Revitalização não avança e usuários de drogas seguem na ‘cracolândia’ da Capital

Rodoviária
Foto: Wanderson Lara

Sisep reconhece que terá de correr contra o tempo, para concluir a obra dentro do prazo

Iniciada há seis meses, as obras de revitalização da parte pública do Terminal Rodoviário Heitor Eduardo Laburu, a antiga rodoviária de Campo Grande, não avançaram de forma significativa até hoje. A “cracolândia” da Capital segue em plena luz do dia com os usuários em torno do local dando continuidade a um problema que é antigo. 

A obra era para estar com, pelo menos, 30% de conclusão, já que foi iniciada em 1º de julho de 2022 e tem previsão de entrega para o dia 26 de junho deste ano, totalizando 360 dias de obras. Conforme a prefeitura, as obras se encontram em andamento, mas há limitações. 

A Sisep (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos), pasta responsável pela reforma, reconheceu que será preciso correr contra o tempo para que o local, desativado há 14 anos, deixe de ser mais uma obra atrasada ou inacabada. 

O atual titular da secretaria, Domingos Sahib Neto, comentou sobre o atraso e relatou ter sido causado pela necessidade da revisão dos detalhes do projeto, sem citar do que se tratava ao certo. 

“Temos trabalhado para resolver os detalhes que ainda faltam para que o cronograma inicial seja devidamente cumprido. Acreditamos, fielmente, que a entrega da obra será efetuada dentro do prazo determinado.” 

Para a execução da obra, estão destinados R$ 16.598.808,77 para mudar o cenário do prédio que nos anos 90 instalou a rodoviária e o terminal de ônibus da cidade, época essa em que o local fez sucesso na Capital, onde havia lojas de roupas, lanchonetes e cinema.

Resgate

Recentemente o secretário de Saúde de Campo Grande, dr. Sandro Benites, comentou sobre o caso durante entrevista à Rádio Capital 95. “Temos um grande problema na saúde pública, que nós quanto sociedade vamos ter de enfrentar: o uso e abuso de álcool e drogas na nossa Capital. Antigamente não havia uma ‘cracolândia’ em Campo Grande, eram nas cidades grandes como Rio de Janeiro e São Paulo, mas esse problema chegou aqui”, exclamou ele. 

“Temos ali uma situação grave, onde temos mais de 1,5 mil dependentes químicos nas ruas da Capital. Os programas da prefeitura tentam abordar e dar o suporte devido, mas infelizmente não obtivemos muito sucesso até os dias de hoje. A situação é realmente grave, e há até um estudo que quando a pessoa quebra o vínculo familiar e vai para a rua, a chance de recuperação dessas pessoas é de 2 a 3%, ou seja, quando chega a esse nível, algo que já foge do controle das autoridades, que estão dispostas a ajudar, mas muitas vezes não têm retorno por parte deles”, finalizou. 

É importante destacar que, em casos de solicitações e atendimentos para pessoas em situação de rua, a população pode entrar em contato com o programa por meio dos telefones: (67) 99660-6539 ou (67) 99660-1469.

“Eu vi o movimento, mas também vi a solidão” 

Acompanhando a transição da antiga rodoviária de Campo Grande, o senhor Miguel Codas tem uma lanchonete no interior do prédio, que hoje está abandonada, desde 1989. “Eu vi o movimento, mas também vi a solidão. É sempre assim, sem muitos clientes, mas precisamos trabalhar”, disse ele. 

Comentando sobre a revitalização, o aposentado ressaltou que “todos os dias trabalham um pouco, mas parece que a obra não anda”. Fazendo referência à entrega do projeto, que está marcada para 2023, o comerciante tem dúvida sobre se será concluída a tempo. 

“Do jeito que acompanhamos, acho difícil isso acontecer, mas vamos esperar e acreditar que ocorrerá. A segurança aqui é o nosso maior dilema, durante o dia tem um segurança, e contrataram outro para a noite, recentemente, mas ainda assim a insegurança nos assola, tendo em vista o tanto de morador de rua que fica rondando por aqui e tem passe-livre para entrar e sair quando bem entender”, indagou. 

No local, que ficou conhecido como a “cracolândia” da Capital, o cercado feito para impedir que moradores de rua e usuários de drogas se infiltrem no prédio, por conta da revitalização, nada fez mudar o cenário. A reportagem de O Estado percorreu as ruas em torno e flagrou o consumo de drogas, cenas de discussão e pedestres caminhando com medo de serem assaltados. 

Já habituado à situação da região, o morador Mário Santos alega não ter o que fazer quanto aos andarilhos que por ali se instalam. “O jeito é sempre ficar em alerta, estamos sujeitos a tudo por aqui. Recentemente houve mais uma briga entre eles, onde um amanheceu morto aqui na calçada de casa. Eles se desentendem e se agridem, são mortos a pedradas, facadas… é uma violência sem fim”, contou o vendedor. 

Morando na região há quase 30 anos, Mário diz conhecer os moradores de rua mais antigos. “É triste ver a realidade deles, mas, depois de anos, acaba que conhecemos eles. Mas ainda assim é perigoso, pois se submetem ao vício e, com isso, se tornam imprevisíveis e traiçoeiros”, finalizou.

Grupo de moradores busca ajuda da prefeitura para inibir usuários

Problema antigo no bairro Amambaí, moradores e comerciantes da região se reuniram esta semana com diferentes representantes do Poder Público municipal, buscando mais segurança e limpeza na região da antiga rodoviária. A principal reclamação por parte do grupo seria a respeito do lixo. Muitos dos usuários em situação de rua estariam jogando marmitas de doações nas ruas e sujando o entorno. Diante disso, a solução para eles seria proibir as doações para este público, dessa forma o lixo diminuiria.

Segundo o síndico do centro comercial, Paulo Pereira, o número de moradores em situação de rua tem aumentado nas proximidades e muitos descartam alimentos em vias públicas, gerando um problema a mais. “Nosso maior objetivo é a segurança, mas é fato que os lixos incomodam bastante e acabam espantando a clientela”, explicou. 

Estiveram na reunião representantes da Polícia Militar, GCM (Guarda Civil Metropolitana), Correios, além da Sejuv (Secretaria Municipal de Juventude), Sisep (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos), SAS (Secretaria Municipal de Assistência Social) e Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Gestão Urbana).

Por Brenda Leitte  – Jornal O Estado do MS.

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