Famílias avaliam benefício e acreditam que identificação especial vai ajudar a evitar constrangimentos
Muitas vezes, o autismo não tem “cara”, por conta disso uma pessoa com TEA (transtorno do espectro autista) tem de reafirmar o diagnóstico em certas situações e lugares, o que se torna algo cansativo e frustrante, principalmente para a família.
Quem vive isso constantemente é a vendedora Helenice Fátima Souza, de 43 anos, mãe de Pedro Henrique Duarte, de 11, que foi diagnosticado com TEA aos 3 anos. Ela consegue listar todos os lugares em que teve de “provar” que o filho é autista, como em espaços de atendimento de saúde, filas de supermercados e até mesmo em escolas, ou em parquinhos no shopping. “Em vários espaços temos que dizer: olha, ele é autista, por isso, a necessidade de um atendimento priorizado”, desabafou a mãe.
Helenice se lembra de que, em um certo dia, estava com o filho no supermercado e foi para a fila preferencial, já que Pedro se encaixa nesse público. Mesmo assim, a família não escapou dos olhares maldosos. “A espera para os autistas é algo que eles não toleram muito. Por estarmos nessa fila, um senhor acompanhado de uma senhora se incomodou, eles começaram a falar entre si que as pessoas não respeitam a preferência. Olhava para nós com expressão brava, como se estivéssemos usando o espaço de forma inadequada.”
Pensando nas pessoas que passam por essa situação e para garantir a prioridade no atendimento e no acesso aos serviços públicos, foi sancionada a lei que permite que pessoas com TEA solicitem o símbolo do autismo no RG (Registro Geral) da carteira de identidade.
Segundo o governo do Estado, a informação será inserida mediante requerimento do titular ou de seu representante legal, acompanhada de atestado médico ou de documento oficial que comprove a vulnerabilidade. A informação será colocada na forma escrita e por meio do símbolo mundial da conscientização do transtorno do espectro autista.
Para Helenice, esse novo direito é bem-vindo. “Eu vejo de forma muito positiva essa lei, vai facilitar para que não tenhamos que ficar carregando o laudo de nosso filho embaixo do braço. Porém, o preconceito está longe de acabar, porque o preconceito não respeita leis”, ressaltou a mãe.
Quem também acredita que a lei não vai proteger os autistas do preconceito é Rubenita Siqueira, mãe de Lucas Santiago Siqueira, de 12 anos, que também foi diagnosticado com TEA. “Eu não vejo isso como uma bandeira que vá proteger o meu filho ou outras crianças autistas. Eu não percebo isso como algo que seja vantajoso. Porém, eu entendo que, se nós temos direitos, temos de reivindicá-los.”
(Texto de Mariana Ostemberg publicado por Dayane Medina)
(Confira mais na página A6 da versão digital do jornal O Estado)