Sol forte afeta cultivo e calor intenso castiga produção de hortaliças

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Foto: Divulgação

O calor excessivo que chegou em Mato Grosso do Sul tem impactado diversos setores. Dentre eles, um dos segmentos que apresentam mais força dentro do Estado, a agricultura.

Seja na cidade ou no campo, aqueles que sobrevivem do cultivo precisam, diariamente, encontrar meios para driblar os contratempos que surgem. O castigo maior é quando as folhas queimam.

Sistema de irrigação, local do plantio e controle de pragas são pontos essenciais quando o assunto é levar um alimento de qualidade para a mesa do consumidor.

A agricultora familiar Erinalda, de 58 anos, tem sentido na pele os desafios de cultivar durante o período seco. Ela tem uma horta no Portal Caiobá, Rancho Alegre. Com alimentos plantados direto na terra e sem o sistema de sombrite – que ameniza o contato do sol com o plantio –, a produtora explica que o calor propicia o surgimento de fungos, desacelera o crescimento de alguns e traz prejuízos a outros. “Eu produzo aqui faz cinco meses. Rúcula, coentro e alface não crescem. A alface americana, mesmo, fecha a cabeça e apodrece rápido. Fora o acesso de lagartas e purgão”, pontua.

O proprietário da Horta do Vizin, Bruno Franco, explica que, com a chegada do calor, teve que se adaptar, para não deixar que o seu plantio seja afetado. “Com esse calor tive que aumentar a irrigação. Antes, por exemplo, eu regava a horta apenas uma vez ao dia e no final da tarde. Agora, estou regando umas três vezes durante o dia, para não perder a produção de alface. A gente sempre tenta se preparar para as intempéries, mas ninguém esperava um calor de 40°C, eu, por sorte, tenho sombrite na minha propriedade, mas visitei outros colegas produtores que não têm e estão penando com esse calor”, argumenta Franco.

O agricultor Roberval Sebastião da Silva, 54 anos, é um dos que não contam com a sombrite e produz direto na terra. Localizado próximo à BR-163, na comunidade quilombola Chácara Buriti, o produtor argumenta que o calor intenso realmente tem prejudicado a plantação. “Esse calor apena muito a planta, elas sentem muito, principalmente a alface, elas queimam embaixo porque entra em contato com o solo, então a gente tem muita perda, porque cozinha muito a folha. Se molhar meio-dia, ela esquenta mais ainda, tem que molhar de tardezinha ou de madrugada, por causa do tempo”, esclarece.

Hidroponia

Na Capital, a Vida Gostosa, um empreendimento que é tido também como a primeira fazenda urbana de Campo Grande, busca um cultivo sustentável e mais responsável ecologicamente, ao utilizar produtos biológicos e microbiológicos no controle de pragas e doenças, ou seja, produtos livres de agrotóxicos.

O sócio-proprietário e produtor urbano do empreendimento, Eduardo Klafke, de 33 anos, explica que, com a chegada do calor e até pelo tipo de sistema utilizado, – hidroponia em cultivo protegido, sem contato com a terra –, os produtos ainda não sentiram os efeitos do clima, mas há mudanças nítidas, como, por exemplo, na irrigação. “Produzimos em estufas com sombrites, gerando uma produção perfeita contra os raios de sol de forma direta. Os contras são o maior uso de água nessa época, por evaporação e por consumo direto da planta, e também o controle de fungos que adoram os tempos mais secos. Mesmo assim, conseguimos contornar essas situações sem muita crise e conseguindo manter a qualidade do produto para nossos clientes”, explica.

O sistema hídrico também conta com um diferencial, pois dentro da produção, é economizado 90% de água, se comparado com o gasto obtido na produção de hortaliças na terra. A captação é feita com água da chuva e, em épocas chuvosas, o sistema se mostra tão eficiente que é possível zerar o consumo hídrico que vem da concessionária de abastecimento da cidade.

Klafke admite que cada produção, seja na terra ou na hidroponia, tem seus desafios. “O mais importante é disseminar, entre os produtores, a busca por informações relevantes, para que possamos produzir mais e melhor, entregando produtos de qualidade para a população. Existem várias formas de produzir hortaliças, cada uma com suas peculiaridades e desafios. Eu escolhi trazer uma estrutura de primeira linha e com toda a bagagem, para que trouxéssemos para Campo Grande o que há de melhor no cultivo protegido e sustentável”, pontua o produtor.

As condições climáticas são um dos fatores que encarecem os produtos ao consumidor. No entanto, os preços ainda não aumentaram em Mato Grosso do Sul. Se comparar setembro com o mesmo período de agosto, o valor continua o mesmo.

De acordo com a Ceasa MS (Centrais de Abastecimento de Mato Grosso do Sul), o maço da couve folha continua de R$ 1,50 a R$ 2,50. Espinafre, R$ 3; 30 quilos de repolho roxo está de R$ 60 a R$ 70; maço de rúcula, de R$ 1,50 a R$ 2,50; 7 kg de alface crespa está de R$ 30 a R$ 40.

O encarregado pelo Box Real, Sergio Murici Pinheiro, esclarece que as mercadorias que chegam do campo à Ceasa são transportadas diretamente para a câmara fria. No entanto, o índice de perda com o calor aumenta.

“A mercadoria chega, nós descarregamos na câmara fria. Em média, são perdidas 40 caixas por produto, mas depende. Hoje (ontem) mesmo vai dar umas 40 de pimentão e 40 de outros produtos”, pontuando que os produtos que mais perdem são pimentão, abobrinha e cenoura.

Por Julisandy Ferreira – Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul

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