Indústria de MS enfrenta falta de mão de obra qualificada

Presidente da Fiems,
Sérgio Longen, durante
apresentação dos
resultados industriais/Foto:Divulgação/Fiems
Presidente da Fiems, Sérgio Longen, durante apresentação dos resultados industriais/Foto:Divulgação/Fiems

Saldo de vagas em aberto estava em torno de 20 mil, no ano passado

Um dos principais gargalos que Mato Grosso do Sul tem enfrentado é a falta de mão de obra qualificada. O que torna o cenário ainda mais crítico é a chegada de novas indústrias que têm “roubado” trabalhadores de outros municípios do Estado, para suprir a demanda. O problema já é antigo. Prova disso é que, no ano passado, o setor estava com 20 mil vagas abertas e não conseguia preenchê-las, por falta de trabalhadores aptos.

 Em entrevista ao jornal O Estado, o diretor de Desenvolvimento e Novos Negócios da Arauco, Mário Neto, disse que, realmente, existe uma alta demanda de mão de obra e a expectativa é que a busca cresça cada vez mais. A previsão é que a construção da fábrica, – que terá investimento de R$ 15 bilhões, em Inocência –, comece em 2025. “Essa busca será cada vez maior. Justamente por isso, a capacitação profissional é fundamental e o foco de atenção, em nosso planejamento estratégico”, destacou.

 Para ele, Mato Grosso do Sul está se tornando o polo nacional da celulose, o que faz com que a busca por mão de obra também cresça. “Daí a importância do diálogo com os órgãos governamentais e parceiros, como o Sistema S, por exemplo, para a capacitação da comunidade. Ou seja, o crescimento da busca por mão de obra é uma oportunidade para o Estado e para as cidades onde essas novas indústrias estão se instalando”, completou.

Mário contou também que a equipe já visitou Mato Grosso do Sul para analisar a disponibilidade de trabalhadores para a obra e que a prioridade é contratar pessoas da região, mas, nos casos em que não houver opção, a busca é feita em outras localidades.

 Conforme ele relatou, desde que o projeto Sucuriú foi anunciado, em junho de 2022, cerca de 1.100 novos postos de trabalho foram gerados pela Arauco e preenchidos por profissionais da região. 

Outro exemplo é Ribas do Rio Pardo, que está se preparando para receber a nova fábrica da Suzano. O prefeito João Alfredo Danieze afirmou que existem pessoas de outras cidades do Estado trabalhando na obra, mas que a maioria é do próprio município. Além disso, a prefeitura custeia 22 cursos, em convênio com o Senai, como, por exemplo, segurança do trabalho e construção civil; segurança em instalações e serviços com eletricidade; instalador de energia fotovoltaica, assistente de controle de qualidade, entre outros.

“A mão de obra, para a operação da fábrica, está sendo qualificada. Muitos, inclusive rio-pardenses, já foram contratados pela Suzano”, ressaltou.

 Reflexo

 O presidente da Fiems (Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso do Sul), Sérgio Longen, relaciona o problema com a oferta de benefícios sociais. “Vivemos um apagão de mão de obra. É difícil encontrar, hoje, um empresário que não tenha dificuldade com mão de obra. Entendo que os benefícios sociais precisam ser revistos, entendo que podemos construir uma parceria em ofertar, a esses beneficiários de programas sociais, qualificação para essas pessoas”, ressaltou, durante apresentação dos dados industriais no Estado, na terça-feira (16).

 A situação pode se refletir também na abertura de novas indústrias, em Mato Grosso do Sul. “Entendo que uma grande demanda hoje é a mão de obra. No passado, nós tínhamos problemas financeiros, hoje temos o FCO, que ajuda muito. Mas, entendemos que a grande demanda hoje é a mão de obra”, enfatizou. 

Na visão do consultor empresarial Daniel Cavalheiro, a escassez de mão de obra qualificada ocorre devido a quatro fatores: mudanças no mercado de trabalho, falta de investimento em educação e treinamento, envelhecimento da força de trabalho e migração de profissionais qualificados. 

“Esses fatores acarretam a falta de profissionais com habilidades atualizadas, descompasso entre as competências disponíveis e exigidas, lacunas no conhecimento devido à aposentadoria e lacunas deixadas pela migração de talentos”, pontuou. Ainda segundo análise do profissional, isso gera impacto negativo às empresas, como atrasos na produção, redução da competitividade, aumento dos custos de contratação e retenção, e falta de capacitação, dentro das organizações.

 “Na minha opinião, para enfrentar esse desafio é crucial investir em educação e treinamento, promover parcerias e políticas de desenvolvimento de habilidades, adotar abordagens de longo prazo e, principalmente, investir na retenção de talentos, com vantagens e benefícios”, pontuou.

Mais empresas e emprego

 De acordo com os dados apresentados, a previsão é que a indústria conquiste 11,6 mil novos empregos, até 2028.

 Segundo o relatório apresentado pela Fiems, em Mato Grosso do Sul, os frigoríficos lideram como os que mais empregam, com 32.892 funcionários. Em segundo lugar está a indústria e construção, com 28.372; e em terceiro lugar está a indústria sucroenergética, com 20.012 empregados.

 A projeção é que o ano termine com 6.450 empresas industriais, com crescimento de 3%; em 2024, 6.550 empresas industriais; e 2025; 6.680. 

Entre 2023 e 2028, estão previstos aumento da produção de minério de ferro; reativação de usina sucroenergética; instalação de novas sucroenergéticas; ampliação e instalação de usinas de etanol de milho; construção de novas fábricas de celulose e ampliação da capacidade de abates de suínos. Essas ações serão distribuídas nos municípios de Corumbá, Anaurilândia, Paranaíba, Dourados, Maracaju, Ribas do Rio Pardo, Inocência e São Gabriel do Oeste.

 Em visita a Campo Grande, na segunda-feira (15), a ministra do Planejamento e Orçamento do Brasil, Simone Tebet, enfatizou que a reforma tributária também é importante, para fazer o Brasil crescer. 

PIB

 Enquanto a indústria de Mato Grosso do Sul aumentou sua participação no PIB estadual, de 17% para 21%, a indústria nacional teve sua participação no PIB brasileiro reduzida, de 27% para 23%. 

O PIB industrial deve encerrar 2023 com crescimento nominal de 6,9%, sendo R$ 31 bilhões. Em 2024, R$ 33,3 bilhões, esperando aumento nominal de 7,6%. Em 2025, R$ 35,9 bilhões, com crescimento nominal de 7,7%.

 Entre 2023 e 2024, a estimativa é que sejam investidos R$ 139,7 milhões na construção, reforma e ampliação de unidades do Sesi e do Senai, na Capital e no interior do Estado.

Qualificação

Ainda conforme Longen, um dos projetos que está em tratativas com o Governo do Estado é utilizar a sala de aula de escolas públicas como um meio para qualificar. 

No início de maio, a Suzano e a Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul) firmaram parceria para ampliar projetos de geração de trabalho e renda no campo, em Ribas do Rio Pardo. 

O comprometimento é expandir iniciativas de capacitação, especialização e transmissão de conhecimentos para famílias com aptidão agrícola, nas áreas próximas à construção da nova fábrica da companhia, no município. 

Em entrevista ao jornal O Estado, em outubro do ano passado, o diretor de engenharia da Suzano, Maurício Miranda, informou que serão feitos cursos de capacitação durante todas as etapas da construção, enfatizando que a oferta é divulgada até para cidades vizinhas.

“Após cada etapa de qualificação, grande parte das pessoas que concluem os cursos é convidada para atuar nas operações da empresa. Aquelas que não conseguem uma oportunidade conosco, estão qualificados, no mercado de trabalho, para atuarem em outras empresas”, disse Maurício.

Por Izabela Cavalcanti – Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul.

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