Mais de um século de arte em três grandes mulheres

Crédito: arquivo pessoal
Crédito: arquivo pessoal

Expoentes femininos

Rafael Belo

Somadas elas já vivem há 115 anos da arte. São três expoentes femininos dominando os cenários da música, dança e da literatura. A mais polivalente é a nova integrante da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, Lenilde Ramos musicista, compositora, cantora, percursionista e escritora,que alias está prestes a lançar seu livro mais fresco “João da Moto”. Ela vem lado a lado com suas colegas culturais: a arte-educadora, diretora, professora e coreografa Neide Garrido e a escritora Sylvia Cesco. Exemplos de pessoas premiadas e conquistadoras para o Dia Internacional da Mulher destacando que o poder feminino só pode ser direcionado por elas.

Lenilde Ramos bebe da fonte da música, poesia, leitura e artesanato desde o ventre. Seu pai investiu para que ela se tornasse polivalente e entre os diversos ensinamentos dele, ela aprendeu a tocar violão e foi incentivada a escrever seus primeiros versos e a compor músicas próprias. Aos 69 anos, Lenilde lembra que aos 10 já tocava nas festas do colégio. Lenilde reflete que cada momento vivido teve suas peculiaridades como ela própria as têm. “Não digo que tenho uma carreira, porque minha vida artística sempre foi uma boa miscelânea. Aproveitei ao máximo e aprendi com cada uma das minhas funções. Eu dependia das oportunidades de trabalho pra garantir a subsistência. Mas, o que pautou essa “carreira” foi a fidelidade à arte e o amor à cultura. É o que me guia até hoje”, analisa.

Lenilde tocou na Itália, Suíça, Nova York, conheceu a Europa e seu desejo é simples indo no rumo da escritora que se tornou. “Tenho planos, quero escrever até ficar bem velhinha e participar de concursos por aí. Eu sigo o caminho do Manoel de Barros, que até os 97 anos ainda tinha versos na cabeça”, pontua. Comparando o cenário artístico de Mato Grosso do Sul, Lenilde acredita que antes havia incentivo e promoção da cultura regional e agora é “pão e circo”. “É dar ao povo só o que o povo acha que gosta. Mas embaixo de toda essa cinza, meu amigo, tem muita brasa e muito fogo que ainda queima e produz muito calor. A verdadeira arte pode até fraquejar, mas nunca será derrotada”, avalia. Arte para ela são mãos, pés, coração, cabeça, pensamento e alma.

Neste Dia Internacional da Mulher, deseja que todas tenham consciência de sua força, dignidade e lucidez. “Será que temos que ser só o que esse mundo decadente quer de nós? Nós é que temos que mostrar para esse mundo decadente o que queremos dele. Esse é o papel da mulher”.

A arte de movimentar o corpo no ritmo

Já trazendo todo o corpo como arte dentro do desejo deixado por Lenilde, Neide Garrido, rumo a quinta geração de bailarinos passando pelos seus ensinamento no Ballet Isadora Duncan (BID) possui 46 anos dedicados a dança. Ela, que é idealizadora do Prêmio Onça Pintada da Dança do MS, sente esta sua arte desde que se movimentou e ouviu música pela primeira vez. A dança em Campo Grande talvez nem existisse como é hoje sem o trabalho de Neide que hoje considera o estágio de amadurecimento de Mato Grosso do Sul em evidência.

Conseguimos ser reconhecidos como trabalhadores brasileiros e como tal exercemos hoje nossos deveres e direitos. Me sinto em permanência cumprindo meu papel com utilidade e significado”, reflete. Neide Garrido, considera a necessidade de reorganizar e refazer a caminhada, focando e respeitando o setor não só como arte e cultura, mas como educação e transformação do ser humano para uma vida consciente e melhor. “Temos que forçosamente continuar nos reinventando, nos adaptar sem perder a essência do que conquistamos até agora”, avalia.

Ela é grata pelo reconhecimento que vive. “Tenho a sensação de estar sempre cumprindo minha missão com orgulho e amor em cada fase da minha vida…. O que não me deixa parar”, revela.

Para ela, dança é um caminho de luz que clareia sua vida com significado e utilidade. Por isso, deseja para as mulheres forças de permanência, renovação e ressignificação dos valores, focando a família e a união entre as pessoas nesse lugar que chamamos de Mundo!

planetas detalhados nas sublinhas das letras

Voltando para o planeta das letras, a escritora Sylvia Cesco, enxerga a arte de escrever como a metáfora da espera. Para ela escrever é o florescer das palavras espontaneamente ou aguardar que um generoso lavrador de palavras as venha colher, mostrar ao escritor e aos outros a intensidade de suas cores, cheiros e sabores. Sylvia traz à tona as palavras da sua mestra Maria da Glória Sá Rosa, a Glorinha, grande influência que a orientou. “Sylvia Odinei: continue escrevendo e faça da literatura o sol da sua vida”. Isto é que vem cumprindo. A escritora considera que a escrita acontece desde sempre em sua vida, mas o marco está em 2011 quando lançou seu primeiro livro de poemas: “Guavira Virou”. Aconteceu pela manhã em uma praça.

Também experimentada no teatro, atuou nas peças “Arena conta Zumbi” e “Foi no Belo Mato Grosso”. Ela ainda escreveu e dirigiu “Cobaia”, “Emitê emite” e “As mãos são ferramentas de Deus”. Para ela, o tempo trouxe mudança da dominação masculina na literatura para a ascensão das mulheres com grandes publicações. A grande representatividade das mulheres é marcada no Estado com nomes como Raquel Naveira e Diana Pilatti, entre várias outras. O mais marcante na na carreira dela foi “Emitê emite” escrito quase exclusivamente com versos do poeta Manoel de Barros, que foi agradecer Sylvia ao final da apresentação da peça e depois quando o mesmo poeta a consultou sobre o nome de um de seus livros. Ele não acolheu o conselho mas a presenteou com o original do livro datilografado.

Para Sylvia, a literatura é o que abre as janelas para a alegria de viver. É o que ela projeta para todas neste Dia Internacional da Mulher citando Clarice Lispector: “Passei muito tempo vagando em mim (…) Preciso abrir minhas janelas”, conclui.

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