Considerado o ano mais “sangrento”, em 2022, Mato Grosso do Sul atingiu recorde de casos de feminicídio. O Estado registrou 44 casos, representando o maior número registrado anualmente desde a criação da Lei do Feminicídio (nº 13.104), no ano de 2015. Do total, 12 dos crimes foram praticados em Campo Grande.
Os dados são da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública) e indicam um aumento de quase 28% quando comparados ao ano de 2021, quando foram registrados 31 homicídios qualificados por feminicídio no Estado.
De acordo com a Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), a maioria dos casos de feminicídio é precedida por períodos em que a vítima sofreu violência doméstica pelo assassino, como cita a delegada titular, Elaine Benicasa. “Meter a colher, como diz o ditado, é preciso, sim!”, afirmou.
Para ela, a sociedade civil tem um papel fundamental no enfrentamento à violência doméstica e no combate ao feminicídio. “Muitas das vezes essa pessoa pode evitar, sim, o crime, não existe mais aquela questão como no passado ‘em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher’, não é bem assim. É dever de toda a sociedade preservar uma vida humana”, alegou a delegada.
Ainda conforme a delegada, o crime tem vários fatores envolvidos. Patriarcado, machismo estrutural, ciúmes aliado e fomentado pelo álcool, e outros usos excessivos e abusivos de entorpecentes são alguns deles.
O apoio de familiares, colegas de trabalho e amigos pode ser fundamental para uma mulher conseguir sair do ciclo de violência, detalha a delegada. Porém, é preciso compreensão acima de tudo.
“Escutamos algumas vezes que a pessoa já ajudou uma vez e não ajuda mais, porque a mulher sempre volta. Isso é uma característica do ciclo da violência, mas é o momento em que a mulher mais precisa de ajuda, seja dos órgãos públicos, da família, seja das instituições de modo geral, das instituições religiosas, do local onde ela trabalha”, reforçou.
Outros estados
Os estados de São Paulo e Rio de Janeiro também registraram aumento nos casos de feminicídio. Com aumento de 32%, SP registrou um feminicídio a cada dois dias. Ao todo, 167 mulheres foram vítimas na capital paulista entre janeiro e novembro de 2022, segundo estatísticas da SSP (Secretaria de Segurança Pública).
No RJ, os casos aumentaram 73% em cinco anos.
De acordo com dados do ISP (Instituto de Segurança Pública), apenas de janeiro a maio do ano passado, foram 52 mulheres mortas no estado. As tentativas de feminicídio também aumentaram no Rio de Janeiro nos últimos anos.
Fórum Brasileiro de Segurança Pública
O Brasil registrou, ainda no primeiro semestre do ano passado, recorde de feminicídios. Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 699 mulheres foram vítimas de feminicídio no país. Em média, quatro mulheres foram mortas por dia. O número é o maior já registrado em um semestre e, quando comparado com o ano de 2019, o crescimento foi de 10,8%.
Já em relação a 2021, o aumento foi de 3,2%. Entre as regiões, a Norte foi a que apresentou maior crescimento no primeiro semestre dos últimos quatro anos, com aumento de 75%. A Região Centro-Oeste também teve crescimento significativo, com 29,9% de alta entre 2019 e 2022. Já entre as unidades da Federação, Rondônia teve o maior aumento, 225%, seguido por Tocantins, 233,3%, e Amapá, 200%, todos na Região Norte.
Por Brenda Leitte – Jornal O Estado do MS.
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