Ex-político preso em operação contra milícia deixa cadeia

Beneficiado pelo direito de responder ao processo em liberdade, o ex-presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul Jerson Domingos deixou a carceragem do Centro de Triagem, no Instituto Penal, no Jardim Noroeste, na manhã de ontem (19). Domingos ficou preso menos de 24 horas após ser alvo da terceira etapa das investigações do Gaeco (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado) que miram a atuação de uma organização criminosa atuante na prática dos crimes de homicídio, milícia armada, corrupção ativa e passiva.

O ex-político virou alvo do Gaeco junto de Cinthya Name Bell, sobrinha de Name e sua secretária particular, que também foi presa, após a segunda etapa das investigações, em março, ao se descobrir que o ex-político e seu filho passavam ordens escritas em papel higiênico. Em alguns desses bilhetes eram pedidas a execução de desafetos da família, como o delegado Fábio Peró, responsável pelo inquérito, o promotor Tiago Di Giulio Freire, do Gaeco. Cinthya também foi beneficiada pela mesma decisão.

Domingos deixou a prisão ao lado de Borges, sem dar declarações à imprensa. “O Tribunal, como sempre, atuou com celeridade e eficiência, garantindo a liberdade a um homem bom, da paz e companheiro de todas as horas”, disse o defensor André Borges. No habeas corpus, Borges alegou que a prisão de seu cliente gerou “constrangimento ilegal” e argumentou que Domingos “é personagem meramente secundário de tudo o que foi apontado pelo Gaeco” e que teve a prisão decretada “em razão de parentesco com outros investigados”. No dia das prisões, o advogado negou as acusações contra o cliente. “Nem eu como advogado, nem ele que está sendo preso e nem a família sabem o motivo desta prisão”, disse, na porta do Garras. “Até agora não sabemos [o motivo], mas é comum nesses tipos de operação para evitar fugas, não é ilegal, mas eu não acho correto, deveriam informar para sabermos o motivo da prisão.”

Responsável pela decisão, o desembargador Vladimir Abreu da Silva concordou que não há elementos para mantê-lo preso, já que não é possível presumir que ele integre organização criminosa por ser parente de Jamil Name e do filho, Jamil Name Filho, os principais alvos da Operação Omertà, e pela proximidade com Fahd Jamil, poderoso empresário da fronteira que também teve a prisão preventiva decretada nesta fase operação. “Não se está a dizer que os fatos não merecem investigação aprofundada e produção de provas em juízo, porém, os elementos constantes até o momento não são robustos o suficiente para autorizar a manutenção da prisão”, ressalvou o magistrado.

Foram expedidos 20 mandados e 7 pessoas foram presas até agora, entre elas um outro investigador da Polícia Civil, um sargento da Polícia Militar, que atua também como motorista da família, funcionários de um título de capitalização com vínculo com Domingos e Flávio Correia Jamil Georges, filho de Fahd Jamil Georges, o “Fuad”, poderoso empresário da fronteira e que não havia sido localizado pelas equipes até a conclusão desta reportagem. Outro preso é o delegado Márcio Shiro Obara, ex-titular
da Delegacia de Homicídios e atualmente lotado no 2º DP da Capital.

Obara é considerado um delegado da elite da Polícia Civil e já foi titular, além da Homicídios, pelo próprio Garras. Ele foi um dos integrantes da equipe que prendeu os guardas municipais acusados de matar o delegado Paulo Magalhães em junho de 2013. No entanto, a investigação nunca chegou ao mandante da execução. De acordo com o Garras, em depoimento, a mulher do guarda municipal Marcelo Rios, preso com um arsenal de armas de fogo em maio do ano passado, apontou que seriam pagos R$ 100 mil a um delegado. A reportagem do jornal O Estado apurou junto a fontes do Gaeco que Obara é investigado por receber dinheiro para relevar investigações da milícia. Em novembro do ano passado, Obara deixou o comando da Delegacia de Homicídios para reforçar a investigação da onda de assassinatos que acontecia em Ponta Porã.

Confira o material completo acessando o caderno de polícia na versão digital do Jornal O Estado MS.

(Texto: Rafael Ribeiro/Publicado por João Fernandes)

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