Frigoríficos de MS renegociam preço da carne com chineses

Expectativa é que o preço no mercado interno, que já está em queda, caia mais ainda, diz Assocarnes

Após o ‘boom’ das exportações de carne bovina brasileira para a China, o gigante asiático começou 2020 com o desejo de renegociar os valores da proteína animal. Em Mato Grosso do Sul, o presidente da Assocarnes (Associação de Matadouros, Frigoríficos e Distribuição de Carnes de MS), Sérgio Capucci afirmou que as vendas com os novos valores já foram iniciadas e que isso deve provocar uma retomada no fluxo das vendas ainda mais forte nos próximos meses.

Para Capucci, o momento é de readequação desde o pecuarista até os supermercados. “É uma renegociação real, concretizada. Eles já estão voltando a comprar, mas com preços que no nosso Estado devem ser cotados a R$ 170 ou R$ 175, para que esses frigoríficos consigam exportar os preços deveriam ficar entre essa estimativa. Alguns frigoríficos fizeram alguns investimentos iniciais, nós, por exemplo, tínhamos o projeto de ampliação, mas com esse novo panorama vamos suspender e, vamos ir realizando de forma gradativa. O boi abaixando aqui, já começa de forma tímida a voltar essas exportações, mas com preços mais baixos, porque senão fica inviável para a China. A readequação, vai desde o pecuarista até o supermercado”, ressaltou.

Enquanto isso, preço para o consumidor, que já está em queda, deve cair mais ainda. “Para os consumidores os preços já caíram e vão continuar caindo. Os preços que ainda não caíram foram pela decisão dos próprios mercados e revendas, porque eles já estão pagando preços bem mais baixos na compra, os frigoríficos já repassaram para os supermercados e açougues”, completou.

Tendo em conta os primeiros resultados apresentados no início deste ano, o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) registrou uma queda de 7,9% em janeiro nas cotações das principais centrais de abastecimento do país. Como, por exemplo, na B3 que apresentou o valor de 190,60 por arroba, sendo que o contrato mais negociado da última terça-feira (21) foi de R$ 189. Desde o início do ano, as cotações da praça de Três Lagoas, apresentaram queda de R$ 185,00, no dia 6 de janeiro, para R$ 176,00 na cotação de ontem (22).

De acordo com o pesquisador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), Thiago Bernardino de Carvalho, a grosso modo, é preciso cautela para que as vendas para a China não se tornem uma muleta do mercado brasileiro, como acontece hoje.

“No último ano tivemos a China entrando no mercado brasileiro muito forte. Desde 2016, eles já compram muito e, em 2019, se tornaram o principal comprador de carne brasileira, lugar ate então ocupado por Hong Kong. Nos últimos três anos, a China teve um papel muito importante na compra de carne, sendo que em outubro, novembro e dezembro tivemos recordes e ela foi a principalmente protagonista. Isso foi mito bom para a pecuária, mas gerou uma dependência, em torno de 45% de toda proteína vai para a China e Hong Kong, ou seja, tudo isso para um mercado. Isso é bom porque melhorou o preço do produtor, e ajudou a cadeia, principalmente o começo o dela, mas a grande questão foi essa ocorrência”, opinou.

Ele explicou ainda que a renegociação faz parte do cenário econômico vivenciado pela China e que já era esperado, uma vez que o país conseguiu montar estoque. Sobre a estimativa de aumento de 10% das exportações, prevista pela Abrafrigo (Associação Brasileira de Frigoríficos) no início de janeiro, Bernardino acredita que ele possa realmente ocorrer, mas é necessário levar em conta o cenário de outros países, que neste ano também tentarão entrar para o mercado de exportações.

“No curto prazo temos uma reorganização em termos de cotações demandas e escala, isso vai ocorrer naturalmente pela Cina ou por uma demanda de outro país, mas no médio e longo prazo provavelmente a China vai voltar a comprar normalmente, mas este primeiro momento é de apreensão. O aumento de 10% ele pode acontecer, temos a austrália, temos uma aproximação da China mas também devemos lembrar que os Estados Unidos estão conseguindo se organizar e vai lutar também por esse mercado, 10% temos uma indonésia querendo comprar nossos produtos, a ministra Tereza Cristina, vem trabalhado na abertura de novos mercados, mas vai depender do cenário de outros países, a questão do câmbio, os nossos custos e eu falaria que pode chegar aos 10%, mas acredito que o crescimento de 2019 deve se manter”.

Redução dos impostos da carne em pauta no Senado

Com toda essa reorganização do mercado, o preço da carne subiu deixando o produto menos acessível aos mais pobres. Pensando nisso, tramita um PRS (Projeto de Resolução do Senado) na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) que objetiva estabelecer a redução das alíquotas sobre o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) nas operações interestaduais da carne bovina. A proposta é do senador Eduardo Braga (MDB-BA)

A proposta quer reduzir as alíquotas dos atuais 7% e 12%, dependendo da origem e do destino das operações, para 3,5%, nas operações realizadas nas regiões sul e sudeste destinadas às regiões norte, nordeste e centro-oeste e ao estado do Espírito Santo. A alíquota será de 6% nas demais operações.

“Se, por um lado, essa conjuntura é considerada promissora para o setor produtivo, que vê condições favoráveis para ampliar investimentos, bem como suas margens de rentabilidade, por outro, aumenta o custo de vida da população e comprime ainda mais o orçamento das famílias, que já se encontra deveras pressionado em razão do longo período de estagnação econômica que passa o país”.

(Texto: Michelly Perez e Marcus Moura)

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