A secretária extraordinária de Enfrentamento à COVID-19 do Ministério da Saúde, Rosana Leite de Melo, não recomenda a realização do Carnaval em 2022. Ela argumenta que festas com grandes aglomerações podem aumentar a transmissão da doença.
Segundo Leite, apesar de o país já estar com alta cobertura vacinal, nesses eventos há dificuldade de manter protocolos não farmacológicos que são importantes para evitar a contaminação. Entre eles o uso de máscara, medida de distanciamento e higiene das mãos.
A declaração foi dada em audiência pública na Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (8).
“O Carnaval é uma festa que nós nos aglomeramos, que nós estamos juntos. É impossível você não ficar aglomerado nessas festas. E nós sabemos que mesmo o indivíduo estando com o seu esquema vacinal completo, até com dose de reforço, ele pode se contaminar”, avaliou.
“É extremamente arriscado por tudo que nós já passamos, não só nós brasileiros, mas que o mundo já passou em relação a isso, fazer esse tipo de reunião, de comemorações no atual momento. É claro que estamos em dezembro, e em fevereiro ou março as coisas podem mudar. Mas hoje a nossa posição é que isso seja pensado com extrema cautela e não recomendamos no momento”, finalizou.
Entidades como a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Fornatur (Fórum Nacional dos Secretários e Dirigentes Estaduais de Turismo), CNM (Confederação Nacional dos Municípios) e Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) avaliaram que é preciso ter prudência com esse tipo de evento.
“A gente sabe que é uma festa de congregação, de aproximação. Sinceramente, a gente não vê como essas festas podem ter rigor das medidas não farmacológicas”, avaliou Fernando Avendanho, assessor técnico do Conass.
Doreni Caramori, presidente da Abrape (Associação Brasileira de Promotores de Eventos), discordou que não possa haver Carnaval. Para ele, proibir a celebração demonstraria uma precaução seletiva por parte do poder público, visto que já estão ocorrendo festas de grande porte.
“A maioria esmagadora de carnavais têm tamanho e condições operacionais inferiores a muitos eventos que já aconteceram e já comprovadamente não influenciara no aumento dos números. De modo que o debate que devemos fazer aqui é o debate das condições para a continuidade do processo de retomada que talvez não permita a realização de eventos para 15 milhões de pessoas, 18 milhões de pessoas, mas permite a realização de um conjunto grande de eventos que não impactam nas curvas epidemiológicas”, ressaltou.
O temor de uma nova onda de contágio da COVID-19, ainda mais com a descoberta da variante ômicron, tem feito diversas cidades cancelarem a folia. Em muitas das cidades, porém, os vetos se restringem somente à esfera pública. Prefeituras do interior e do litoral de São Paulo anunciaram nos últimos dias o cancelamento em massa de atividades carnavalescas em 2022.
A discussão foi além e houve entidades que também defenderam o passaporte vacinal para a entrada em eventos e também para a entrada de turistas no Brasil.
Apesar da recomendação da Anvisa, o governo federal não adotou a exigência do passaporte da vacina para o turista que quiser entrar no Brasil. A medida escolhida foi uma quarentena de cinco dias de viajantes não vacinados.
Bruno Wendling, presidente do Fornatur, avaliou que não implementar regras mais rígidas pode acarretar na perda da imagem de destino turístico sério e responsável que o país tem.
A Anvisa tem alertado que a ausência de um passaporte da vacina para entrar no Brasil pode transformar o país em um destino de férias para pessoas que se recusam a tomar o imunizante.
“Esse protocolo de não cobrar vacinação completa para turistas internacionais, mas apenas uma quarentena de cinco dias do qual a gente não sabe, de fato, qual será o controle, não é a medida que nós precisamos”, avaliou Wendling.
Avendanho lembrou que o Conass e Conasems (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde) fizeram uma nota em conjunto defendendo o passaporte vacinal.
“É extremamente importante, relevante. Nós temos que respeitar uns aos outros. Quem decide não tomar a vacina tem que respeitar e ser respeitado em relação a sua questão individual, mas estamos tratando de saúde coletiva. Quando a gente se protege está protegendo o nosso próximo, as pessoas que estão a nossa volta”, finalizou.
(RAQUEL LOPES/FOLHAPRESS)