“Presentes de Grego” devem ser deixados como herança para a atual vice-prefeita da Capital, Adriane Lopes
Perto da data em que deve renunciar ao cargo de prefeito de Campo Grande para concorrer ao governo do Estado, Marcos Trad deixa como herança para a vice-prefeita, Adriane Lopes, alguns “presentes de grego”: obras não concluídas ou que nem saíram do papel por diferentes bairros da Capital.
Algumas das obras mais emblemáticas de Campo Grande, que tiveram eventos de lançamento com ampla cobertura midiática, estão em estágios bem diferentes, mas todas em ritmo aquém do esperado pela população. O mais dramático dos exemplos sequer conseguiu sair do papel: o Centro Comercial Terminal do Oeste, onde funcionou durante décadas, a antiga rodoviária de Campo Grande e o terminal de transbordo de passageiros das linhas de ônibus municipais.
“No dia 2 de fevereiro de 2010, a rodoviária saiu daqui. No dia 29 de dezembro de 2019 foi assinada a emenda de R$57 milhões do projeto Reviva Campo Grande que destinaria R$17 milhões para a revitalização da antiga rodoviária. No dia 19 de agosto de 2021 a prefeitura apresentou, para toda a Imprensa, o projeto de reforma das instalações, com a promessa de que as obras seriam iniciadas na 1ª semana de março”, lembra Rosane Mely de Lima, presidente da Associação de Moradores do Bairro Amambaí e administradora do condomínio comercial da antiga rodoviária.
A líder comunitária, afirma ainda que, recentemente, recebeu a informação de que a empresa que ganhou a licitação para realizar o projeto desistiu.
“Uma empresa desistir de uma obra de R$17 milhões?”, questiona a líder comunitária. Enquanto isso as áreas públicas estão tomadas por moradores de rua e usuários de drogas. Há 12 anos esperamos uma solução para esse problema que só não está pior por conta do excelente trabalho do 1º Batalhão da Polícia Militar. Temos operações constantes, além de oficial e viaturas à disposição, mas esses policiais, que merecem um prêmio, enxugam gelo, porque a solução definitiva desses problemas depende do poder público”, lamenta.
Centro de Belas Artes
No bairro Cabreúva, o presidente da Associação de Moradores, Eduardo Cabral, também vive um dilema quanto às promessas realizadas pelo gestor municipal. Ele está indignado com algumas das intervenções arquitetônicas no Centro de Belas Artes da Capital que ele considera “desperdício do dinheiro público”. Anunciadas no final do mês de fevereiro, as obras foram retomadas há poucos dias.
“Por que remover o piso de concreto usinado de 15 centímetros de espessura, de granilite, na área interna do prédio? O piso está sendo arrancado com o argumento de que havia fissuras no concreto (que se confundem com as juntas de dilatação) e para que ele seja readequado à acessibilidade’ e pondera: ”Para construir rampas para cadeirantes era necessário quebrar tudo e fazer de novo uma área tão grande de piso já construído?”, questiona.
Cabral também aponta outro problema: a totalidade da calçada de mosaico português que havia sido feita ao longo de toda a extensão da fachada frontal do Centro de Belas Artes, na avenida Ernesto Geisel, foi simplesmente soterrada pelo tráfego dos caminhões empregados na obra. “A calçada de mosaico português foi simplesmente patrolada”, lamenta Cabral.
Córrego Anhanduí
Outro ponto da cidade, onde as obras estão paralisadas e tiram o ‘sono’ dos moradores é a obra de reurbanização do leito do rio Anhanduí, margeado pela avenida Ernesto Geisel. A região sempre foi local de constantes enchentes que afetavam seriamente os bairros Marcos Roberto e Taquarussu.
Anunciada em 2012, no final do mandato de Nelson Trad Filho (PSD), irmão do atual prefeito, Marcos Trad, a obra se arrasta há dez anos, enfrentando problemas que vão desde licitações e suspensões da obra – que permaneceu inconclusa ao longo das gestões de Alcides Bernal e Gilmar Olarte (ambos do PP), assim como pelos 5 anos da gestão Marcos Trad, atualmente em seu segundo mandato. Para a conclusão da obra, que está parada desde 2020, a Prefeitura tem contrato com o Ministério do Desenvolvimento Regional até 30 de abril do ano que vem.
Depois de entraves burocráticos, a obra já sofreu interrupções por problemas de execução, como muros de contenção que ruíram em períodos de chuva. Em alguns trechos da obra, o leito do rio acumula grande quantidade de entulho de sucessivas obras paliativas realizadas ali ao longo de décadas.
Mas na área que recebeu intervenções recentes, a degradação já se faz presente. Parte das barras dos guard-rails de alguns pontos da obra já foi furtada e até moradores de rua improvisam barracas para se abrigarem no local. No final de outubro do ano passado, o prefeito Marcos Trad foi a Brasília para pedir à bancada federal de MS que negocie com o governo federal os recursos necessários para a conclusão dos dois trechos da obra, entre as ruas Abolição e Bom Sucesso (com custo estimado em R$ 25,6 milhões) e entre as ruas Bom Sucesso e Aquário (estimadas em R$ 15,8 milhões) que estão parados desde que a empresa responsável abandonou a obra, porque a prefeitura não tinha mais recursos em caixa para remunerar a execução.
Rotatória tiradentes
O reordenamento da rotatória entre a avenida Três Barras e as ruas Marquês de Lavradio e José Nogueira Vieira – dois corredores comerciais do bairro – que estava previsto para execução logo após a conclusão da rotatória das ruas Joaquim Murtinho e Ceará, também acumula atrasos e no momento ainda está em processo de licitação.
O projeto, que deve receber investimentos da ordem de R$1,5 milhão, terá algumas semelhanças com as restruturações das rotatórias da avenida Gury Marques, na saída para São Paulo, e da confluência das ruas Joaquim Murtinho e Ceará, no bairro Miguel Couto, e passará por uma reconfiguração completa: o canteiro central da rotatória será eliminado para o alargamento das pistas, que passarão a contar com duas faixas em cada sentido de tráfego e sistema semafórico. Vias próximas ainda passarão por alterações na direção do fluxo do trânsito.
No começo deste ano, o prefeito Marquinhos Trad anunciou alguns projetos previstos para este ano, dentre eles, destaque para a revitalização do Corredor Gastronômico da Avenida Bom Pastor; reforma do prédio do antigo Clube Surian, para dar lugar à Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI Surian), no centro da cidade; construção da Vila dos Idosos, próximo ao Horto Florestal; construção de moradias na região do Bairro Cabreúva e na área da Avenida Fernando Corrêa da Costa, dentro do programa de Habitação na área central do Reviva Campo Grande; e a Cidade do Natal, transformando o espaço em multiuso. Sendo assim, é possível perceber uma lista de desafios que Adriane Lopes vai herdar da atual administração municipal.
Texto: Silvio Ferreira