Brasil tem ‘apagão’ de dados e perde a dimensão da pandemia

Diante da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), o ministro da Saúde, Nelson Teich, disse em uma videoconferência com senadores que a nação está “navegando às cegas”. Na avaliação das diversas organizações que têm compilado estatísticas públicas sobre o vírus no Brasil, existe um “apagão” de dados e por isso, a atual situação dificulta a travessia pela crise e a projeção de cenários, em especial quando se discute o afrouxamento do isolamento social.

Desde a posse de Teich, o Ministério da Saúde deixou de divulgar as cidades em situação de emergência. Além disso, as tradicionais coletivas de imprensa diárias com a atualização dos números de casos e óbitos no país se tornaram ocasiões pontuais. Procurada pelo Globo, a pasta não se manifestou.

Fernanda Campagnucci, diretora-executiva da Open Knowledge Brasil, ONG que tem feito análises semanais do nível de transparência dos portais dos 26 estados brasileiros e do Distrito Federal, além da União, avalia que o governo federal deveria servir de exemplo para os estados.

“A sensação depois de um mês de monitoramento é que tínhamos uma situação de absoluta escuridão, apagão mesmo. O que chama atenção é o papel do governo federal, que deveria ser liderança no processo de transparência. Embora tenha evoluído desde o início da crise, o painel de dados na internet traz uma informação muito pouco útil por ser agregada e difícil de mergulhar em detalhes. O mínimo que o governo federal deveria fazer é abrir a base de dados completas, omitindo dados pessoais, e colocar à disposição do público”, avalia Campagnucci.

O aspecto mais problemático está na base de notificações do Ministério da Saúde, cujo acesso está restrito a secretarias municipais e estaduais de Saúde e à Fiocruz. Há informações de diferentes categorias que poderiam ajudar a ciência brasileira a fortalecer políticas públicas contra a disseminação do novo coronavírus.

“O voo às cegas se deve à própria atitude do ministério de fechar essas bases. É uma decisão que, para mim, parece estritamente política. Por que não liberar os dados para todos?”, avalia Renato Coutinho, professor de Matemática Aplicada da Universidade Federal do ABC e integrante do Observatório Covid-19 BR.

(Texto: Izabela Cavalcanti com informações da Agência O Globo)

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