Entenda a diferença entre estes dois termos que, em alguns casos, podem ter os sintomas confundidos
A pandemia do novo coronavírus (COVID-19) tem causado várias sensações nas pessoas, e algumas delas nem sempre estão associadas a doença, apresentando ser sintomas psicológicos ou somatização. A manifestação desses sinais, sem ao menos ter contraído o vírus, pode estar associada a diversos fatores diante da realidade atual.
A estudante Karla Gonçalves, de 17 anos, aparentemente, tem apresentado sinais de somatização. Mesmo após o teste para coronavírus ter dado negativo, ela continua tendo sensações semelhantes ao do vírus. “Se alguma pessoa me conta que está com suspeita do vírus, eu já começo a sentir dor de cabeça ou qualquer outro sintoma da doença, por exemplo, mas depois passa”, conta.
Ainda de acordo com Karla, esta não é a primeira vez que isso acontece. “Não é somente com o vírus. Já aconteceu em outras situações também, com outras doenças”, diz.
Somatização X sintoma psicológico
Conforme a explicação da psicóloga e psicanalista Yana Julia Lissandretti, “somatização é o fenômeno em que a pessoa sente no corpo um desarranjo que acontece no psíquico. Por exemplo, sente dores e desconfortos que não são explicados pela via médica, indicando que possa ter, portanto, uma origem psíquica. No tratamento analítico, isso precisa ser escutado dando vazão as questões singulares do paciente”, explica.
No caso de sintoma psicológico, só é dito quando alguns exames apresentam resultado negativo. “Falamos em sintomas psicológicos quando os exames clínicos, de imagem ou laboratoriais, não resultaram em causas possíveis de serem determinadas. Quando isso ocorre, apresenta a hipótese de um sintoma psicológico, indicando uma perturbação momentânea, mal estar ou transtorno psí- quico. O sintoma psicológico seria a q u e l e não condizente com a realidade externa apresentada, é um sinal que indica um mal estar ou transtorno psíquico que não necessariamente extravasa para uma dor física no corpo”, completa.
O sintoma não é falso!
Para algumas pessoas, os sintomas que surgem são sem explicação, é o que acredita a estudante Karla. Para ela, todos esses sintomas são inexistentes, que surgem somente por conta do psicológico. “Acredito que surgem por conta do meu medo em contrair a doença e isso mexe com meu psicológico”.
Na visão profissional, Yana diz que nenhum sintoma é considerado falso, porém, enfatiza que, cada caso precisa ser avaliado. “Não significa que seja um falso sintoma, significa que aquele sintoma não se refere ao prévio diagnóstico e sim a outro, ou apenas a um mal estar momentâneo, decorrente de um tipo de situação perturbadora. É válido lembrar que cada sujeito reage individualmente a situações específicas. A pessoa sente a dor na pele, portanto, ela não é falsa, ela existe”, enfatiza.
“A investigação do contexto e do momento atual do paciente, precisa ser minuciosa para não haver um falso diagnóstico. Daí sim, podemos falar em falso, mas não falsa dor e sim falso diagnóstico. Qualquer sintoma parecido com os listados da doença é sinal de alerta. E frente a um sinal de alerta, cada um tem uma reação diferente e individual”, acrescenta.
Outros motivos
Nem sempre os sintomas apresentados podem estar associados a atualidade crítica em que o mundo passa, mas sim, a algo pessoal que aconteceu ou acontece na vida de determinada pessoa, fazendo com que as dores possam se ativar.
“Indica-se nesses casos, tratamento psicológico individualizado. E mais do que isso, não se trata de se livrar do sintoma, mas de identificar o que ele aponta. Pode ser uma frustração, um medo, uma angústia. Importante dizer que a ameaça constante da doença e da morte que rondam a todos nós nesse momento em específico, também causam dor e não somente a doença em si”, finaliza.
(Texto: Izabela Cavalcanti)