Há uma mística em alguns artistas sobre capacidade de nos encantarem em poemas e arranjos. O bom disso é que podemos significar essas palavras para aquilo que faz sentido em nossas vidas, não estamos desrespeitando a intenção inicial ou mesmo o compositor, mas sim perpetuando aquela sensação maravilhosa que essas palavras nos dão. Isso é deveras algo difícil, não pelo fato de sentar e escrever mas pela sinergia e química de uma banda ou por pessoas com desejo de fazer algo bom, bom mesmo sem falsa modéstia. Com a facilidade das redes e a rapidez com que vivemos você pode encontrar belos exemplares de boa música e gente deliberadamente talentosa que ouvimos por horas.
Pense você, no momento que estamos vivendo poucas coisas nos seguram em casa, afinal já se foram meses e ainda está longe de acabar. Mas devemos nos manter em isolamento. Lidar com a barra da saúde mental e fazer com que esse ambiente que hora ou outra também virou escritório fique agradável. Uma dica que posso dar como bom ouvidor é, Guilé. Um daqueles artistas que acompanham uma brisa aprazível em um dia difícil, e faz com que sua voz enternecedora nos toque em momentos melancólicos. Sempre penso que músicas têm uma intenção inclusa à sua existência, elas têm poder de nos colocar para cima ou para baixo. Guilé carrega uma mistura de boas letras, ótimos arranjos, e uma escolha pactuada de parceiros, sejam eles compositores, arranjadores e produtores. Ele ressalta com orgulho a participação de sua parceira Bia Godoy em faixas como “Presença no olhar”, e a maravilhosa “Não me venha me endireitar”. Que além de trazer uma mensagem esperançosa carrega trechos como “não venha me endireitar não senhor! A vida também é feita de dor”. Guilé assim como muitos artistas têm muita paixão e vontade em fazer seu som autoral, ele conta que tinha se planejado para gravar um álbum este ano e por conta da pandemia teve que se ater também há como tudo seria feito. “A gente fez bastante videoconferência em conjunto, eu e o produtor “.
Guilherme Santana enveredou por esse caminho há três anos. Nesse tempo, já subiu no palco do festival América do Sul e no já conhecidíssimo Som da Concha. Além de expandir seu público ele tem firmado ótimas parcerias como Raphael Vital que carrega muito do nosso estado em sua recente caminhada, além de outras figuras muito características como DoValle, Franke, Beca Rodrigues e LLEZ que dão um tempero muito especial em seu projeto, e Júlio Queiroz que fez a produção a distância. ”Cerca de quinze pessoas se envolveram no projeto…Pessoas que estiveram comigo e me ajudaram a concretizar esse álbum “.
O mineiro soa como um dia agradável, daqueles para guardar na memória ou até mesmo trilha sonora para momentos inesquecíveis. Defendo a tese de que um bom álbum engaja de tal maneira que pode mudar sua forma de ver o mundo, seja de longo ou curto prazo mas que mude mesmo, para que tenhamos um belo dia, belo mesmo. Além de abordar assuntos relevantes da política e da sociedade atual como na faixa “Tuiuiu Capoeira” que tem um arranjo muito elegante que guia uma ótima crítica sobre as queimadas de nosso Pantanal nos meses da seca. O músico conta que pretende lançar clipes para cada faixa. “É observar como cada pessoa vai receber, como cada música vai se comportar no mundo “. Não é pra menos, cada som merece uma produção audiovisual tão intensa quanto a experiência de entrar no mundo de Guilé através de seu mais novo álbum “Até que a Chuva Apague o Medo”.
Confira o álbum na integra:
(Filipe Gonçalves)
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