Existem explicações do porquê a moeda estrangeira subiu e nada indica que voltará a cair tão cedo, para o desgosto de quem planeja férias para fora do país. O mercado tem trabalhado com o valor de R$ 4 para o novo piso do dólar.
A primeira explicação para essa completa mudança de patamar do câmbio -frustrando as expectativas de quem, no começo do ano, projetava a moeda a R$ 3,60- está na entrada e saída de dólares da economia brasileira, chamada de fluxo cambial. No acumulado do ano, há uma saída líquida de quase US$ 9 bilhões, ante a entrada de mais de US$ 20 bilhões no mesmo período de 2018.
Aqui vale a regra de oferta e demanda: se há menos dólares na economia, mais cara a moeda americana se torna em relação ao real.
A saída de dólares tem ligação direta com a queda da Selic, a taxa básica de juros.
O país, que sempre foi conhecido como o paraíso dos rentistas, fazia no passado recente a festa dos investidores internacionais que vinham negociar juros e morder nacos de rentabilidades como 14% ao ano. Ao trazer dinheiro, o dólar recuava.
A recessão e o ciclo de queda de juros, que levou a Selic a 5,5% ao ano, com sinais de que ela poderá terminar 2019 em um nível ainda menor -em algumas estimativas, abaixo de 5%-, desanimaram não só o pequeno investidor brasileiro, mas os grandes estrangeiros também.
No exterior, as taxas de juros também caem -nos Estados Unidos foram para o intervalo de 1,75% a 2% ao ano no mesmo dia em que a Selic caiu ao menor índice da história. A velocidade da queda lá fora, porém, é menor do que aqui, tirando a atratividade de aplicações no Brasil.
Como a diferença entre os juros daqui e dos Estados Unidos nunca foi tão pequena, o Brasil perdeu atratividade.
Além disso, há uma aversão global ao risco, fruto da disputa comercial entre EUA e China e de sinais de desaceleração econômica global. Nos dois casos, o instinto dos investidores é o mesmo: tirar o dinheiro de países arriscados, como o Brasil, e levar para o porto seguro da dívida americana.
Para que houvesse uma queda mais pronunciada, seria preciso uma grande entrada de dólares no país.
Com o mercado financeiro pouco atrativo neste momento para o investidor externo, a chave são os grandes investimentos de infraestrutura -o único realmente no radar para este ano é o leilão da cessão onerosa, que vai ofertar barris de petróleo excedentes da área do pré-sal, cuja entrada de recursos ainda em 2019 depende do cumprimento de um calendário apertado. O leilão está previsto para 6 de novembro.
Existem ainda outros dois sinais de que é mais provável que a direção do dólar seja para cima e não para baixo. Uma delas é a forma como o Banco Central está intervindo no mercado de câmbio, diz Nehme. O BC está vendendo reservas no mercado à vista, injetando dinheiro no mercado. Porém, ele faz simultaneamente uma operação que, na prática, retira dólares no mercado futuro. Isso tende a manter a moeda elevada no longo prazo.
Outra razão está na forma como funciona o mercado cambial brasileiro, que tem o preço presente formado no mercado futuro. No mercado futuro, negocia-se a previsão de alta ou de queda. (João Fernandes com Folhapress)