Entrevista da Semana com o ex-governador André Puccinelli

Provaremos ao longo do tempo, se o inquérito continuar, que éramos, somos e continuaremos inocentes

Ex-governador de Mato Grosso do Sul e ex-prefeito de Campo Grande, André Puccinelli veio falar depois de um ano e seis meses da prisão que o tirou da disputa das eleições de 2018. “Provavelmente eu venceria aquele pleito, e foi só liderar as pesquisas que surgiu a prisão. Primeiro prenderam para depois oferecer a denúncia, só que depois se provou que não foi algo justo. Teve adversário que me chamou de ladrão, e agora fica como?”, indaga. Um cárcere que conseguiu reverter na Justiça por unanimidade de uma corte, das acusações de lavagem e desvio de dinheiro público. “O processo não se sustentava e, quanto ao Aquário do Pantanal, eu deixei o dinheiro para que se terminasse. Inclusive uma investigação e análise dos órgãos competentes provou que não houve superfaturamento”, citou André, que hoje tem na rotina as prioridades do compromisso com a família e as pescarias regulares. Não que tenha deixado a política, porém ele lembra que hoje tem sido menos requisitado pela imprensa do que antes. Na entrevista ao jornal O Estado, com a coragem de sempre, ele falou do presidente Jair Bolsonaro, de Luiz Henrique Mandetta, Tereza Cristina, Marquinhos Trad, coronavírus, isolamento e do MDB, que estima como meta eleger 15 prefeitos neste ano.

‘Todo ex é bom desde que seja reconhecido’

Ser médico lhe traz gratificações ao encontrar ex-pacientes e ouvir: “O senhor salvou minha vida”. Assim como também ser ex-prefeito e ex-governador, confirmando que Puccinelli se mantém vivo na política. Confira a entrevista:

O Estado: O senhor foi do céu, líder das pesquisas e favorito ao governo do Estado, ao inferno, preso e junto com seu filho. Já conseguiu absorver a situação?
Puccinelli: Quando fui preso, nem sequer fui denunciado. E até o dia de hoje não houve nenhuma oitiva feita, ou seja, se perguntasse ao juiz “por que me prendeu?”, poderia dizer que daqui a um mês faria a denúncia. O que se pensa e espalhou-se, não por mim, mas na sociedade sul-mato-grossense, é que fui retirado, como disse uma vez o ministro do STF, do palco político. Tanto é que, no julgamento de mérito, eu ganhei por 6×0, e os ministros escreveram que a prisão foi ilegal. Mas infelizmente, os adversários, aqueles que são inconsequentes, não primam pelo respeito e procuram divulgar e difundir da maneira mais prejudicial. Mas quem tem a consciência tranquila, como nós temos, e provaremos ao longo do tempo, se o inquérito continuar, que éramos, somos e continuaremos inocentes.

O Estado: Por que optou pelo silêncio neste um ano e meio?
Puccinelli: Eu tenho sido procurado, principalmente pelo presidente do diretório do MDB. Neste período continuei trabalhando. É que não tenho sido tão procurado, tão intensamente, pela imprensa, como era antigamente. Provavelmente deve ser isso.

O Estado: O senhor se sentiu traído durante aquela campanha?
Puccinelli: Por quem ter sido traído?

O Estado: Pode ser por alguém do próprio partido…
Puccinelli: Não imputo traição de ninguém, absolutamente de ninguém…

O Estado: Como o senhor avaliou a candidatura do MDB sem o senhor ao governo em 2018?
Puccinelli: O Junior Mochi seria o candidato ideal para governar Mato Grosso do Sul… É que não houve tempo suficiente, ainda mais quando eu fui substituído pela Simone Tebet, que infelizmente não continuou como candidata. Pensa-se, como todos, que ela teria vencido as eleições. Mas o Junior Mochi não teve tempo de expor a plataforma de governo. Mas hoje se sabe: o que ele dizia em sua campanha era o que deveria ser aplicado em Mato Grosso do Sul, e os 12% que ele recebeu nas urnas devem estar mais orgulhosos de terem votado muito bem.

O Estado: Existe trabalho silencioso no interior do partido na luta pela hegemonia no Estado. Quais as chances de o MDB voltar a reinar?
Puccinelli: Eu creio que essa eleição para Campo Grande deverá ter de 10 a 15 candidatos. Vem o atual prefeito (Marquinhos Trad), o MDB vai apresentar como pré-candidato o hoje deputado estadual Márcio Fernandes, o PP apresenta um candidato (Eschael Nascimento), o PSL outro (Capitão Contar)… Seguramente a eleição vai ter 2º turno, mas o que eu digo para todos os candidatos, como conselho, que paute a sua plataforma de governo em ideias e propostas. Não fique agredindo simultaneamente como estamos vendo nas campanhas de baixo nível. O nosso MDB terá como pré-candidato Márcio Fernandes e este apresentará uma proposta para que Campo Grande se torne melhor do que é hoje.

O Estado: O senhor voltou à vida pública? Pretende ser candidato em 2022?
Puccinelli: 2022 está tão longe e eu já tenho 71 anos. Vamos deixar pra lá… Eu já não quis ser candidato ao Senado naquela época porque eu julgava que tinha cumprido um ciclo político em Mato Grosso do Sul. Se fiz pouco ou se fiz muito, cabe à população julgar. Ficaram me cutucando, dizendo inverdades sobre mim, me injustiçaram… Então, me tornei candidato ao governo. Levei quatro meses trabalhando por todo Mato Grosso do Sul, rememorando o que fizemos aos municípios, e quando eu passei nas pesquisas de intenções de voto veio a prisão. Sem denúncia formalizada. Quero frisar isto: a denúncia só foi apresentada 30 dias depois da prisão.

O Estado: Qual sua avaliação da gestão Marquinhos Trad em Campo Grande?
Puccinelli: Razoável… Eu acho que ele está fazendo um trabalho razoável.

O Estado: Bolsonaro é mito ou “Bozo”?
Puccinelli: Pra uns é Bozo e para outros é mito (risos). Para mim é um presidente que tinha de falar menos e fazer mais… Ele é uma pessoa correta. Ele não é corrupto, mas de vez enquanto ele solta a língua demais. E tinha de ser verdadeiro pai, aquele que manda na família, que quando os filhos estiverem errados poder dizer: “Filhos fiquem quietos”.

O Estado: Qual sua avaliação de Luiz Henrique Mandetta no Ministério da Saúde?
Puccinelli: Razoável, razoável… A crítica que eu faço é que ele se pautou só no isolamento. Eles deveriam ter feito de imediato ao perceber a pandemia, em meados de janeiro, na realização de testes. Nela você segrega as pessoas que são consideradas contaminantes. Os testes estão chegando agora tardiamente. Máscaras estão corretas, isolamento sou a favor, mas não aquele total absoluto, como foi feito. Vou dar um exemplo: você segrega uma pessoa que não tem sintoma nenhum, e contaminante, em uma casa com uma pessoa de zona de risco? Não. Testes deveriam ter sido feitos para isolar aqueles que poderiam ser contaminantes. Mandetta fez um trabalho razoável à frente do Ministério da Saúde.

O Estado: E Tereza Cristina, considera uma discípula na política?
Puccinelli: Eu não considero ter discípulo político. Tenho amigos políticos e companheiros políticos, que iniciaram na vida pública por meu intermédio, ou por meu intermédio cresceram. Mas, por méritos próprios da engenheira-agrônoma Tereza Cristina, ela tem se sobressaído. Ela está no métier certo. O que eu disse: no ministério certo. Conhece sua profissão e aplica o conhecimento para o bem do Brasil. Graças a Deus o Brasil tem a Tereza Cristina no Ministério da Agricultura.

O Estado: Marun segue velho amigo?
Puccinelli: Marun está em quarentena lá no Sul… Estou com saudade dele e ele de mim. Ele diz que talvez na próxima semana, quando faremos reunião da executiva do MDB, ele venha me rever. Há mais de 60 dias que não conversamos a não ser pelo WhatsApp.

O Estado: Ser um ex-governador é bom?
Puccinelli: Todo ex desde que seja reconhecido é bom… Sou ex-médico. Mas não existe ex-médico. Eu não pratico mais a profissão desde quando fui prefeito de Campo Grande, em 1996. Ser médico me traz gratificações; várias pessoas que eu encontro falam: “O senhor salvou minha vida” ou “o senhor salvou a vida da minha filha”. É gratificante. Como é ser ex-prefeito – eu tenho boas recordações – e como é ser ex-governador também. Eu volto a dizer: se eu fiz bem, se eu fiz muito ou se eu fiz pouco, à população que cabe julgar. Não a mim. A pessoa que é presunçosa e diz: “eu fui ou eu sou”, perde um pouco do meu respeito.

O Estado: Tem esperança de ver o Aquário do Pantanal pronto?
Puccinelli: Recebi ontem um livro autografado por Ruy Ohtake, arquiteto de renome internacional. Ele fez um livro tendo como tópico principal o Aquário do Pantanal. E, na dedicatória que ele escreveu para mim, colocou um episódio em que estava o ministro Mangabeira Unger, do Ministério de Assuntos Estratégicos, do governo de Dilma Rousseff. Ele veio a Mato Grosso do Sul visitar a obra e disse que o aquário seria a divulgação da cultura, a divulgação ao meio ambiente, a descoberta da epithoforma pantaneira, ou seja, seria uma obra magnífica e, mais, nos trouxe o fato de uma perícia judicial que provou que não tinha superfaturamento. E agora eu pergunto: não tem superfaturamento? Não fui eu que disse. É a perícia. Bloquearam os bens do André, do Ohtake…, prejudicaram nosso nome. E agora? O Aquário do Pantanal está inconcluso, sendo que eu havia deixado o dinheiro para terminar. Pergunto: essas questões de ter de acrescentar dinheiro para terminar a obra, quem vai pagar? Algumas coisas se deterioraram, quem vai pagar? Eu deixei tudo certo e ficou comprovado que não houve roubalheira, como havia dito um ex-secretário de obras do atual governo. O Aquário do Pantanal ia marcar os nomes de Mato Grosso do Sul e Campo Grande como Estado do Pantanal. Descobriram neste período já seis novas espécies… Iríamos às escolas divulgar o aquário e promover os cuidados com o meio ambiente. Cravaria de vez o nome de MS no mundo. Onde é que vamos ver o maior aquário de água doce do mundo? Lá em Campo Grande, no Estado de Mato Grosso do Sul.

(Texto: Bruno Arce e Danilo Galvão)

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *