o fomento da economia local. A presença de eventos como a Feira da Bolívia, Feira Bosque da Paz e da recente Feira Ziriguidum, que se iniciou em 2023 e está em sua 6ª edição, impõe um cenário criativo fértil para os artistas que visam empreender com trabalhos autorais na Capital.
Com a movimentação crescente, organizadores pontuam a geração de emprego e renda, que ajudam a girar a economia e fazer da cidade um ambiente acolhedor e próspero, inclusive nas finanças. No entanto, destacam que, mesmo com todos os benefícios trazidos pelos eventos, ainda sofrem com a falta de apoio do Poder Público.
Com uma movimentação de 1500 pessoas em média, a Feira Ziriguidum, que parte para sua 6ª edição, acontece todo 1° sábado de cada mês. Ao visar o fomento da economia e das finanças, foi através do evento, que as organizadoras Luanna Peralta, Aline Marcello, Thainá Sangali e Gabrielly Antonietta viram a possibilidade de desenvolver na Capital a chamada economia criativa, que gera desenvolvimento econômico e empregabilidade para os artistas da Capital. “As feiras de economia criativa são essenciais para o desenvolvimento econômico e empregabilidade e isso vem crescendo cada vez mais. Além disso, nossa feira Ziriguidum foca na parte cultural, onde abrimos espaços de fala, onde acontecem intervenções artísticas e isso fomenta a cultura da cidade”.
Mesmo com toda a mobilização que as feiras como a Ziriguidum geram na cidade, a organizadora desabafa que sente falta do apoio de órgãos públicos. Afinal, na atualidade, são cerca de 90 expositores que podem contar apenas com o apoio de quatro mulheres com muita vontade de empreender e dos apoiadores assíduos. Um dos apontamentos de Peralta, inclusive, trata sobre o cadastro de artistas aberto pela Sectur (Secretaria Municipal de Cultura e Turismo), que supostamente seria para fomentar eventos como a feira, ao ceder um cachê aos artistas. “Precisamos desse apoio com estrutura e cachê para artistas, já que nós movimentamos a cidade de alguma forma. Nossa feira não é centralizada, optamos pelo bairro porque a maioria das feiras existentes acontecem no centro ou arredores. Estamos ocupando uma praça maravilhosa e esquecida”, observa a organizadora.
A presidente da Adamas (Associação das Meninas) e organizadora do da Feira do Bosque da Paz, Carina Zamboni, argumenta que por mês, o evento movimenta R$ 600 mil. No apurado de todo o ano de 2023, conforme a organizadora, foram movimentados de forma distribuída, mais de R$ 7 milhões. Mesmo com os números positivos, a feira ainda sofre com a falta de apoio da prefeitura e com represálias da Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito). “A feira vem sofrendo com a falta de cuidado da prefeitura, principalmente da Agetran, que tem dificultado o nosso trabalho. Pedimos ajuda para organizar o trânsito – e não atrapalhar a rotina dos vizinhos desde setembro de 2022 – e o que conseguimos foi a praça [com o meio-fio] todo pintado de amarelo, impedindo inclusive o expositor de descarregar suas mercadorias. Os agentes vão até lá apenas para multar os expositores enquanto descarregam os veículos. Em reunião com o secretário de Governo, tínhamos combinado que só seria proibido parar e estacionar após às 9h – início da feira”, lamenta a organizadora.
Conforme relata Zamboni, a situação com a Agetran-MS se agrava no contexto, a partir do momento em que afasta as pessoas que gostam de participar e fomentar o comércio e a cultura da cidade. “Seria de extrema importância para a gente falar desse assunto. A cada mês está mais difícil essa situação, que tem afastado clientes e expositores. A feira é a principal fonte de renda de muitas famílias que estão ali e são famílias inteiras trabalhando em um único espaço. Tem expositores mudando de vida com a visibilidade que ganham por estarem ali e as vendas não acontecem só nos dias de feira, eles também fazem clientes que passam a acompanhá-los”, relata a organizadora.
Economia criativa na prática
Para a artista e proprietária da loja “Coisas de Alucha”, Andrea Lucia Chaves, apelidada de Alucha, expor os produtos na feira mensalmente faz total diferença nas finanças. Conforme argumenta, desde o período da pandemia, se manter com os trabalhos autorais tem sido uma montanha russa. No ano passado, ela relembra que começou a participar da feira Ziriguidum e, desde então, tem sentido um retorno positivo que possibilita a continuidade de seu trabalho. “A ziriguidum é uma das feiras que eu mais vendo, seja pelo público que é bem diverso e combina com que eu vendo – já que a diversidade impera nos meus produtos ou pelo fato de que o movimento só aumenta a cada edição. Mês passado eu não pude ir e pesou no meu orçamento, fez falta. Diante de tudo isso posso afirmar que a Ziriguidum tem me ajudado e muito. Sem falar que a vibe dessa feira é contagiante, tudo de bom e a organização feita por mulheres tem muito acolhimento”, afirma, ao pontuar que em sua banca, é possível encontrar itens de R$ 2 a R$ 68.
Economia criativa no Estado
Em 2023, Mato Grosso do Sul apresentou o 1º Plano Estadual de Economia Criativa do País. Após percorrer mais de quatro mil quilômetros divididos entre oito regiões, a Superintendência de Economia Criativa, detalhou, no dia 5 de dezembro, no auditório do Sebrae, o primeiro plano colaborativo para o setor do Brasil.
Na formação do Plano MS+Criativo, foram discutidas estratégias por representantes de Corumbá, Naviraí, Ponta Porã, Rio Verde, Campo Grande, Bonito, Dourados e Três Lagoas. No primeiro semestre de 2023, foi criada a Superintendência de Economia Criativa, pasta ligada à Setescc (Secretaria de Estado de Turismo, Esporte, Cultura e Cidadania). Conforme um dos maiores especialistas do País, Décio Coutinho, a economia criativa se define pela junção de três elementos essenciais, sendo eles a cultura, tecnologia e economia sob as bases da criatividade e talento humano.
Por Julisandy Ferreira.
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