A rede municipal de saúde tem, aproximadamente, 1,1 mil médicos
A população estimada de Campo Grande, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), é de 895.982 pessoas e, conforme a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde Pública), a rede municipal de saúde conta com, aproximadamente, 1,1 mil médicos, ou seja, um médico para cada 582 habitantes. E, de acordo com o médico psiquiatra, Juberty Antônio de Souza, presidente da Academia de Medicina de Mato Grosso do Sul, o déficit de médicos na rede pública, principalmente, os com especialidades, está relacionada a condição de trabalho e os baixos salários apresentados pelo setor público. O jornal O Estado ouviu município e entidades sobre os principais desafios na Saúde neste ano de 2019, iniciando pelo déficit de profissionais.
“Têm uns exemplos muito claro, quando as pessoas falam que faltam pediatras e ai usam para justificar o problema que existe a falta de profissionais em Campo Grande e isso não é verdade, em Campo Grande não faltam pediatras, mas falta o profissional na rede pública por causa das condições de trabalho, por conta de salário, e a mesma coisa nos verificamos nas outras especialidades, se você precisar de um neurologista, um oftalmologista, na rede pública você não encontra, as especialidades de uma forma geral”, explica.
Ainda conforme Jurbety, uma consulta médica na rede pública custa algo em torno de R$10 se relacionar ao salário e a quantidade de pacientes atendidos. “Se nos pudéssemos quantificar a consulta do médico na saúde pública talvez valesse R$10, se verificarmos os salários apresentados pela quantidade de pacientes que são atendidos. Volta e meia nós verificamos o poder público colocar que médico ganha R$ 30 mil, R$ 40 mil, isso é verdade para meia dúzia, porque fazem 20 plantões por mês, a pessoa não tem vida própria, e são poucos que acontece isso. E, muito frequentemente, os colegas acabam fazendo procedimentos que não são da sua área de formação e sem condições”, detalha.
Outro fator que afasta os profissionais da rede pública de saúde é a estrutura para os atendimentos. Existe uma precariedade que mina os trabalhos. “Em primeiro lugar, o médico precisa de suporte laboratorial que seja rápido, de exames complementares, consultórios em condições de serem utilizados, atualização tecnológica, coordenação de uma forma adequada e que possa fazer com que o profissional tenha condições de atender não de uma forma assoberbada, apressada e fazendo com isso uma consulta que não é de boa qualidade”, ressalta.
Por outro lado, na busca por tentar amenizar o deficit apresentado na rede municipal de saúde, a Sesau realizou em agosto um concurso com 663 vagas para médicos, enfermagem, odontologia e área administrativa. Segundo o titular da pasta, José Mauro Filho, os candidatos aprovados já começaram a ser chamados. ”Foi o maior concurso da história da saúde pública de Campo Grande, com 663 vagas para 34 especialidades médicas, entre outras categorias. Recentemente, iniciamos a convocação dos candidatos aprovados neste processo que irão ser designados para suprir parte do deficit existente, bem como a necessidade das unidades inauguradas recentemente”, garante.
Foi destacado ainda que somente neste mês de dezembro a secretaria entregou quatro unidades de saúde da família, duas que estavam em reformas e duas novas, uma no bairro Cristo Redentor e outra no Arnaldo Estevão de Figueiredo. Cada uma dessas unidades tem, em média, três equipes, ou seja, três médicos. No entanto, Juberty ressalta que novas unidades não ajuda na questão do deficit. “Nesse momento não ajuda a melhorar o deficit, até porque, se formos verificarmos hoje quem trabalha nesta unidade básica de família, ou são recém formados ou médicos em fim de carreira, aposentados que querem ter um plus na aposentadoria. E os médicos da família deveriam ser extremamente bem preparados, porque a UBSF, se funcionasse direitinho, desafogaria todas as outras estâncias”, finaliza.
(Texto: Rafaela Alves)