Isolamento social no mundo virtual e a falta de companhia familiar estão entre fatores apresentados.
Diante das tragédias que estão ocorrendo em escolas da rede pública, em algumas cidades do país, é importante saber como as secretarias de educação enxergam esse problema e quais medidas são tomadas, para que isso não volte a ocorrer, no Estado.
Há uma semana, uma série de intercorrências aconteceram em algumas escolas do país, a pior delas em uma escola no bairro de Vila Sônia, em São Paulo, onde uma professora, de 71 anos, foi assassinada a facadas por um aluno de apenas 13 anos, dentro da sala de aula.
Além dos ataques à primeira professora, o menino ainda conseguiu ferir mais uma docente e logo depois foi imobilizado por outras duas educadoras.
Já no Estado do Rio de Janeiro, a Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal) conseguiu evitar um ataque que estava sendo planejado por um aluno contra uma escola pública, no centro da cidade. O adolescente foi localizado e preso dentro da escola.
Conforme informações do “JP News”, diversas forças policiais agiram em conjunto e descobriam os planos do aluno, de realizar um massacre, no mês seguinte. Em vídeos publicados pelo mesmo, na chamada deep web, ele contava sobre o plano e se dizia simpatizante de ideias nazistas.
Já aqui no Mato Grosso do Sul, dois casos deixaram as autoridades de educação preocupadas, em um deles, um estudante ameaçou funcionários e os demais alunos com um simulacro de arma de fogo, em uma escola estadual de Campo Grande, ele foi contido pelo diretor do local. O adolescente, de apenas 15 anos, afirmou ao diretor que o mataria.
Na última quarta-feira (29), na cidade de Corumbá, uma adolescente de 16 anos foi esfaqueada por uma colega, quando saía da escola. A vítima foi encaminhada a um hospital da cidade, com ferimentos. A briga foi filmada por outros alunos e compartilhada, nas redes sociais.
De acordo com a SED (Secretaria de Estado de Educação), quando ocorre um caso de conflito/agressão, no ambiente escolar, que resulte, ou não, em ferimentos, uma das primeiras medidas a serem tomadas é avisar aos pais e/ou responsáveis pelos estudantes envolvidos. Eles são chamados até a unidade escolar, para a devida ciência e detalhamentos quanto à aplicação do regimento, se necessário, com sanções que vão desde a suspensão, por período pré-determinado, até a transferência compulsória.
Após a ciência dos responsáveis, a direção da escola também realiza o registro em boletim de ocorrência. Se necessário, a direção da unidade escolar pode solicitar, ainda, junto aos órgãos de segurança, policiamento na escola, de acordo com o ocorrido. É oferecido aos alunos também um apoio multidisciplinar, com psicólogos e assistentes sociais.
A Coordenadoria de Psicologia Educacional da SED também atua com ações preventivas junto às escolas, com palestras e orientações sobre a detecção de situações vulnerabilidade, envolvendo estudantes da Rede Estadual de Ensino.
Além disso, são disponibilizados materiais para as escolas com guias voltados para diferentes contextos, que abordam o comportamento autolesivo, bullying, reiteradas faltas, entre outros.
Pensando na segurança no ambiente escolar, a secretaria instaurou o videomonitoramento das unidades da Rede Estadual de Ensino (REE). Ainda no ano passado, a SED deu início à implantação do sistema que já está presente em 245 unidades escolares. Em Mato Grosso do Sul, a execução do projeto se dá por intermédio do Cosi (Centro de Operações de Segurança Integrado). A previsão é que o monitoramento chegue à marca de 298 unidades escolares, até o final do mês de abril, atendendo escolas da REE, presentes em todos os municípios de MS.
Mas, com tantos recursos, porque casos como os citados acima continuam ocorrendo? O jornal O Estado conversou com a psicóloga clínica e escolar Francineide Baes de Lima, que explicou que o mundo virtual pode ser um grande problema, associado à falta da família presente, no dia a dia.
“Hoje, os adolescentes vivem em um mundo virtual muito mais individual, socialmente falando.
Se relacionam virtualmente com muitas pessoas, porém, pessoalmente, com poucas e isso dificulta a capacidade de relacionamento destes adolescentes e até de algumas crianças. Quando a criança tem convivência com outras crianças, ela aprende a lidar com as frustrações que envolvem o universo infantil, e, quando chegam na adolescência, isso está melhor trabalhado”, disse Francineide.
Ela cita, também, que não é somente isso que define, pois a dinâmica familiar também tem um papel fundamental. “O que percebo hoje é que temos visto, cada vez mais, pais que precisam trabalhar muito, pra suprir as necessidades dos filhos e família, como um todo, tendo cada vez menos tempo de qualidade com esses filhos, deixando-os a mercê de influências negativas e, muitas vezes, solidão. E quando estes adolescentes se deparam com situações de conflito, não sabem como agir, reagem com violência e agressividade.”
Para evitar que casos como esses sejam recorrentes, Francineide explica que este é um trabalho que deve ser realizado de forma conjunta, entre as escolas e famílias. “Embora nos dias atuais isso seja mais complicado e complexo de se fazer, é necessário trazer as famílias para junto da escola. Outro ponto fundamental é termos uma equipe multifuncional (pedagoga, psicóloga e assistente social), atuando nas escolas de forma diretiva, com toda a comunidade escolar”, finalizou.
Rede municipal
Na rede municipal, a Semed (Secretaria Municipal de Educação) tem o Secoe (Setor de Acompanhamento de Conflitos Relacionados à Evasão e Violência Escolar), que realiza, periodicamente, a formação continuada com diretores e coordenadores, para que eles saibam identificar os casos de abusos e maus tratos e fazer as denúncias, ao órgão competente.
O Secoe age ainda com palestras preventivas nas escolas e conversa diretamente com alunos sobre bullying e violência. A formação continuada com os coordenadores ocorre em cumprimento à lei 6.672, de 15 de setembro de 2021.
Há ainda uma parceria com a Guarda Municipal, com palestras orientativas e preventivas e com a Sejusp-MS, com os policiais do programa Escola Segura Família Forte, que monitoram escolas e também desenvolvem palestras e conversas preventivas com os alunos.
Em casos de denúncias de alunos com objetos perigosos, a Guarda Municipal é acionada imediatamente, pela direção da unidade escolar, para revistar o aluno.
Por Camila Farias – Jornal O Estado de MS.
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