Falta de pessoal foi evidenciada ainda mais diante de estragos causados pela tempestade em MS
As diversas ocorrências relacionadas aos estragos provocados pela forte tempestade ocorrida na semana passada, na Capital, escancararam ainda mais o problema de defasagem no quadro de funcionários da
Energisa. Mesmo com lucros de quase R$ 260 milhões somente nos primeiros seis meses do ano, o desempenho da concessionária de energia em MS destoa da qualidade do serviço prestado. O volume de queixas quanto à demora na solução dos problemas é grande.
Representantes do setor defendem que os investimentos da companhia com contratação de pessoal são pequenos e insuficientes para atender a demanda em situações de falta de energia em vários lugares, como a de agora. Desde quando assumiu as operações no Estado, em 2014, a empresa já demitiu mais de mil funcionários, conforme anunciado pelo Sinergia-MS (Sindicato dos Trabalhadores na Indústria e Comércio de Energia no Estado de Mato Grosso do Sul).
O presidente da entidade, Elvio Vargas, afirma que o efetivo atual não garante o atendimento devido. “Existe
uma carência de trabalhadores. Isso acontece porque nós temos o período normal de seca e o período chuvoso. E considerando que, tudo o que a operadora de energia faz é pensando nos custos, ela acaba não contratando.”
Vargas informou que outro método de economizar é realizando a terceirização das atividades. O quadro atual de empregados próprios é de 1.400 colaboradores. “Eu estimo que sejam mais de mil colaboradores
terceirizados da Energisa, o que impacta no atendimento, porque o trabalhador do setor elétrico demora para se formar.”
“Até ele aprender o serviço e estar pronto para uma emergência, como a de agora, leva de três a quatro anos para estar preparado. E a empresa faz uma rotatividade de demissões. Os antigos, que sabiam fazer
o serviço, já foram demitidos. A leitura de energia e serviços de corte, por exemplo, são terceirizados. E aqui, a Energisa não tem concorrente. É uma visão capitalista”, avaliou o presidente do sindicato.
Vargas reforça que o método de transferir as atividades para outras empresas acarreta na falta de estrutura adequada para treinamento dos funcionários, e critica dizendo que, mesmo com altos lucros, a em presa não investe na manutenção das redes e na contratação de profissionais, o que afeta a eficiência dos serviços
em épocas de intensas chuvas.
Lucro líquido
Conforme relatório divulgado pela Energisa, os números sobre o lucro líquido obtido neste ano representam
mais que o dobro do registrado em 2020, quando o valor referente ao acumulado nos seis primeiros meses foi de R$ 116,6 milhões. Em 2021, para o mesmo intervalo de tempo, a cifra saltou para R$ 259 milhões, diferença de 122%.
Além do período semestral, a empresa também obteve alta no lucro durante uma sequência de três meses. A publicação aponta que, no segundo trimestre do ano passado, foram R$ 31,9 milhões. Neste ano, o montante foi de R$ 138,8 milhões, um aumento de 335,4%.
Fiscalização
De acordo com a Procon-MS (Superintendência para Orientação e Defesa do Consumidor), em Campo Grande já foram registradas 60 notificações relacionadas à Energisa, desde o vendaval ocorrido na cidade.
Segundo o superintendente do órgão, Marcelo Salomão, uma multa de até R$ 50 mil pode ser aplicada à empresa.
“Nós abrimos procedimento e notificamos a Energisa para que dê explicações. Temos de dar o contraditório e a ampla defesa. Depois, vamos avaliar com o nosso jurídico se aplicaremos ou não a multa. Mas é bem provável que as multas serão aplicadas em virtude da demora no restabelecimento da energia desses consumidores”, acrescentou Salomão.
Em nota, a Energisa esclareceu que, em relação aos fenômenos naturais ocorridos na semana passada, a distribuidora restabeleceu, por hora, 15 vezes mais clientes que em dias normais de serviço. “Em razão
da severidade dos estragos na rede elétrica, esse índice só foi possível porque a concessionária trabalha com dez vezes mais equipes em campo, de forma ininterrupta, para restabelecer o serviço em áreas onde ainda há falta de energia, e isso inclui reforço de outros estados do país.” (Texto: Felipe Ribeiro)