[Texto: Por Evelyn Thamaris, Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul]
Estão na lista sete prefeituras, empresas de energia, internet e telefonia
A lista de credores das Lojas Americanas em Mato Grosso do Sul soma 49 nomes entre empresas, pessoas físicas, jurídicas e prefeituras. A potência do varejo está em recuperação judicial com uma dívida avaliada em R$ 43 bilhões, sendo que somente no Estado a inadimplência soma R$ 29,2 milhões. As dívidas vão de credor de R$ 26 até R$ 3,7 milhões.
Conforme a lista de credores constituída de quase oito mil nomes no Brasil, entregue à 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, no dia 25 de janeiro, há pendências com sete prefeituras, entre elas Aquidauana, Dourados, Corumbá e Sidrolândia, que chegam a um montante maior que R$ 15 mil.
No relatório é possível observar que uma parte das contas a pagar em Mato Grosso do Sul é referente a serviços de fornecimento de energia, sendo esta com a Energisa acumulada em mais de R$ 20 mil.
Sobre o assunto a companhia de energia se manifestou por meio de nota ao jornal O Estado. “A Energisa esclarece que está acompanhando o processo e irá atuar dentro dos termos de recuperação judicial”, disse.
Os serviços de internet e telefone são os que mais se destacam no Estado, contando com ao menos oito empresas do setor, localizadas nos municípios de Bonito, Três Lagoas, Jardim, Paranaíba e Coxim, que juntos somam mais de R$ 7,2 mil. Além de fornecedores do ramo alimentício e têxtil.
Entre outras empresas do Estado está a Casa das Cores, localizada em Campo Grande, que tem um acumulado de R$ 13,6 mil para receber das Lojas Americanas. Além de uma distribuidora de alimentos, que conforme a lista está situada no bairro Nova Lima e é responsável por distribuir marcas como Elma Chips e Marilan. Esta espera a devolução de R$ 1,1 milhão.
Reação do mercado
A crise já dá a sensação de “decadência” das unidades. A reportagem do jornal O Estado foi em duas unidades, e em uma delas, na Avenida Júlio de Castilho, de oito caixas instalados, somente um realizava o atendimento dos poucos que compravam no comércio.
Entre algumas gôndolas vazias é possível observar a ausência de produtos, como chocolate e salgadinhos. Já na unidade da Rua 14 de Julho, dos dez caixas instalados, somente três estavam funcionando.
Entre as mercadorias expostas, algumas contam com pouca quantidade, ao passo que outras, como, por exemplo, desodorantes e biscoitos, já deixam espaços vazios nas prateleiras.
Muitas placas com porcentagem de desconto e preços promocionais podem ser vistas por quem passa por lá.
O mestre em economia Eugênio Pavão destaca a fase que as Lojas Americanas enfrenta em um paralelo à situação dos credores. “Como o processo de recuperação judicial das lojas está em curso, a empresa ganha um tempo para colocar em ordem as contas e começar a pagar as empresas e fornecedores”, explica.
Segundo o economista, outro ponto importante a ser levado em conta é a reação do mercado financeiro. “Na quarta, as ações da empresa tiveram alta de 17,5% na Bolsa de Valores, demonstrando que o mercado está otimista com a condução das negociações e acredita na superação da crise.”
Em análise, o profissional ressalta que os devedores de Mato Grosso do Sul devem receber de acordo com as propostas de pagamento da empresa, ao passo que os pequenos fornecedores irão receber inicialmente, porém, somente a partir do mês de agosto deste ano.
Já aqueles que judicializarem as cobranças podem receber a partir do momento em que a empresa obtiver as ordens do Judiciário para realizar o pagamento. “O pagamento para prefeituras deve seguir esse caminho, pois os devedores ganham tempo e podem entrar com vários recursos para os pagamentos.”
Por fim, Eugênio pontua que a recuperação será feita com o fechamento das estruturas menos eficientes da varejista, com a finalização das operações virtuais já divulgadas e, com o fechamento das empresas físicas, será reduzido o pagamento de aluguéis, luz, internet, segurança, bem como o pagamento de salários, benefícios sociais e abonos e comissões.
“A perda de credibilidade na gestão do grupo empresarial pode levar a uma corrida judicial para receber primeiro os pagamentos, alongando ainda mais os prazos para pagamentos. O ideal é aguardar a decisão judicial e esperar o pagamento determinado na recuperação judicial, senão ficará difícil antecipar os pagamentos devidos”, conclui.
Em Campo Grande, são seis Lojas Americanas, a primeira na Rua Dom Aquino, outra na Rua 14 de Julho, ambas na região central. Outras três em shoppings da Capital (Norte Sul Plaza, Shopping Campo Grande e Bosque dos Ipês) e a última loja na Avenida Júlio de Castilho.
A lista soma um total de 7.967 nomes, o que resulta em uma dívida de R$ 41,23 bilhões. Entre os listados foi feita uma divisão: Classes 1,3 e 4, onde a primeira tem saldo devedor de R$ 64,84 milhões, a 3 é de R$ 41,06 bilhões e a classe 4, com montante de R$ 109,5 milhões.
Os maiores valores são devidos a instituições financeiras que ultrapassam R$ 28 bilhões. O destaque é para Deustche Bank, com R$ 5,226 bilhões, o maior credor da Americanas. Entre os bancos brasileiros estão Bradesco, Santander Brasil e BGT Pactual que também somam quantias enormes a serem recebidas.
Entenda o caso
A descoberta de inconsistências contábeis no balanço fiscal do grupo Americanas, no começo de janeiro, resultou no pedido de demissão do presidente Sérgio Rial e do diretor de Relações com Investidores André Covre. Eles tinham sido empossados havia pouco mais de uma semana, mas anunciaram a decisão de deixar os cargos ao estimar um rombo inicial de R$ 20 bilhões na empresa.
A notícia gerou uma queda imediata de mais de 70% nas ações das Americanas cotadas na Bolsa de Valores. Na petição de recuperação judicial apresentada ao TJRJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro), o grupo calcula que as inconsistências contábeis devem elevar as dívidas para um montante de R$ 43 bilhões.