Na onda de calor, nem árvores dão conta de amenizar o clima

A sombrinha de uma árvore pode ajudar, mas não alivia totalmente os efeitos do calorão em Campo Grande. É o que O Estado apurou indo ontem (8) a três locais extremamente arborizados da Capital de posse dos termômetros especiais usados por especialistas em meteorologia da UCDB (Universidade Católica Dom Bosco).

Após um dia que terminou com fortes chuvas, a expectativa para os campo-grandenses era de enfim ter fôlego depois de quatro dias seguidos de quebras de recordes de calor. Pois bem, em parte a esperança foi alcançada.

A quinta-feira foi de sol um pouco mais baixo. A máxima, por exemplo, chegou a 41ºC por volta das 11h30, segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), ou seja, até quatro graus a menos do que a reportagem flagrou na quarta-feira (7).

Diante desse cenário, muitos buscam uma sombrinha. De fato ela pode ajudar, mas não muito. Em áreas com muitas árvores e natureza, a reportagem não encontrou nenhuma temperatura superior a 40ºC. Isso não significa frescor, contudo. Os mesmos efeitos do calorão a céu aberto são relatados, já que muitas vezes o sol esquenta o vento, tornando a brisa uma espécie de “secador”.

Enfim de portas abertas após um longo período fechado por conta da pandemia, o Parque das Nações Indígenas, na região leste, foi o primeiro destino. Mesmo entre suas árvores, a temperatura beirou os 35,9ºC.

Número mais otimista, mas, mesmo assim desagradável na sensação térmica. E isso quem fala é o mecânico Daniel Escobar, 49 anos, que mora em Corumbá. Com os familiares nos Altos da Afonso Pena, sorvete e água foram as ferramentas para refrescar do calor. “O clima aqui tá igual o do Pantanal”, resumiu.

No Horto Florestal, na Vila Carvalho, região central, foram registradas as temperaturas mais baixas pela reportagem: uma variação entre 31,3ºC e 32,5ºC. “Aqui sempre foi muito fresco por conta das árvores. Mas neste ano está demais, nem elas estão dando conta”, disse a dona de casa Maria Nunes, 38 anos, que mora na mesma rua.

Situação semelhante da Avenida George Chaia, no Jardim Nhanhá, região sul. A via que margeia uma ampla extensão de mata que termina no Lago do Amor, é uma das áreas mais verdes da cidade, já que se trata de um gigantesco quarteirão de 1,5 quilômetro junto da Avenida Gabriel Spipe Calarge.

Por lá, os termômetros marcaram uma variação entre 32,7ºC e 34ºC, cenário que parecia ser um paraíso para quem vê de longe, mas, para os moradores, é de uma situação idêntica. O jardineiro Nilton Braga, 49 anos, vê do portão de sua casa a George Chaia, sentado na cadeira e buscando se refrescar com o tradicional tererê. “Parece que só árvore não ajuda em nada”, apontou.

Mas se as temperaturas abaixaram, por qual motivo a sensação de calorão continua? O médico patologista Paulo Saldiva, da USP (Universidade de São Paulo), tem uma explicação: a umidade relativa do ar. Diferente das temperaturas acima dos 40ºC, quando raramente o índice passava dos 20%, desta vez há mudanças. No Parque das Nações Indígenas, era de 31%. No Horto Florestal, era de 43. E na George Chaia, de 34%.

“É o mesmo efeito de florestas tropicais, onde o calor se acentua pelo fato dessa umidade esquentar quando tem contato com o sol”, explicou. O “secador”, como falamos no início do texto, cria a camuflagem perfeita: abaixa a temperatura marcada pelos termômetros, mas traz calor para quem está na área. “É um estresse térmico pior ainda, pois você tem a ilusão de frescor, mas se confunde quando sente os mesmos efeitos dos 40ºC”, completou Saldiva. Confira outras notícias.

(Texto: Rafael Ribeiro)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *