Rio Paraguai atinge índice zero e depende de chuva para não secar

Sem previsão de chuva, estado é de alerta máximo

Em três meses de queda livre, a margem do Rio Paraguai atingiu, ontem (30), a marca zero de profundidade na régua instalada pela Marinha para medição de sua altura em Ladário. Já no volume morto, o afluente mais histórico do Estado tem pouco mais de 3 metros para não secar de vez.

Conforme O Estado revelou, são os piores números da região em quase 50 anos, quando a bacia do Paraguai apresentou seca semelhante aos dias atuais. Durante o período entre 1968 e 1973, a estiagem castigou o Paraguai. Dados do SGB (Serviço Geológico do Brasil) apontam que o ponto de medição em Ladário foi de -2 centímetros em 19 de outubro de 1973. Recorde negativo que está próximo de ser alcançado, já que a previsão da própria Marinha é que o rio atinja -11 na próxima semana. O novo recorde, a ser atingido em outubro, pode ser de -62, o menor que já se foi registrado em mais de 120 anos de medição.

É mais um problema que assola a região do Pantanal, que chegou ontem à marca de 3,3 milhões de hectares consumidos pelos incêndios. Grande parte dos 2,7 mil quilômetros do Rio Paraguai passa pelos biomas atingidos pelas chamas. E, sem água no leito, não há inundação. Sem a inundação, o fogo vence a floresta.

Cerca de 2,39 milhões de pessoas vivem as margens do Rio Paraguai. E em diversos trechos há acúmulo considerável de sedimentos, que a pouca água não tem força para empurrar. Onde era rio, agora são largas ilhas de areia e terra. O risco de desabastecimento é grande e vem forçando a instalação de bombas para captação de água por parte do Governo do Estado.

Mas o uso desenfreado da água pode colapsar um sistema já entrando em esgotamento. Isso porque segundo o capitão-tenente Rei Santos Araújo, responsável pelas medições técnicas de rios feitas pela Marinha, medições feitas no meio do rio apontam pouco mais de 3 metros de profundidade. “A margem dá o sinal de quão ruim é a situação. Se o nível da régua é baixo, a coisa no meio também é”, disse.

Ou seja, em 3 metros de nível, embarcações enfrentam sérios problemas para conseguirem se locomover. “O mínimo aceitável em termos de nível é 3,5 metros nas margens. Não existe outra conta”, destacou Araújo.

“Seca de rio é algo comum desde que ele não esteja canalizado. Mas diferente das situações do século passado, o Rio Paraguai agora tem uma importância sócio-econômica enorme, de comércio e a própria sobrevivência da população que ele atende. Os danos são muito maiores, já que existe a indústria do agronegócio no entorno, populações muito maiores”, disse Alexandre Delijaicov, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (Universidade de São Paulo), especialista em rios e coordenador do Grupo Metrópole Fluvial, que integra diversas universidades e estuda o comércio marítimo brasileiro.

Os efeitos de dois anos seguidos de seca, podem ser catastróficos. Os dados apontam que o rio ainda não se recuperou da estiagem de 2019. Na ocasião, após variar entre dois e três metros de profundidade, os índices baixaram para um metro e até mesmo centímetros. E até agora não se recuperou.

Neste ano, o maior índice registrado foi em 8 de junho, quando atingiu 2,1 metros. Desde 1º de julho, contudo, quando atingiu 2,02 metros, a medição só apontou queda. Ou seja, uma perda média de 22 centímetros por dia.

(Texto: Rafael Ribeiro)

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