Em plena luz do dia, seguranças privados foram flagrados ateando fogo em uma casa do povo Guarani Kaiowá na manhã desta segunda-feira (6). Além de não se intimidarem por estarem sendo gravados, ameaçaram voltar à noite. A ação foi publicada na página do CIMI (Conselho Indigenista Missionário).
Da semana passada para cá, pelo menos três casas da etnia foram queimadas por quem apontam ser seguranças privados de fazendeiros no tekoha Avae’te, em Dourados . Os indígenas relatam que os ataques se intensificaram nos últimos dias, mas são constantes.
O registro feito pelos indígenas mostra o momento exato em que a casa é incendiada. Os homens estavam em duas caminhonetes e, de acordo com os indígenas, fizeram disparos de arma de fogo antes de colocaram fogo na residência.
“Quando chegou ali, deram tiro. E aí a criançada saiu da casa e correu, e a mãe também, o marido e as três crianças. Por isso que ele aproveitou, chegou lá e queimaram”, relata a Guarani Kaiowá Kunha Redyi, também moradora do tekoha.
medo
Os tiros relatados, afugentaram os indígenas, que com medo, saíram do local. Ali, na casa queimada, moravam o casal e três filhos. Nas imagens, um dos homens caminha do automóvel branco até a casa coberta de sapé – material altamente inflamável, mas sagrado para os Guarani Kaiowá.
Eles recebem cobertura para o ato, de homens da caminhonete preta. Conforme os moradores, esta seria a caminhonete do “atirador”. Sem qualquer problemas de praticarem a ação e sendo filmados, eles ainda impedem que os Guarani Kaiowá se aproximem da casa. Mas, não ficou só nisso, eles ameaçaram os indígenas.
“Quando viram que a gente filmou, falaram assim: ‘vamos vir de noite, porque de noite não dá para tirar vídeo e nem foto, que é escuro. Vamos à noite mesmo, derrubar todas essas casas aí’”, relata a indígena, que testemunhou o ataque.
violência constante
O território onde vivem hoje os indígenas foi retomado. O tekoha Avae’te fica próximo aos atuais limites da reserva de Dourados, área reivindicada pelos indígenas como parte de seu território tradicional. Conforme os indígenas, há ataques quase diários de seguranças privados, que utilizam uma caixa d’água como “base” de operações no local.
Mas o mais temido por eles é um trator blindado e modificado com chapas de metal, utilizado para atacar os indígenas e derrubar os barracos das retomadas, conforme eles, o “Caveirão”, como apelidaram o veículo, também serve de plataforma de tiros contra os Guarani e Kaiowá.
Todo o contexto contribui para a violência constante, são cerca de 20 mil indígenas que vivem confinados em apenas 3,4 mil hectares na Reserva Indígena. “É todo dia, né. O homem [que teve a casa queimada] já teve o braço direito ferido. Aí outro atiraram também na perna, não conseguiu mais movimentar. Com arma de borracha também foi ferida gente… eles não têm mesmo dó. Não é de agora que tem ameaça. Já vai fazer três anos que todos os dias eles vêm. Se não vêm de manhã, vêm de tarde. Por isso que a gente não fica no sossego”, afirma Kunha Rendyi.