Profº MSc. Celso Cavalheiro
Os dados estatísticos sobre autismo no Brasil são totalmente obscuros. Dados oficiais estimam que são aproximadamente 2 milhões de casos no país. Não existem levantamentos de pesquisas estatísticas que nos permitam quantificar quantos são os casos de autismo e onde eles estão mais concentrados. O fato novo é que para o Censo IBGE de 2020 serão lançados perguntas e questionamentos sobre o assunto, após uma luta incansável de pais, mães e entidades públicas e privadas que cuidam de crianças com o TEA – Transtorno do Espectro Autista. Espera-se que a partir desse censo 2020 esses dados possam ser definitivamente revelados e possamos tomar ciência de quantos são os casos e suas características individuais, ao mesmo tempo em que esperamos que o governo possa definir políticas públicas que atendam as necessidades das crianças autistas e de seus cuidadores e cuidadoras.
Mas afinal, o que é autismo? Distúrbios comportamentais sem causa definida: A literatura descreve autismo como sendo uma síndrome que afeta a comunicação, o comportamento e a interação social. Em sua vida social, escolar e familiar, a criança com autismo pode apresentar atitude comportamental inconvencional: ficam agitados, apresentam movimentos corporais repetitivos ou não desejam interagir com pessoas estranhas à sua convivência diária. Essas atitudes acabam provocando reações adversas por parte de algumas pessoas da sociedade. São muitos os relatos de mães e pais de crianças autistas que afirmam já terem deixado de participar de cultos ou missas por conta da inquietude das crianças. Outros afirmam que ir com filho autista em bancos, supermercados, cinemas e até mesmo praça pública é muito constrangedor pois é comum alguma pessoa dizer às mães: “por que você não educa essa criança”?
Outra questão importante associada ao TEA é o diagnóstico. São poucos os pediatras que estão preparados para um diagnóstico preciso. Costumam confortar pais e mães de que a fala tardia é aceitável pois a criança tem boa audição e resposta neurológica satisfatória. Muitas vezes ocorre uma demora para se obter um diagnóstico definitivo e esse diagnóstico tardio prejudica a recuperação da criança. Ainda que seja correto afirmar que não tem cura para o transtorno do espectro autista, sabe-se que terapias comportamentais e trabalhos psicopedagógicos, com apoio de equipe multiprofissional colaboram muito para a melhora do quadro da criança. Daí a importância de um diagnóstico conclusivo o mais precoce possível, pois já a partir dos 18 meses de vida é possível detectar alguns sinais que indicam o quadro de autismo.
O acompanhamento do TEA pode ser realizado em instituições públicas e privadas. Recentemente visitei duas instituições que se dedicam ao atendimento de crianças autistas: A PESTALOZZI do município de Aquidauana e a APAE de Campo Grande. Fiquei impressionado positivamente com a estrutura física, de equipamentos, de equipe multiprofissional, da limpeza das duas, mas acima de tudo, fiquei impressionado com o brilho nos olhos e no calor humano daquelas pessoas que prestam serviços nas duas instituições. Serviço gratuito em instituições que recebem alguns recursos públicos e apoio da sociedade.
Além da PESTALOZZI E APAE de todo o estado de Mato Grosso do Sul, é possível também encontrar apoio para autistas nos CAPSs infantis, na capital e em alguns municípios, além clínicas e escolas particulares que atendem crianças e adolescentes com o transtorno do espectro autista.
A sociedade moderna precisa começar a agir como sociedade moderna. É preciso dar um basta a essa situação “excludente “ que foram submetidas as crianças e famílias de autistas no Brasil e em especial no Mato Grosso do Sul. Vivemos um momento da inclusão social no país e nos deparamos com essa exclusão, inclusive em algumas escolas, onde a criança autista é separada do grupo de alunos sobre o pretexto de “não atrapalhar os demais colegas”.
Precisamos entender que uma criança que tem comportamento diferente não pode ser separado do grupo, sob pena de a qualquer momento destes, revivermos uma nova onda de segregação social, inconcebível em qualquer sociedade moderna. Um “comportamento diferente” não torna o ser humano inferior. O comportamento autista precisa ser conhecido, aceito e compreendido na sociedade. As famílias de autistas necessitam do resgate social. Da possibilidade de frequentarem espaços públicos com seus filhos sem serem submetidos a situações vexatórias. Precisam sair da clausura doméstica, sob pena, de que enquanto isso não acontecer, esses cuidadores adoecerem juntos com suas crianças. O ser humano é ser social por sua própria essência e essa reclusão doentia de famílias em suas próprias casas é maléfica sob todos os pontos de vista.
A forma de se solucionar este problema é tornar o TEA amplamente conhecido, em todas as mídias sociais e esperar que os governos através da União, Estados e Municípios implementem políticas públicas em favor das famílias brasileiras.
* Pesquisador, Especialista em educação e Psicopedagogo