Professores concordam que há queda na qualidade do ensino

Docentes ouvidos pela reportagem divergem sobre carga de trabalho no modelo a ser adotado a partir de abril

O modelo escolhido pela SED (Secretaria de Estado de Educação) para o retorno das aulas nas escolas estaduais em 2021 tem causado preocupação nos professores da REE (Rede Estadual de Ensino). Nesta semana, a pasta anunciou que as atividades começam na segunda-feira (1º) de forma on-line, mas que em abril o modelo vai passar a ser híbrido, com metade dos alunos em casa e a outra parte presencial. A decisão divide opiniões dos profissionais da educação, mas a maioria concorda que o novo método traz dificuldades de ensino para professores e alunos.

A professora Camila Torres dá aulas de Língua Portuguesa e Literatura na Escola Estadual Joaquim Murtinho, em Campo Grande, e também na rede privada. Ela explicou que nos colégios particulares, com modelo híbrido implantado no ano passado, os alunos que estão em casa e na escola acompanham as aulas simultaneamente.

Diferente do que deve acontecer na REE e pode deixar o trabalho “um pouco massivo”. “Você não prepara um tipo de aula, prepara duas formas de aula. Você tem de se organizar para trabalhar com o aluno que vai estar em casa remotamente e assincronamente”, explicou.

Mesmo assim, Torres acredita que o método escolhido pela SED é positivo. “Acho que tem tudo para dar certo, não dá para ficar só criticando o Estado. Temos de aceitar a forma como eles colocaram, tentar fazer o melhor e o possível por esses alunos”, ressaltou.

Diferente dos colegas, uma professora de Inglês, de 55 anos, que atua na REE há 14 e preferiu não ser identificada, acredita que não vai ficar sobrecarregada com o método escolhido pela SED, mas que o ensino vai enfraquecer.

“Esse que é o problema do híbrido, por exemplo, eu teria que trabalhar dez conteúdos que seria o normal, mas no híbrido, vou trabalhar no máximo cinco”, explicou. Mas ela se disse favorável ao retorno das aulas. “Eu não sou contra a forma híbrida porque acho que é, pelo menos, um recomeço”, enfatizou.

Quem também concorda que os alunos podem aprender menos com esse método é o professor de Química da Escola Estadual Joaquim Murtinho, Cléber Mello do Santos. “Vai ter de trabalhar com assunto mais superficial se quiser trabalhar com todos os assuntos durante o ano, porque, em vez de eu ter oito aulas no mês, vou ter só quatro.”

Ele concorda que é preciso retornar às atividades presenciais, mas fica em dúvida se este é o momento certo. “Estamos ansiosos em voltar para sala de aula, mas ao mesmo tempo, com medo de agravar [os casos de COVID-19]”, desabafou.

Já para o professor de História da Escola Estadual Amando de Oliveira, Francisco Givanildo, o método híbrido vai sobrecarregar os profissionais da educação. “Serão praticamente dois ou três sistemas de trabalho, então é uma sobrecarga de trabalho”, enfatizou.

Para ele, a volta de parte das aulas presenciais ainda pode ser perigosa na pandemia. “Os professores estarão nas escolas, os alunos estarão nas escolas, mesmo com o número reduzido, isso implica em aglomeração.”

Falhas na tecnologia preocupam

Uma outra preocupação dos professores é quanto ao acesso dos alunos à internet. Segundo o professor Cléber Mello do Santos, que também trabalha em uma escola particular, muitos estudantes encontram dificuldades para acessar os conteúdos on-line. “A comunicação com os alunos do Estado é bem difícil, bem precária, eu sinto um pouco deles perdidos.”

A professora Camila Torres também destaca esse problema, o que dificulta uma melhor maneira de ser implantado o modelo híbrido no Estado. “Seria melhor se pudéssemos trabalhar com sistema síncrono, que os alunos em casa estivessem acompanhando aqueles que estão em sala, mas não é a realidade dos alunos da escola pública”, lamentou.

Volta das aulas

O anúncio do novo formato das aulas foi feito pela titular da SED (Secretaria de Estado de Educação), Maria Cecília Motta, na última quinta-feira (25). Ela destacou que as primeiras duas semanas de março serão de “acolhida” para os alunos nas escolas.

(Texto: Mariana Ostemberg)

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