A chuva que era esperada não veio. E o Pantanal arde em chamas. Sem o aparecimento da água que vem dos céus para encerrar o período das secas, como ocorre historicamente na região neste mês, os incêndios no bioma vão batendo recordes: já são 101 incêndios por dia, a maior média registrada até aqui no ano. Ou seja, a cada três horas, um novo ponto de queimada aparece.
Segundo dados do Ciman (Centro Integrado Multiagências de Coordenação Operacional Nacional), espécie de força-tarefa de órgãos do governo federal que vem atuando no Pantanal sul-mato-grossense, foram 1.318 incêndios já registrados somente neste mês até a conclusão desta reportagem.
Desde o começo da medição da série histórica, em 1998, somente em outros dois anos o mês de outubro registrou números maiores, com 1.931, em 2002, e 2.152, no ano passado. Em ambas, no entanto, a média diária estava bem abaixo: 64 e 71, respectivamente.
Neste ano, com os 2.173 incêndios registrados em agosto e 2.341 em setembro, as médias diárias também ficaram menores, com 72 e 78 casos, respectivamente.
Na média histórica do Ciman, somente em duas oportunidades a média diária de incêndios foi maior do que a registrada até neste mês: em agosto de 2005, quando foram 5.156 pontos em chamas – 172 por dia -, e em setembro de 2007, com 4.119 ocorrências do tipo – 137 diários.
Chuva, a única esperança
E o que precisa acontecer para acabar com o pesadelo no Pantanal? A resposta é fácil: chover. A meteorologista Franciane Rodrigues, do Cemtec (Centro de Monitoramento de Tempo, do Clima e dos Recursos Hídricos de Mato Grosso do Sul), aponta que os recordes de queimadas quebrados em outubro são totalmente influenciados pela falta da chuva.
“Historicamente, as queimadas param ou diminuem em outubro com a chegada das chuvas. Um processo que culminava nas cheias do verão. Mas, esse ano, as coisas estão complicadas”, disse Franciane.
O que era pra ser muita água, agora são garoas, como no último final de semana, quando menos de 0,3 milímetro foram registrados. A umidade relativa do ar não passa dos 35%. Isso porque a previsão inicial era de 20 milímetros, agora adiados para virem entre os dias 16 e 24.
Para a bióloga e presidente do Instituto Arara Azul, Neiva Guedes, a secura tem outras explicações. “Alguns fatores propiciaram a grande quantidade de queimadas no Pantanal neste ano, mas aconteceu sobretudo porque nos últimos anos temos registrado aumento no desmatamento da Amazônia. Isso provocou uma menor formação de chuva e diminuição da umidade”, disse.
Guedes enfatizou como o desmatamento influência nessa cadeia. “O Pantanal é provido de água vinda da Amazônia por meio dos rios voadores. Então, a área desmatada, o tempo seco e as altas temperaturas formaram um conjunto de elementos que impediu a formação de chuvas. Consequentemente, o nível dos rios não se elevou e o Pantanal não foi inundado como é característico do bioma, criando assim uma paisagem com matéria orgânica altamente combustível”, disse. Leia outras notícias relacionadas.
(Texto: Rafael Ribeiro)