Por Izabela Cavalcanti [Jornal O Estado]
Para comemorar o aniversário da federação é lançada a campanha “Famasul 45 anos, das raízes ao futuro do campo”; segundo o presidente da instituição, o foco será em fortalecimento institucional, qualificação de mão de obra e sustentabilidade no campo.
No dia 29 de outubro, a Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul) completa 45 anos de história, juntamente com o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) do Estado, que completa 30 anos.
Para celebrar, foi lançada a campanha “Famasul 45 anos, das raízes ao futuro do campo”, que prevê diversas ações voltadas aos produtores. Atualmente, a federação representa a classe produtora em mais de 160 colegiados, com foco em fortalecimento institucional, qualificação de mão de obra e sustentabilidade no campo.
Já o Senar atua por meio de parceria com 69 sindicatos rurais do Estado, disponibilizando aos produtores, de 12 cadeias produtivas, a Assistência Técnica e Gerencial, com planejamento, gestão e orientações técnicas para otimização do negócio.
Segundo o presidente da entidade, Marcelo Bertoni, essas mais de quatro décadas foram de desafios, mas também de conquistas.
“Todo o trabalho durante esse tempo foi voltado para melhorar a entrega, tanto em quantidade, atendendo a demanda nacional e internacional, como em qualidade, garantindo produtos com segurança e sustentabilidade”, pontuou.
Produtor rural desde 1989, Marcelo foi um dos fundadores do MNP Jovem (Movimento Nacional dos Produtores), de 1994 a 1995, e diretor-secretário da Acrivan (Associação dos Criadores do Vale do Aquidaban e Nabileque), entre 2008 e 2010.
Após esse período, passou a ser diretor-presidente no Sindicato Rural de Bonito, entre 2011 e 2016. Depois, foi eleito diretor-tesoureiro do Sistema Famasul para o triênio 2018/2021, passando a ser presidente em agosto de 2021.
Em entrevista ao jornal O Estado, Bertoni também comentou sobre a colheita de soja, que teve o menor volume em cinco anos. O grão teve queda de 34,6% na produção, em razão da estiagem nos últimos meses do ano passado.
Conforme explica o presidente da instituição, a produtividade estimada no início da safra era de 56 sacas por hectare, para uma produção total de 12,773 toneladas. Mas, após os danos causados, a produtividade média foi fechada em 38,65 sacas por hectare, numa área total de 3,748 mil hectares. Com isso, a produção total caiu para 8,692 milhões de toneladas. Agora, a expectativa está em cima da colheita do milho. No entanto, segundo Bertoni, ainda é cedo para falar de produtividade para esta safra.
O Estado: Quais as principais atuações da Famasul nesses 45 anos de história?
Bertoni: São mais de quatro décadas de desafios, superações, avanços e conquistas. Caminhamos para os 45 anos juntamente com Mato Grosso do Sul, certos de que nosso agro cresce como referência no Brasil e no mundo. Todo o trabalho durante esse tempo foi voltado para melhorar a entrega, tanto em quantidade, atendendo a demanda nacional e internacional, como em qualidade, garantindo produtos com segurança e sustentabilidade.
Representamos a classe produtora em mais de 160 colegiados, defendendo seus interesses, como foco em fortalecimento institucional, qualificação de mão de obra e sustentabilidade no campo. Retomamos grandes projetos pausados durante a pandemia, reformulamos iniciativas, trazendo a execução para um novo contexto, e lançamos novas ferramentas para atender nossos produtores rurais. Agradeço aos sindicatos rurais por serem nossa extensão nos municípios e convido toda a população a acompanhar as ações da campanha “Famasul 45 anos, das raízes ao futuro do campo”.
O Estado: Como é a atuação do Senar, da Famasul?
Bertoni: O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso do Sul tem como missão levar conhecimento para as pessoas que vivem e trabalham no campo, com inovação e sustentabilidade. Atuamos por meio de parceria com 69 sindicatos rurais, o que possibilita estarmos presentes em todos os municípios do Estado.
No portfólio do Senar-MS, os interessados podem conferir os cursos de Formação Profissional Rural e Promoção Social, presenciais e a distância; capacitações de nível técnico, presenciais e semipresenciais; cursos híbridos e uma plataforma com capacitações 100% on-line. Todos são gratuitos e certificados.
Os produtores rurais, de 12 cadeias produtivas, têm à sua disposição a Assistência Técnica e Gerencial, que oferece assistência técnica mensal e gratuita com planejamento, gestão e orientações técnicas para otimização do negócio.
Também proporcionamos prevenção e melhoria da qualidade de vida para quem vive e trabalha no campo, com os programas “Sorrindo no Campo”, com atendimento odontológico, e o “Saúde do Homem e da Mulher Rural”, com consultas e exames nas especialidades médicas de urologia, ginecologia, oftalmologia e dermatologia, o qual já atendeu mais de 30 mil pessoas em Mato Grosso do Sul.
Outra iniciativa é o “Agrinho”, que tem o objetivo de conectar o campo à cidade, voltado para alunos do Ensino Fundamental, que recebem os ensinamentos teóricos e práticos, dentro e fora das salas de aula. Em 2022, poderão participar escolas públicas e privadas.
O Estado: A colheita de soja foi a menor nos últimos cinco anos. Isso já era esperado? Ao que se deve essa queda?
Bertoni: Apesar de toda tecnologia envolvida no setor, a produção agropecuária acontece a céu aberto, e está sujeita a situações que fogem do nosso controle. Muitas vezes, o produtor não tem como controlar as adversidades que podem causar prejuízos na produção, e neste ano tivemos muitos efeitos fortes do clima, que reduziram nossa produção e produtividade.
Para minimizar os impactos, os agricultores utilizam práticas de conservação do solo, como o plantio direto na palha, que ajuda na manutenção da umidade, principalmente na época de veranico, respeitando as recomendações do Zoneamento de Risco Agrícola, publicado pelo Ministério da Agricultura anualmente, seguindo as datas e a utilização de cultivares recomendadas para cada região.
Em MS, a produtividade estimada no início da safra era de 56 sacas por hectare, que nos conferia uma produção total de 12,773 toneladas. Após os danos causados pela estiagem durante este ciclo de cultivo, fechamos a produtividade média ponderada no Estado em 38,65 sacas por hectare, numa área total de 3,748 mil hectares, sendo assim, tivemos uma produção total que gira em torno de 8,692 milhões de toneladas.
A região norte teve produtividades maiores, de 71 sacas por hectare, e não sofreu grandes danos com a estiagem, porém sua área representa apenas 15% do total da área de Mato Grosso do Sul.
O centro representa 22% da área total e teve produtividade média de 46 sacas/ha, entretanto a região sul, que representa 62% da área total do Estado, teve média de 27,85 sacas/ha apenas, derrubando a média estadual.
Tivemos redução de 38,49% na produtividade e 34,68% no volume de produção da oleaginosa em relação à safra passada.
O complexo soja, em 2021, foi, em valores, o principal produto de exportação de Mato Grosso do Sul, responsável por trazer algo em torno de US$ 2,9 bilhões ao Estado.
O Estado: O seguro rural tem surtido efeito para os produtores? Com essa perda da soja, muitos chegaram a usar para tentar salvar?
Bertoni: Para nós, produtores, o seguro rural é um investimento que faz toda diferença quando temos imprevistos no campo, em especial as adversidades climáticas. Aderir ao seguro rural é uma importante estratégia de gestão para minimizar os possíveis impactos financeiros.
O Estado: O que esperar da colheita do milho? Pode acontecer de ter o menor volume também?
Bertoni: Ainda é cedo para falar de produtividade, mas a expectativa é positiva. A chuva desta semana sinaliza uma perspectiva satisfatória, porém a falta de água no início do período pode impactar a produção.
O Estado: Em relação à conquista de MS estar na área livre de febre aftosa. Quais os pontos positivos dessa conquista?
Bertoni: Conforme anúncio feito pelo Mapa, Mato Grosso do Sul será área livre de febre aftosa sem vacinação a partir de 2023, o que representa importante avanço ao setor e um grande salto para a economia do Estado. Para a nossa produção, que já tem excelente qualidade, traz um status maior de segurança alimentar e mais competitividade aos nossos produtos.
Para nós produtores, essa conquista representa o excelente trabalho realizado pela iniciativa pública e privada. A Famasul faz parte do Comitê Gestor do Plano Estratégico do Programa Nacional de Vigilância da Febre Aftosa, e estamos à frente de grandes agendas para compartilhar informações, desenvolver ações e projetar o Estado nesta nova condição sanitária.
O Estado: MS está entre os estados com maior crescimento do PIB. Como a Famasul vê este resultado, ainda mais com a ajuda do agronegócio?
Bertoni: Mato Grosso do Sul está com bom crescimento do PIB, alta de 4,9%. E a expectativa é de aumentar cada vez mais, com a chegada de grandes empreendimentos. No agronegócio em especial, com a expansão dos setores de celulose, mineração, grãos e proteínas (bovina, peixe, aves e suínos).
A participação do agro no PIB de Mato Grosso do Sul mostra sua importante contribuição para o desenvolvimento do Estado, ampliando as oportunidades de empregos e renda à nossa população.
O Estado: Em relação ao reajuste da energia, os mais afetados foram os produtores rurais, com 25%. Quais os impactos que isso pode acarretar tanto para o produtor como para o consumidor final?
Bertoni: O impacto é diretamente no custo de produção, pois a energia elétrica é um dos principais elementos que compõem este custo na agropecuária. Destaca-se o impacto na bovinocultura de leite, avicultura e suinocultura, e naquelas que utilizam irrigação, as quais são totalmente dependentes da energia elétrica.
O Estado: O que faz com que a arroba do boi e da vaca tenha queda ou alta? Recentemente a arroba do boi teve queda de R$ 15; o que pode ter deixado os produtores preocupados.
Bertoni: O mercado pecuário é regido por ciclos, tendo vários fatores exercendo influência nos custos de produção, sendo os principais a cotação do dólar, a renda da população, acordos comerciais, clima, consumo interno e conflitos globais.
O Estado: Muitos alimentos têm tido alta nos preços. O repasse ao consumidor final é algo que começa desde a produção, além de outros fatores também. Qual é a parcela do produtor rural nesse encarecimento?
Bertoni: A produção agropecuária, como qualquer outra, tem seus custos de produção. No caso do agro, os insumos, adubos e sementes, utilizados “dentro da porteira”, têm sofrido recorrentes aumentos, e também aqueles de “fora da porteira”, como transporte, processamento, embalagem e comercialização.
Para cada produto, uma dessas etapas tem maior ou menor influência na formação do preço que chega ao consumidor final. Por isso os produtores rurais estão sempre atentos, acompanhando o mercado e buscando informações para conseguir se planejar e produzir com maior eficiência e maior economia.
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