Hoje vou falar sobre o Gato Félix, um bichano preto, de olhos esbugalhados e de risada fácil, cujos desenhos eram regados de surrealismo foi criado no dia 9 de novembro de 1919. Inicialmente, ele se chamava Mestre Tom, na verdade um protótipo do que viria a ser o Gato Félix como conhecemos hoje. Sua estreia aconteceu em um curta animado da Paramount Pictures, de Pat Sullivan intitulado “Feline Follies”. O desenho foi um sucesso danado, e o estúdio Sullivan rapidamente começou a trabalhar na produção de outro filme do então Mestre Tom, chamado “The Mews Musicals” (lançado em 16 de novembro de 1919), e este também conquistou grande audiência.
O gato era cheio de peripécias incríveis. Sua cauda podia virar uma pá num instante ou um ponto de exclamação e, no momento seguinte, um lápis. E a maleta que carregava consigo se transformava em qualquer coisa: de toalha de banho a paraquedas. Sem falar que lá dentro cabe o espaço, o tempo, o universo e o que mais descobrirem por aí. Esse nonsense todo provou que é possível encantar crianças e adultos ao mesmo tempo. Me lembro de que adorava o desenho em minha primeira infância,e mesmo não entendendo nada do que se descortinava à frente da minha televisão, eu gostava pacas daquelas maluquices.
Em 1928 Felix foi escolhido como o primeiro cartoon que apareceria numa imagem de TV, em teste efetuado pela RCA (Radio Corporation of America) para a então “caixa mágica” que surgia. A RCA precisava de um “ator” com alguns detalhes em sua forma e cores bem contrastantes para testar e ajustar os equipamentos da época. Foi então construído um Félix de 33 cm de altura, em papel machê. A peça foi colocada para girar no prato de um fonógrafo, sob as luzes do estúdio da emissora W2XBS, canal 1, de Nova York. E assim, o sortudo bichano foi a primeira imagem transmitida pela televisão.
O sucesso de Félix entrou em declínio com a chegada dos desenhos animados que continham som, particularmente os do Mickey Mouse, de Walt Disney. Na época, Sullivan e Messmer não quiseram aderir à produção sonora e Félix ficou para trás. Em 1929, Sullivan decidiu finalmente fazer a transição e começou a distribuir desenhos animados sonoros de Félix. A iniciativa fracassou, sendo suspensa no ano seguinte. Sullivan faleceu em 1933. Félix ainda teve uma breve ressurreição, em 1936, com desenhos animados com som e em cores, mas Félix estava proibido de aparecer nos cinemas dos Estados Unidos e quase desapareceu, porém foi salvo pela televisão, muito tempo depois. Os desenhos animados de Félix começaram a ser exibidos pela TV dos EUA em 1953.
Joe Oriolo (criador do Gasparzinho), que dirigia as tiras de quadrinhos de Félix, redesenhou o gato, dando-lhe pernas mais compridas, para uma nova série de desenhos destinados à televisão. Oriolo também acrescentou novos personagens e deu a Felix uma nova bolsa mágica de truques, que podia assumir uma infinita variedade de formas, obedecendo às ordens do gato. Ele desenvolveu nessa época em torno de 260 episódios novos do Gato Félix e distribuiu para as televisões mais voltados ao público infantil, utilizando a trilha sonora criada por Winston Sharples, muito conhecida até hoje. Atualmente o filho de Joe, Don Oriolo, continua a divulgar e a promover o Gato Félix. Finalmente em 1991, o Gato Félix conseguiu protagonizar seu primeiro e único longa-metragem em “Felix the Cat: The Movie”. Com 101 anos, o Gato Félix continua sendo um ícone.
(Texto: Marcelo Rezende)