Salário-mínimo de R$ 1,3 mil distorce realidade vivida por famílias

Fotos: Valentin Manieri/Edemir Rodrigues/Marcos Maluf
Fotos: Valentin Manieri/Edemir Rodrigues/Marcos Maluf

Aumento para R$ 1.320 entrou em vigor dia 1° de maio, mas não é o suficiente 

Mesmo com o aumento do salário-mínimo para R$ 1.320, o valor continua sendo diferente da realidade vivida por muitos campo-grandenses. Aluguel, conta de água, luz, internet, gás de cozinha e cesta básica ficam além do orçamento e, no fim do mês, a conta não fecha. No dia 1° de maio, ocorreu o segundo reajuste do ano, saindo de R$ 1.302 para R$ 1.320, alta de apenas R$ 18 ou 1,38%. 

Levando em consideração uma pessoa que precisa pagar R$ 700 de aluguel para morar em uma casa pequena, em um bairro simples; R$ 719 na cesta básica; R$ 140 no botijão de gás; R$ 100 de internet e o mesmo valor para luz e água, o gasto mensal seria de R$ 1.859, ou seja, R$ 539 a mais do que o valor do salário-mínimo. 

A simulação não leva em consideração gastos pontuais, como remédio, por exemplo.

Malabarismo

A auxiliar de serviços gerais Deisiane Santana de Figueiredo, de 42 anos, relata que não consegue pagar as contas com o que ganha. 

“Está sendo bem difícil, pois, está tudo muito caro. Vivemos na medida do possível, para não passar necessidade. Tenho dificuldade de administrar um salário-mínimo para cinco pessoas dentro de casa”, lamentou. 

“Mesmo com a dificuldade, acabo priorizando o aluguel de R$ 700, água chega em torno de R$ 170, energia, no valor de R$ 278 e a internet pago mensalmente o valor de R$ 70, para que as crianças consigam estudar. Para outras contas, faço serviços para fora. Com o reajuste, não mudaria muita coisa, até mesmo porque o pacote de arroz está custando R$ 18. Então, como podemos falar que vai ajudar? É difícil”, desabafou Deisiane. 

A secretária Valéria da Silva afirma que não consegue pagar todas as despesas de uma casa, pois mesmo com o reajuste do salário-mínimo, outras coisas acabam tendo um aumento. 

“Com as despesas em minha casa, que mora apenas eu e meu marido, as contas de água, luz e supermercado ficam em torno de R$ 1.298 e, sem dúvidas, acabo priorizando a alimentação. Sendo assim, pra mim, não tem nenhuma diferença nesse pequeno aumento do salário- -mínimo”. 

O ideal

Conforme o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o salário ideal para a pessoa sobreviver é de R$ 6.571,52, sendo necessário para cobrir as despesas de si próprio e da família (dois adultos e duas crianças), com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência. 

O economista Enrique Duarte compara o salário- -mínimo brasileiro com o do Paraguai, por exemplo. “Em comparação com o que é pago de salário-mínimo no Paraguai, em dólares, o salário- -mínimo do Brasil, equivale a 254,83 dólares, com o câmbio de hoje, enquanto no país vizinho é de 352,00, uma diferença de 97,17 dólares. Só com isso já pode ser deduzido que o salário-mínimo brasileiro é baixo”, destaca. 

Outro aspecto a ser levado em conta é o impacto disso para as empresas. “O salário é um dos principais componentes de custos das empresas, ou seja, para pagar essa elevação do salário, as empresas aumentarão seus  custos para produzir”, afirma o economista. 

Enrique salienta ainda que, em princípio, se pode especular que o aumento de custos levará ao aumento de preços. Adicionalmente, o salário-mínimo baixo não é benéfico, já que os trabalhadores, que também são consumidores, diminuem as demandas. 

“O aumento de produtividade deve gerar uma grande preocupação, tanto por parte das empresas, dos trabalhadores e do próprio governo, pelos efeitos que isso significa. Ao dispor de uma mão de obra mais produtiva, por causa da maior qualificação, pode-se dar oportunidade ao surgimento de inovações técnicas, que aumentarão ainda mais essa produtividade e, portanto, a geração de riqueza na sociedade. Mesmo com o aumento, o novo salário mínimo ainda não consegue atender às necessidades dos brasileiros”, finalizou o economista.

Despesas

Conforme o Dieese, a cesta básica de Campo Grande está entre as cinco mais caras, se comparado com 17 capitais brasileiras. Em abril, o conjunto de alimentos estava custando R$ 719,15. 

Além da cesta básica, a energia elétrica teve reajuste médio de 9,28%. Os consumidores de alta tensão terão 6,28% e os de baixa tensão vão pagar 10,48% a mais por kWh. Para os residenciais, o índice é de 9,58%. 

O gás de cozinha também não está barato. Com a alíquota do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) a R$ 7,49, em Mato Grosso do Sul, considerada a maior entre os Estados, o gás de cozinha de 13 kg já pode ser encontrado a R$ 140, em Campo Grande. Fora o valor do aluguel, que varia entre os bairros da Capital. 

Por Marina Romualdo  – Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul.

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