Alterações climáticas deixam florada dos Ipês atrasada e irregular em Campo Grande

VALENTIN MANIERI
VALENTIN MANIERI

O colorido exuberante que na última semana mudou a paisagem das ruas de Campo Grande anuncia que o momento deles chegou. Árvore símbolo de Mato Grosso do Sul, os ipês fizeram com que diversos pontos da cidade ganhassem tons de rosa, amarelo e branco, prendendo atenção de moradores que não desperdiçam a oportunidade de uma ‘selfie’. Apesar da formação que encanta, especialistas afirmam que neste ano a florada está atrasada e irregular.

“Neste ano a oscilação climática foi intensa. Choveu menos, recentemente tivemos um período de frio seguido de calor forte e agora, novamente estamos com temperaturas muito baixas. As plantas também acompanham tudo isso e por isso, a florada dos ipês em Campo Grande está irregular e atrasada”, explica o biólogo e professor Reginaldo Brito da Costa. Segundo ele, o tempo de florada da espécie acontece entre os meses de junho e agosto.

Para facilitar a compreensão do que aconteceu basta imaginar que a árvore tem uma espécie de “relógio biológico” dentro de si, responsável por determinar o momento de florescer. Para ser ativado, esse “reloginho” leva em consideração como se comporta a temperatura, níveis de chuva e grau de estiagem. “Existe uma estrutura que detecta essas oscilações e a depender de fenômenos como o El Niño ou La Niña, por exemplo, esse florescer adianta ou atrasa um pouquinho e foi isso o que aconteceu neste ano”, explica.

Além de bela, a árvore do Ipê é considerada ousada por abrir flores durante o período em que o clima está seco, o que pode colocar em risco sua resistência. E é justamente por isso que as flores duram tão pouco tempo, de três a no máximo 15 dias.

“É um risco florescer nesse período seco porque gasta-se energia nesse processo. Por isso as flores caem rápido e logo dão novamente lugar às folhas, que fazem a fotossíntese e dão alimento à árvore. Isso precisa acontecer rápido, caso contrário, o Ipê fica muito danificado e pode perder a resistência”, aponta.

Apesar do risco, o Ipê também se mostra uma árvore inteligente por enfrentar o risco em nome de um objetivo específico. “Quantas árvores estão floridas nesse período? Pouquíssimas. Então, com baixa competitividade ecológica, o Ipê atrai mais polemizadores e assim maximiza a produção de semestres. É uma estratégia inteligente de reprodução”, finaliza o professor.

Em uma volta pela cidade é possível notar que o florescer não está regular. Em locais onde há filas inteiras de Ipês, nem todas estão floridas como de costume. Apesar disso, com o vai e vem do dia a dia, ainda dentro da pandemia, muita gente não notou a alteração.

“Não me lembro de ter visto esse ano. Acho que pelo fato de não estarmos viajando ou até mesmo saindo menos de casa para lazer, por questão da pandemia, passou despercebido”, comenta o empresário Frank Rossatte, de 34 anos. Nas redes sociais, Frank coleciona fotos sob a árvore aproveitando o visual dos tapetes coloridos formados por flores caídas. “Eu sempre tirava fotos”, relata.

Texto: Clayton Neves

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