O ditado afirmando que “quem muito escolhe acaba escolhido” pode ter efeito prático na vacinação contra a COVID-19 em Mato Grosso do Sul. A exemplo de cidades de São Paulo, Santa Catarina e Minas Gerais, que decidiram mandar para o fim da fila os chamados “sommeliers da vacina”, que selecionam e até se
recusam a receber imunizante de determinada fabricante, baseados em critérios pessoais e sem base científica, o Estado cogita adotar a tática por aqui. “Há uma reclamação dos secretários municipais de saúde sobre essa tentativa de escolher vacina. Tenho recomendado a eles para não ceder a essa pressão e aplicar as doses que estão à disposição.
Caso tenhamos isso com muita frequência, poderemos adotar essa medida de deixar para o fim da fila aqueles que queiram escolher. Vão ficar por último e,
se quiserem, serão imunizados com a vacina que estiver disponível na ocasião”, alerta o secretário estadual de saúde, Geraldo Resende. Ele lembra que os quatro imunizantes usados em Mato Grosso do Sul – CoronaVac, Astrazeneca, Janssen e Pfzer – são rigorosamente testados e aprovados pela Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária) e todos têm eficácia satisfatória contra o novo coronavírus. “Todas as vacinas são boas. Pessoas que estão escolhendo precisam ter
cuidado porque o vírus pode escolhê-las e, amanhã, estarem em um leito de UTI. Vacina não é como um menu de restaurante. Pensar assim é muito ruim para o serviço de saúde e para a imunização”, completa.
Apesar da tentativa de punir os “sommeliers”, Mansour Karmouche, presidente da OAB-MS (Ordem dos Advogados de Mato Grosso do Sul), afirmam que a proposta pode ter obstáculos constitucionais e, segundo ele, provocar “enxurrada de ações judiciais contra o Estado. “Acho arriscado e um péssimo exemplo quem seleciona vacina por marca, já que todas são comprovadamente eficazes. No entanto, não tem base legal privar uma pessoa de se vacinar mesmo com ela
se encaixado nas exigências do chamamento. Se isso acontecer, a causa pode, inclusive, ser judicializada”, explica.
Nos pontos de vacinação espalhados pelo município, não é difícil encontrar quem desista de se imunizar ao saber a marca da vacina, mesmo depois de ter enfrentado horas de fila. Na lista das “queridinhas“, a Janssen, da fabricante Johnson & Johnson, desponta como a preferida por ter aplicação única. Em seguida, o que mais desperta interesse é o imunizante da Pfizer, seguido da vacina da Astrazenca e CoronaVac.
Para coibir a seleção, as prefeituras de Criciúma (SC), Juruaia (MG) e São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul, ambas em São Paulo, decretaram que, quem se recusou a tomar a vacina nos postos de imunização depois de saber a marca, terá direito somente quando pessoas com 18 anos já tiverem recebido
a dose. Na justificativa, as cidades usam decisão do STF (Supremo Tribuna Federal) que deu autonomia a estados e municípios sobre o enfrentamento à pandemia.
Em Rio Preto e Jales, também em São Paulo, notificação sobre a recusa será encaminhada ao Ministério Público Federal. Já em Urupês (SP), quem não quis determinada marca tem de ir para a fila da xepa, caso se arrependa e queira receber a dose da vacina. Segundo dados da SES (Secretaria de Estado de Saúde),
desde o início da vacinação, em janeiro deste ano, Mato Grosso do Sul já recebeu 2.002.825 doses, sendo que 96,67% das doses já foram aplicadas.
Texto: Clayton Neves