Para infectologista, vacinação em massa de fronteira é esperança para controlar pandemia
O infectologista, Julio Croda, é o coordenador do estudo que, desde o dia 2 de julho, vacina em massa os moradores das cidades que fazem fronteira com o Paraguai e Bolívia. Em entrevista ao O Estado, o médico comemorou o marco de mais de 84 mil pessoas vacinadas, o que equivale a 85% da população que vive nos municípios fronteiriços.
Para ele, um resultado promissor antes mesmo de encerrar a imunização na fronteira. “Lógico que queremos vacinar 100% da população, sempre é uma meta importante, mas a gente sabe que se atingir 85% ou 90% de cobertura vacinal, nessa faixa etária, gera a imunidade rebanho, a imunidade direta, que pretendemos avaliar no estudo”, explicou.
O estudo foi encabeçado por Croda e apresentado ao Ministério da Saúde, que aprovou a pesquisa que busca saber se a vacina Janssen é eficaz contra novas variantes. Foram enviadas 165.500 doses especificamente para imunizar esse grupo que será monitorado pelo pesquisador. Porém, a chegada dessas doses foi marcada por uma “queda de braço” entre Estado e prefeitura de Campo Grande, já que o prefeito da capital, Marquinhos Trad, recorreu ao Ministério Público de Mato Grosso do Sul para que esse quantitativo fosse divido de forma igual para todos os municípios. A atitude foi definida por Croda como um “ataque à ciência”. “Porque o que está sendo gerado em relação ao projeto, vai beneficiar diretamente a população”, assegurou.
Mesmo assim, a vacinação em massa nos municípios fronteiriços começou e foi definida pelo secretário de Estado de Saúde, Geraldo Resende, como um marco na história de Mato Grosso do Sul. No dia da chegada dessas doses ao Mato Grosso do Sul, 1º de julho, o titular da SES (Secretaria de Estado de Saúde) afirmou que o estudo possibilitaria adiantar a vacinação da população e garantiu que a expectativa é que até setembro todos os sul mato-grossenses estejam vacinados contra o novo coronavírus.
Desde o começo da pandemia, Croda tem se mostrado incansável na luta contra a COVID-19, alertando a população sobre os riscos e formas de combate, como as medidas de restrição. Com o cenário positivo da vacinação na fronteira, até mesmo o semblante do infectologista está diferente: mais alegre e confiante de que até o fim do ano a
pandemia esteja controlada no Estado. “Para termos essa esperança, precisamos que toda a população se vacine. Nesse momento, qualquer vacina faz toda a diferença”, alertou.
O Estado: Qual o balanço que se pode já fazer do estudo da vacinação em massa na fronteira?
Croda: Nós temos mais de 84 mil pessoas vacinadas nas 13 cidades de fronteira, isso nos dá uma cobertura de 85% da população acima de 18 anos, com, pelo menos, uma dose. Sabemos que já tinha uma população importante vacinada com outras vacinas. Ali a gente tem uma população entre 200 e 250 mil habitantes. Então, pelo menos, 120 ou 140 mil habitantes já tinham tomado a dose de outra vacina ou o seu esquema vacinal completo, já realizado e com a vacina da Janssen, a gente pôde expandir para todos até 18 anos e atingirmos esse indicador de 85% da população maior de 18 anos, que a vacina permite, porque não pode vacinar crianças com uma dose só e com a cobertura vacinal bastante avançada. Lógico que queremos vacinar 100% da população, sempre é uma meta importante, mas a gente sabe que se atingir 85% ou 90% de cobertura vacinal, nessa faixa etária, gera a imunidade rebanho, a imunidade direta, que pretendemos avaliar no estudo. Serrana (SP) vacinou 95% por cento dos adultos e conseguiu gerar imunidade rebanho, acreditamos que com a vacina da Janssen vai ser muito próximo também, vamos conseguir mensurar esses indicadores.
O ritmo está adequado, muitas vezes vamos ver o posto [de saúde] vazio, agora, porque não tem mais ninguém para imunizar. Percebemos que houve uma queda muito importante nos drive-thrus dessas cidades. As prefeituras estão fazendo agora a busca ativa, indo nas fazendas, até a população ribeirinha, de assentamento. Em Ponta Porã tem o (Assentamento) Itamarati, que é uma grande população assentada. Em Corumbá tem a população ribeirinha que é enorme. Então, o objetivo agora é chegar nessas comunidades, onde estão as pessoas que não foram vacinadas, não moram na cidade e não tiveram oportunidade de comparecer nesses locais de pronto atendimento. Com
equipes menores, aviões, barcos, pretendemos atingir nosso objetivo.
Acesse a entrevista completa na edição digital do Jornal O Estado de MS.
(Texto: Mariana Ostemberg)