Entrevista da semana é com Diretor-presidente da Sanesul

Concessionária atinge os 100% de abastecimento de água em 68 municípios e inicia a fase com PPP (parceria público-privada); diretor-presidente calcula investimento de R$ 1,1 bilhão sem oneração a conta

O Estado: MS tem água de qualidade?

Carneiro: A Sanesul está há 42 anos no mercado de operação de água e esgoto, somos uma empresa 100% pública, nossos acionistas têm 99,9% e 1% é da Agesul. Fazemos mais de 8 mil coletas de amostras de água para fazer o que a legislação determina com relação a qualidade e eficiência do tratamento. Estamos presentes em 68 municípios, 128 localidades. Somos divididos em 10 regionais e temos mais de 1,5 mil colaboradores. Toda essa gestão é uma indústria que mantém a operação do nosso sistema de água. Então, a nossa responsabilidade é desde a captação de água, que pode ser em rios (superficiais) ou em poços de água (feita em poços artesianos e superpoços que buscam água do Aquífero Guarani). Feita a captação, fazemos o tratamento, a reservação e a posterior distribuição. Esse tratamento é certificado pelos laboratórios, temos atualmente dez em cada unidade regional e um grande laboratório, na sede, que certifica as amostragens que coletamos para certificar primeiro que a água tem um pH equilibrado, a turbidez da qualidade da água, a fluoretação, o tratamento com cloro, ou seja, tudo o que a legislação determina. Por isso digo que, sem dúvida nenhuma, os mais de 600 mil usuários que a Sanesul atende podem ter a certeza de que recebem uma água de qualidade, tratada, certificada e acreditada pelos órgãos de controle federais e estaduais.

O Estado: Em 2019, a concessionária teve aumento no faturamento da receita, em R$ 618 milhões. A Sanesul vive o seu melhor momento?

Carneiro: Não é que tivemos um aumento de R$ 618 milhões de receitas, mas, sim, do orçamento. Tivemos um ganho efetivo na casa dos R$ 90 milhões. Então, se vemos toda a execução orçamentária que nós nos propusemos a fazer, fizemos. Além disso, todos os investimentos previstos nos contratos de programas com os municípios estamos cumprindo à risca, e antecipando conforme a gente consegue novas fontes de recursos. Para água a gente já universalizou: hoje temos 100% de abastecimento de água nos municípios onde operamos. No esgotamento sanitário, a gente caminha a passos largos para fazer também a universalização. Nossa meta é ser o primeiro Estado do Brasil em universalizar o saneamento básico. Então, todo o lucro da empresa é revertido em investimentos: o Estado não retira R$ 1, tudo o que ganhamos é para reinvestir e, com isso, conseguimos manter a qualidade na gestão da operação de água e esgoto.

O Estado: Como foi planejado o edital da PPP (parceria público-privada) da Sanesul?

Carneiro: Estamos desde 2016 trabalhando nesse modelo de parceria. Fizemos um estudo, identificamos os nossos ativos de esgotamento sanitário e o valor a ser investido, que hoje está na casa de R$ 1,1 bilhão para alcançar a nossa meta de universalização. Se a Sanesul tivesse esse valor, não precisaria buscar parceiro para fazer o investimento. Nos últimos dez anos vivemos três momentos: em 2010 tivemos uma política pública muito forte de investimento em saneamento, na qual a empresa apresentou projetos e foi contemplada com muitos investimentos. Então, de 2010 a 2015, os investimentos em grande parte foram feitos com fundos não onerosos. De 2016 a 2020, fizemos um grande financiamento com a Caixa Econômica Federal, de mais de R$ 450 milhões, para atender a 42 municípios em esgotamento sanitário. Saímos de 13% de área de cobertura de esgoto, chegando a quase 60% nesse segundo momento. Comprometendo a nossa capacidade de financiamento, mas precisávamos avançar, em razão até da Lei do Marco do Saneamento, que obriga a, até 2033, universalizar em até 98% o esgotamento sanitário. Agora, o governo federal sinaliza que não existe uma linha de crédito pública para o financiamento do saneamento, a gente tem de buscar recurso no setor privado e, por isso, modelamos uma (PPP) administrativa, ou seja, vamos contatar um parceiro para fazer investimentos na nossa operação de esgoto. Serão investimentos de R$ 1,1 bilhão em até dez anos e R$ 2,5 bilhões em operação. Nosso projeto é de R$ 3,6 bilhões para que se consiga no máximo até 2030 a meta de universalização. 

O Estado: Por que o saneamento básico é um serviço caro?

Carneiro: Veja bem, você coletar todo o resíduo doméstico, comercial e industrial que as atividades econômicas produzem tem um custo. É necessário fazer a gestão de toda a rede, as elevatórias, a estação de tratamento de esgoto, e os efluentes que ali são tratados precisam ser utilizados de maneira que o corpo receptivo onde ele é jogado, no pós-tratamento, esteja enquadrado no que a legislação determina. Então, você tem o custo operacional, o custo de insumos que não são baratos e o custo de mão de obra contínua, já que são os três turnos para fazer um tratamento efetivo, para fazer com que a água que vem da casa, do comércio e da indústria esteja em condições de ser devolvida à natureza, que é o caminho comum.

O Estado: Um imóvel com rede de esgoto significa valorização. Quais serão os benefícios para a população atendida?

Carneiro: Sem dúvida nenhuma, além de valorização, o maior aspecto que tem de ser considerado com a rede de esgoto implantada e a qualidade de vida, a descontaminação do lençol freático, pois, na maioria dos bairros, principalmente nos mais periféricos, existe um poço e uma fossa séptica próxima. Então, essa contaminação influencia diretamente nas doenças causadas em crianças, nas pessoas que consomem aquela água. Então, além da questão de saúde, todas as organizações de saúde internacionais já confirmaram que, a cada R$ 1 investido em saneamento, você economiza até R$ 5 em tratamentos preventivos de saúde. 

(Confira mais na página A4 da versão digital do jornal O Estado)

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