Exclusiva é com Geraldo Resende, Secretário de Estado de Saúde de MS

A taxa de ocupação de leitos volta a subir e preocupa as autoridades de saúde para um novo ciclo de enfrentamento à pandemia. O Estado Online foi até a Secretaria de Estado de Saúde (SES), para conversar com o Secretário Geraldo Resende sobre a reativação de leitos e o preparo da saúde para atuar contra uma nova onda da doença.

O Estado Online: Atualmente o Hospital Regional e a Santa Casa de Campo Grande estão sobrecarregadas com os novos casos de infecção pelo coronavírus. Sabemos que a pasta já está reativando alguns leitos, quantos devem ser colocados à disposição?

Geraldo Resende: Primeiro é importante salientar que nós nunca deixamos faltar leitos clínicos e nem leitos de UTIs. Com a expansão que tínhamos antes da pandemia, conseguimos usar para enfrentar a doença até no seu auge, em agosto e setembro, quando chegamos a ter mais de 70% de leitos novos.
Com a diminuição dos casos que ocorreram há 40 dias, o ministério faz a renovação da habilitação em cima da taxa de ocupação, que em algumas instituições estavam menores que 50%. Com isso, houve a desocupação de leitos à pedidos dos gestores municipais, que solicitaram que tivéssemos menos leitos.
Nos últimos dez dias, verificamos um aumento significativo da doença e um alto grau de positividade nos exames, ou seja, a cada bateria de exame nós percebemos que, de 30% a 50% são casos positivos. Observamos um aumento na coleta de exames, isso mostra que há uma profusão de pessoas sintomáticas que estão procurando a unidade de saúde. Quanto mais nós fizermos, maior compreensão teremos da dinâmica da doença. Já chegamos a ter mais de mil exames por dia, e o Lacen tem a capacidade de realizar mais de 1800, mas o grande problema que estamos enfrentando, tanto na capital como no interior, é que as pessoas só estão indo fazer coletas nos drive-thrus. No entanto, estão disponíveis à sociedade 12 unidades de saúde, que podem coletar até 30 exames por dia. Iremos reabrir mais 10 leitos no Hospital Regional, no Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian, e contratar mais 60 profissionais da saúde, entre enfermeiros, técnicos, médicos e fisioterapeutas.

O Estado Online: O senhor classifica essa fase como uma segunda onda?

Geraldo Resende: Nossa média móvel tem crescido muito nos últimos 7 dias, chegamos a 091, o que significa que, para cada 100 pessoas contaminadas, essa tem a capacidade de contaminar 91, e hoje já estamos em 098. A média de óbitos ainda não chegou na mesma margem, como no início em 14 óbitos diários, no entanto, já estamos em 6. Isso tudo porque o crescimento da doença está entre jovens de 20 a 39 anos, idade que o vírus não ataca com tanta agressividade. Alguns classificam como uma segunda onda, para nós, pode ser um pico da doença, a medida que houve um afrouxamento de medidas restritivas em todas as cidades do nosso Estado, como aglomerações, o não uso de máscaras, regras simples que poderiam evitar a proliferação. Isso mostra a total desobediência, falta de empatia com a vida das pessoas próximas.

O Estado Online: O senhor acredita que as eleições impactaram no crescimento dos casos?

Geraldo Resende: Podemos dizer que contribuíram, entretanto, não foram fatores determinantes. As aglomerações já vinham acontecendo mesmo antes do processo eleitoral. Nós vimos muitas pessoas fazendo festas, indo para boates, baladas, e é exatamente por isso que o vírus está entre essa faixa etária.

O Estado Online: Na sua opinião, se os municípios tivessem adotado programas como o Rastrear a situação estaria melhor?

Geraldo Resende: Há muita resistência, os municípios ficam brigando contra esse método, que poderia ser extremamente eficaz contra a onda de contágio. O rastrear deveria ser a missão de cada cidade. Se um paciente foi identificado com a doença, é importante que os profissionais de saúde monitorem essa pessoa durante a quarentena. Se ele está cumprindo, como está o quadro clínico, ir em busca das pessoas que tiveram contato para fazerem o teste em pouco espaço de tempo. Precisamos fazer com que prefeitos e prefeitas entendam a importância dessa questão, priorizar as vidas. Se isso não for feito poderemos enfrentar dias difíceis como na Amazônia.

O Estado Online: O comportamento da sociedade tem contribuído diretamente para a proliferação da Covid-19. Há preocupações de uma segunda onda mais agressiva? O vírus está se comportando diferente dessa vez?

Geraldo Resende: O vírus não está se comportando diferente, a população é quem está completamente errática, facilitando e proporcionando crescimento de infecções. Há preocupações sim, de ficarmos sem leitos, até hoje isso não aconteceu, mas do modo em que as pessoas não estão se importando, com certeza podemos chegar nesta estaca sim.

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