Mesmo com processos, Bolsonaro terá apoio de eleitorado e partidários, dizem especialistas

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Ex-presidente retorna ao Brasil nesta quinta-feira, após três meses nos EUA e deve liderar a oposição

Bolsonaro (PL) deve chegar, no aeroporto de Brasília, por volta das 7h, desta quinta-feira (30), com uma lista de problemas judiciais a enfrentar. Ele tem o objetivo de liderar a oposição contra o governo do presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e fortalecer seu grupo rumo às eleições municipais de 2024. Cientistas políticos, consultados pelo jornal O Estado, indicam que essas situações não irão dificultar a liderança e posicionamento político do ex-presidente, perante o eleitorado.

Bolsonaro está na Flórida, nos Estados Unidos, desde o final do ano passado. Ele terá de provar sua inocência em processos criminais, que podem torná-lo inelegível, e responder a questões como joias recebidas como presentes e que deveriam ter sido devolvidas ao Estado brasileiro, além de acusações sobre temas sensíveis, quando foi presidente.

Doutor em ciência política e professor da UEMS, Ailton de Souza afirma que a política brasileira não é coisa para amador, pois a conjuntura vai mudando todo o tempo, com novos personagens em cena, como o caso do senador Sergio Moro, nos últimos dias. Souza destaca que a volta de Bolsonaro para o Brasil será para fortalecer os políticos bolsonaristas e os eleitores que já se identificavam com ele, durante a gestão. Porém, ele terá de observar o conjunto de processos judiciais que está sofrendo.

“A figura do Bolsonaro, na minha análise depende muito desses processos que foram judicializados. E os resultados dos processo podem influenciar, sim, na figura de Bolsonaro para as próximas eleições. O PL diz que, caso for julgado em algum processo, ele já terá emprego garantido no partido e representatividade. Acredito que os partidos de direita tendem a fomentar ainda mais esses eleitores, porque deu certo. Embora Bolsonaro não tenha ganhado as eleições, as ideias e posições dele ainda são muito fortes, no Brasil. Mesmo se houver algo que o penalize juridicamente, ele terá voz perante os eleitores, claro que não com o mesmo peso.”

O cientista afirma que Bolsonaro certamente influencia nas eleições de 2024 e 2026. “A tendência é que Bolsonaro chegue com apoio. Uma parte significativa do Congresso apoia ele. Temos deputados, como o Nikolas Ferreira, que representa um segmento do eleitorado brasileiro muito forte e não pode ser desprezado. Essa ala ocupa muitos espaços em Câmaras, prefeituras e governos.”

Souza esclarece que não acredita em futura prisão de Bolsonaro e que pode ocorrer apenas um processo que o torne inelegível. “Mas, tudo depende desse conteúdo probatório que está sendo investigado. Fatos novos ou fatos que possam apagar um pouco dessa imagem, de alguém que não é corrupto. Uma vez que tenha elementos comprobatórios de algum ato lesivo ao Estado Brasileiro, há, sim, uma possibilidade de a imagem ruir. Com isso, os atores migrarão para outros partidos ou para o centrão, mas não seguem para outro polo, que é do governo.” Cientista político e professor da UFMS, Tito Machado não entra no rol jurídico, envolvendo o ex-presidente, e entende que, no cenário político atual do Brasil, a figura de Bolsonaro é importante e totalmente respeitada, por metade da população, por isso, seu nome, influência e discurso serão muito utilizados, nas próximas eleições.

“Com relação ao Bolsonaro, é preciso entender que ele é o perfil de uma parcela significativa do povo brasileiro. Ele é autoritário, não gosta de debate, é misógino, homofóbico e a cara de um tipo de brasileiro que estamos acostumados a ver, no cotidiano. Ele representa uma figura significativa na política, que não havia ainda. Eu não gosto dele, pessoalmente, mas é uma figura que espelha a realidade brasileira e parte significativa da população. Assim como o Lula, que tem diversas características que agradam e são perfis da população.” Tito Machado pontua que fazia muito tempo que o Brasil não tinha dois perfis como Bolsonaro e Lula, antagônicos, mas que representam a população, cada um com sua importância. “Respeito o Bolsonaro pelo que ele fala, pelo que ele age e esse jeito dele, é o mesmo de várias pessoas, sendo uns com um pouco mais de educação e outros com menos. O Bolsonaro é uma figura que está na política porque representa essas pessoas.”

Machado destaca que Bolsonaro vai se posicionar como líder da oposição a Lula, nos próximos anos. “Ele não pode ser, de forma nenhuma, isolado, esquecido ou abandonado. Por isso, o partido dele e partidos conservadores vão valorizar isso.”

Para ele, a política, daqui para a frente, com a chegada de Bolsonaro, será feita de maneira reacionária, tanto no Congresso Nacional quanto em nível municipal e estadual. “Bolsonaro é um nome decisivo, numa eleição. Então, mesmo ele não estando entre os cabeças na disputa, ele influencia muito o eleitor.”

Antes de voltar, ex-presidente chama Lula de ‘nove dedos’ e cutuca STF

O retorno do ex-presidente Jair Bolsonaro está confirmado para esta quinta-feira (30), às 7h, em Brasília. Ao discursar a apoiadores, nos Estados Unidos, ele criticou o desempenho econômico do governo Lula e também a mudança na Lei das Estatais, deixando uma indireta ao ministro Ricardo Lewandowski, do STF.

“O Temer criou a Lei das Estatais, criando critérios para que se segurasse a indicação política das estatais. O meu governo seguiu a lei e esse novo já mudou na Câmara, tá no Senado, para voltar a indicar quem bem entender para estatais. Se bem que não precisa do parlamento, o Supremo lá, o ministro já deu uma canetada e disse que pode ignorar a quarentena que políticos cumprem nas estatais”, disse Bolsonaro.

Um dos critérios da Lei das Estatais é que pessoas recentemente envolvidas em campanhas eleitorais ou na estrutura decisória dos partidos não possam assumir a direção de empresas do governo. Ministros de Estado e secretários, estaduais e municipais, também eram vedados.

Bolsonaro também criticou a economia e falou sobre uma desaceleração na criação de empregos, em relação ao seu governo. O ex-presidente classificou as férias coletivas em montadoras de carros como um “prenúncio de demissão”.

“O empresariado puxou o freio de mão, esperando o que vai acontecer e o problema é a confiança. Ontem, o nove dedos falou que devemos abandonar os livros de economia. O cara nunca leu um ‘Tio Patinhas’ na vida e agora fala em abandonar os livros de economia”.

Salário

Bolsonaro será presidente de honra do PL. Em troca, receberá do partido um salário de R$ 39,2 mil, valor do teto salarial do serviço público, recebido por ministros do STF. Também será remunerado com aposentadorias pagas por Câmara e Exército.

 

Por Rayani Santa Cruz  – Jornal O Estado de MS.

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