A pandemia do novo coronavírus causou uma ruptura entre abastecimento e consumo no mercado de vestuário do país. Como ainda não há uma forte presença da venda on-line neste setor, devido ao menor interesse do consumidor em comprar roupas à distância, o mercado estagnou nos meses mais severos da disseminação da Covid-19.
Com as lojas fechadas, apenas uma pequena parcela do consumo migrou para a internet. Isso não foi suficiente para que as varejistas demandassem mais produtos da indústria devido à incerteza na retomada.
Com a reabertura das unidades físicas, as redes de vestuário passaram, então, a registrar um avanço expressivo em suas vendas, o que causou atritos para a recomposição dos estoques. Falta matéria-prima hoje para suportar a demanda de um cliente mais ávido a tirar o atraso em seu vestuário.
A escassez, sobretudo do fio de algodão, e o avanço nos preços da matéria-prima preocupam o varejo, que se vê desafiado para renovar os seus estoques exatamente quando se prepara para a época de festas, o período mais profícuo para toda a cadeia.
Com o avanço do dólar frente ao real, o preço da pluma do algodão para o consumo interno disparou, já que a cotação é baseada no mercado internacional. A Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, a Abit, entende que não há motivos para pânico.
Como a cadeia de produção é longa, por mais que os preços para o produtor subam, é pouco provável que exista necessidade de repasse no valor do produto final. Mas Edmundo Lima, presidente da Associação Brasileira do Varejo Têxtil, a Abvtex, não pensa da mesma forma. “Começamos a perceber que o limite do que o varejo pode suportar em termos de redução de margens já foi ultrapassado”, diz ele.
“Para não aumentar os preços dos produtos, as grandes varejistas estão em um momento de negociação. Mas os pequenos empreendedores, que têm lojas individuais, não têm esse poder de barganha.”
Sem matéria-prima, muitas indústrias não estão conseguindo desenvolver novos produtos para o comércio varejista. Fernando Pimentel, presidente da Abit, enfatiza os motivos que, em sua opinião, levam ao risco de desabastecimento no mercado.
Produção de Algodão
Segundo maior produtor de algodão do mundo, atrás somente dos Estados Unidos, o Brasil teve uma colheita recorde no ano-safra 2019-2020. Foram colhidas 2,9 milhões de toneladas de algodão em pluma, 5% a mais em relação à safra anterior, segundo dados da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão, a Abrapa. Desse montante, cerca de 700.000 toneladas são para o consumo interno e o excedente é destinado à exportação. O problema pode estar, no entanto, com a próxima colheita.
Como o preço da commodity recuou significativamente no cenário externo, representantes do setor na Bahia e no Mato Grosso estudam migrar parte da produção para o cultivo de milho e soja, o que pode causar um novo estresse no mercado. “Nós devemos ficar atentos a safra 2020-2021, porque haverá uma redução do plantio de 12% a 15% de área devido a outras culturas, como milho e soja, estarem mais rentáveis”, diz Pimentel, da Abit.
(Com informações: Veja)