Estudantes de mais de 65 bairros da Capital encontram, na unidade, a garantia de bons resultados
Hoje, 15 de março, é comemorado o Dia Nacional da Escola, em homenagem às instituições de ensino, que têm um papel essencial na vida e no desenvolvimento das pessoas. Mais do que um local de formação acadêmica, as escolas contribuem para a formação pessoal e profissional dos alunos, desde crianças, no ensino fundamental, até a adolescência, no ensino médio. A data foi escolhida pelo Congresso Nacional para homenagear o local onde os alunos passam grande parte dos seus dias. É uma oportunidade de ressaltar a importância da educação brasileira e prestar homenagens a essas escolas, que lutam pelo futuro do país. O jornal O Estado dá continuidade à série especial sobre as escolas mais tradicionais de Campo Grande. Desta vez, falando da Escola Estadual Hércules Maymone, fundada em 1989, há 34 anos.
Atendendo estudantes de mais de 65 bairros da Capital, o Hércules Maymone, que recebeu o nome de Ceep (Centro Estadual de Educação Profissional), sempre foi disputado por pais que queriam matricular seus filhos lá. Aos olhos do diretor Renato Lima, 40, que assumiu a direção ano passado, ao longo dos anos muita coisa mudou, mas a tradição do compromisso com a educação se mantém.
“Neste ano de 2023, temos 1.610 alunos matriculados ao total, divididos nos turnos matutino, vespertino e noturno. Nossa maior demanda continua sendo de manhã, com 680 alunos. O interessante é que são alunos das sete regiões de Campo Grande. Isso porque o Hércules tem história, tem tradição, e os pais sabem disso. Com o novo modelo do ensino médio, a disputa por uma vaga cresceu ainda mais”, afirmou.
Chamado de novo ensino médio, os estudantes da Ceep Hércules Maymone possuem uma grade diferenciada de estudos. De segunda a quinta-feira, os alunos estudam nas turmas seriadas, e às sextas- -feiras, são reorganizados em turmas, as denominadas de itinerário formativo. “Devido a nossa escola ter sido transformada em um centro de educação profissional, atualmente temos os itinerários propedêuticos, que são das áreas de linguagens, ciências humanas, ciências da natureza e matemática, e os itinerários de qualificação profissional, que consistem no eixo da administração, meio ambiente e jogos digitais. À noite temos o AJA/MS (Avanço do Jovem na Aprendizagem), para aqueles estudantes que, eventualmente, tiveram algum problema, uma das que nunca conseguiu vaga. Após anos, ela conseguiu matricular o filho, e disse que se realizou nele. Temos também professores que estudaram aqui e hoje atuam na sala de aula. São histórias inspiradoras para nós”, salientou o diretor, que tem formação em Educação Física, há 18 anos. Atuando na sala de aula do Hércules Maymone desde 1996, a professora Penha, como é conhecida pelos alunos, de 51 anos, tem um carinho pela e questão social que o impediu de prosseguir nos estudos na idade certa”, explicou o diretor, que está há 4 anos na escola.
“Vivenciamos muitas situações de pais que estudaram aqui, ou queriam muito, na época da adolescência, mas, por falta de vaga, não tiveram a oportunidade. Uma situação interessante que aconteceu no começo deste ano foi de uma mulher que sempre sonhou em estudar aqui, no Hércules, e foi uma das que nunca conseguiu vaga. Após anos, ela conseguiu matricular o filho, e disse que se realizou nele. Temos também professores que estudaram aqui e hoje atuam na sala de aula. São histórias inspiradoras para nós”, salientou o diretor, que tem formação em Educação Física, há 18 anos.
Atuando na sala de aula do Hércules Maymone desde 1996, a professora Penha, como é conhecida pelos alunos, de 51 anos, tem um carinho pela escola, onde escolheu criar laços. “Eu entro em uma escola e quero fixar raízes ali. Não gosto de ficar mudando de trabalho, prefiro construir algo e nutrir, assim podemos acompanhar os frutos. Foi isso que escolhi fazer no Hércules, há 27 anos. Desde então, hoje encontro com ex-alunos que se tornaram advogados, engenheiros, e várias outras profissões, o que mostra que tudo valeu a pena”, ressaltou.
Ainda nos anos 2000, Penha ficou um curto período fora da escola, mas logo retornou. “Fiquei fora por umas três semanas, mas logo voltei e demos continuidade ao trabalho. Aqui é uma escola grande, que nos permite trabalhar e explorar o espaço, assim como os alunos, para desenvolver atividades e eles aprenderem o conteúdo, de fato. Aqui, recebemos apoio nos nossos projetos, e isso é importante, antes de qualquer coisa. A escola apoiar o professor nos projetos que ele quer desenvolver com os alunos, é fundamental”, explicou ela.
Conhecida como o “terror dos alunos” por ser bastante rígida, também é querida por eles, pelo coração cheio de afeto que carrega. “Sempre que ex-alunos vão se referir a mim, falam que ‘apesar de muito brava, eu aprendi biologia’. Eu sempre criei esse laço com meus alunos, de confiança e respeito. Sou brava porque gosto de tudo certo, o que é para ser feito, temos que fazer e pronto. Mas comigo eles também encontram carinho, me importo com eles, e demonstro isso. Busco sempre ensiná-los que regras foram feitas para serem cumpridas, mas tudo tem o lado bom.”
Dentre tantas histórias especiais, a professora de biologia carrega consigo um fato marcante, de uma aluna que precisava de uma atenção especial, e felizmente foi percebida a tempo. “São muitas histórias de alunos que ajudamos de alguma forma, mas tem uma que nunca vou me esquecer. Foi quando adotei minha filha, e ao compartilhar esse marco histórico da minha vida nas redes sociais, uma aluna me disse que eu era a melhor mãe que minha filha poderia ter. Isso me emocionou, pois eu marquei a vida dessa aluna. Na época em que ela estudou aqui, percebi comportamentos estranhos, ela estava muito magra e abatida, foi quando decidi conversar com ela, e descobrimos um quadro de depressão. Ela me disse que eu marquei a vida dela, mas ela também marcou a minha, com certeza”, recordou a professora.
Prestes a terminar o ensino médio, Emanuele Barbosa, de 16 anos, está entre os mais de mil alunos que a escola tem matriculados atualmente. No 3º ano, a adolescente já diz sentir saudade de tudo o que viveu na escola. “Estudo no Hércules desde o 1º ano, então todo o meu ensino médio foi aqui. Apesar de estar começando agora o ano letivo, já sinto saudade de tudo o que vivi aqui. Por ser uma escola grande, pude fazer muitas amizades, conhecer muitas pessoas, e vivenciar as atividades, realmente. Aqui, temos espaço e professores dispostos. Tive aula com a professora Penha, infelizmente foi só no 1º ano, e posso dizer que ela realmente é brava, mas um amor de pessoa, ao mesmo tempo. Além de aprender biologia de uma forma única, aprendemos diariamente sobre ser uma pessoa de caráter e a ter responsabilidades”, contou a aluna, decidida a prestar vestibular para psicologia, este ano.
“Sou prova de que, realmente, a educação transforma”
A saudade do tempo da escola é sempre presente na vida da policial militar Nilaine Santos de Oliveira, de 35 anos, em especial sobre a escola Hércules Maymone, onde estudou dos 10 aos 17 anos. “Minhas melhores lembranças estão lá. Estudei da 5º série até o 3º ano do ensino médio, e que fase boa! Tenho muitas lembranças de professores que se importavam com o ensino, de fato, dentre eles alguns nomes não me esquecerei jamais, como a Rosa Maria, Lourenço, e o Cleydi”, destacou ela.
Formada em Educação Física e cursando o último semestre de Direito, Nilaine é cabo da Polícia Militar na Capital, e diz ser grata por tudo o que conquistou, que foi graças ao ensino que recebeu quando ainda era criança. “O Hércules sempre foi referência em educação. Na época, eu morava no bairro São Conrado e, mesmo assim, fazia questão de estudar lá. Minha mãe dizia que era muito concorrido conseguir uma vaga nessa escola, isso nos fez dar mais valor na oportunidade de estudar lá. Posso dizer que realmente o ensino era diferenciado, graças a Deus todo esse sacrifício da distância foi superado pelo resultado que vivo hoje. Venho de família simples e humilde, e sou prova de que, realmente, a educação transforma”, salientou a PM.
O ex-aluno Ovídio Júnior, de 46 anos, voltou ao Hércules Maymone 28 anos depois, como professor. Ele, que tem dos oito irmãos, seis na docência, tem 15 anos de sala de aula e desde o ano passado é professor de Sistema de Informação e Negócios Digital, do itinerário formativo.
O docente, que fez todo o ensino médio no Hércules, de 1994 a 1996, contou que foi emocionante estar de volta à instituição depois de tanto tempo. “Não consigo mensurar a emoção que senti quando cruzei o portão, deu uma saudade daquele tempo, dos colegas e de ver a transformação na minha vida”, enalteceu.
Segundo Ovídio, o que marcou mesmo o seu retorno foi quando ele entrou para lecionar na mesma sala que teve sua última aula como aluno. “Era um misto de sentimento, aquela nostalgia, sabe. Nesse dia foi difícil de dar aula. E, querendo ou não, por ter sido aluno, a responsabilidade é maior, com a história da escola e do ensino”, assegurou.
Com mais de década de sala de aula, o professor que é formado em Marketing e faz doutorado, relatou que a mãe foi a grande inspiradora para que grande parte dos filhos seguissem à docência. “Minha mãe não era professora, mas tinha esse sonho e ela foi nosso combustível. Lembro também de um colega que me disse: cuidado que isso vicia e vicia mesmo!”, finalizou.
Por Brenda Leitte – Jornal O Estado do MS.
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