PIB despenca 9,7% no 2º trimestre em choque histórico na economia

A conta da pandemia no novo coronavírus na economia brasileira já tem dados certos. O Produto Interno Bruto (PIB) do 2º trimestre derreteu 9,7%, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O tombo é resultado das necessárias medidas de distanciamento social tomada por estados e municípios para tentar conter o avanço da Covid-19. A fase mais aguda do distanciamento social, ocorrida em abril, levou o resultado da economia no período para baixa histórica e, nem mesmo a reabertura gradual das atividades não essenciais em maio e junho foi suficiente para amenizar a queda.

O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos dentro do país, e serve para medir o comportamento da atividade econômica. Em valores correntes, somou 1,653 trilhão de reais de abril a junho. No primeiro semestre do ano, a economia acumulou queda de 5,9%. Nos últimos quatro trimestres, encolheu 2,2%, e na comparação com o segundo trimestre do ano passado, o recuo foi de 11,4%. Segundo o IBGE, o PIB está no mesmo patamar do final de 2009, auge dos impactos da crise global provocada pela onda de quebras na economia americana.

A retração da economia resulta das quedas históricas de 12,3% na indústria e de 9,7% nos serviços. Somados, indústria e serviços representam 95% do PIB nacional. Já a agropecuária cresceu 0,4%, puxada, principalmente, pela produção de soja e café.

Com a atividade econômica já baixa, o PIB do 1º trimestre veio com retração de 1,5%, já acusando os primeiros sinais na crise, que tomou proporções gigantescas depois deste período, tanto que a retração do 2º tri é a maior registrada na série histórica, que se iniciou em 1996.

Com os dois meses consecutivos de resultado negativo do PIB, o Brasil entra oficialmente na chamada recessão técnica. Ao fim do segundo trimestre, o Brasil tinha mais de 1,4 milhão de casos confirmados e 59 mil óbitos provocados pelo novo coronavírus.

“Esses resultados referem-se ao auge do isolamento social, quando diversas atividades econômicas foram parcial ou totalmente paralisadas para enfrentamento da pandemia”, disse a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.

Mesmo com o foco de injetar dinheiro diretamente na economia, o consumo das famílias deve a maior queda na ótica da demanda: – 12,5%, que representa 65% do PIB. “O consumo das famílias não caiu mais porque tivemos programas de apoio financeiro do governo. Isso injetou liquidez na economia. Também houve um crescimento do crédito voltado às pessoas físicas, que compensou um pouco os efeitos negativos”, disse Rebeca Palis.

O consumo do governo recuou 8,8% no segundo trimestre, muito por conta das quedas em saúde e educação públicas, explica a coordenadora do IBGE. “Na saúde, os gastos ficaram mais focados no combate à Covid-19, e as pessoas tiveram receio de buscar outros serviços, como consultas e exames, durante a pandemia. Na educação, utilizamos nas contas o percentual do Ministério da Educação de alunos que tiveram aulas ou não. Isso fez com o que o consumo do governo caísse bastante também”, detalhou a coordenadora, destacando que o resultado não tem relação com a política fiscal.

A expectativa é que o aquecimento visto a partir de maio, que não chegou a refletir no PIB do trimestre, continue. Porém, o tombo no início do ano deve levar a uma recessão histórica em 2020, estimada em 5,26% pelo mercado financeiro — segundo o último Boletim Focus — e 4,7% pelo governo federal.

No acumulado do primeiro semestre, o PIB caiu 5,9% em relação ao mesmo período de 2019, com desempenho positivo da agropecuária (1,6%). Na indústria (-6,5%) e nos serviços (-5,9%) os resultados foram negativos. “Essa foi a primeira taxa semestral negativa desde 2017, quando estávamos saindo da crise econômica que ocorreu, principalmente, entre 2015 e 2016. Agora, voltamos a uma nova queda no PIB”, conclui Rebeca Palis.

O grau do tombo mostra ainda mais a importância de seguir o caminho de austeridade de gastos no pós pandemia e foco na geração de empregos para que haja uma retomada sustentável da economia brasileira. O caminho para reconstrução, que vinha ocorrendo, é longo, mas não deve ser abandonado.

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