Mais de 42 mil pessoas com distúrbios sensoriais incluídas em cinema, teatro e visitações
No último sábado (10), aconteceu a primeira sessão de cinema totalmente inclusiva. O acontecimento foi no UCI do Shopping Bosque dos Ipês e permitiu cerca de 60 pessoas aproveitarem a sala totalmente ambientada para crianças com distúrbios sensoriais. De acordo com o responsável pelo projeto Sessão Azul, Leonardo Cardozo foi bem tranquilo. “Teve um público menor que a primeira vez, mas a família saiu agradecida. Houve interação durante o filme e elas aguardam as próximas ansiosas”, contou. Até agora forma mais de 42 mil pessoas atendidas em 26 cidades de 12 estados.
Leonardo é gerente de projetos e atua há mais de 16 anos na área de Tecnologia de Informação (TI). Ele se apaixonou pelo trabalho da esposa, a psicóloga Carolina Salviano. “Vendo o trabalho dela, o carinho, o resultado, a melhora de qualidade de vida das crianças, os tratamentos, a intervenção precoce, me apaixonei pela causa do autismo mesmo. Pensei como poderia fazer diferença também. Acabei me engajando. Me afeta muito mais que meu trabalho e é muito mais prazeroso. É uma forma de eu conseguir contribuir e conseguir ficar mais realizado pessoalmente e profissionalmente”, revelou. Para ele isto é contribuir com a sociedade e fazer a diferença. “Falta no Brasil a gente pensar um pouco no outro. Utilizar a parte de empatia, tentar fazer isso nosso trabalho nem que seja um pouquinho e já são vários sorrisos que ganhamos.
Sessão Azul foi idealizado para crianças com distúrbios sensoriais e suas famílias. Ou seja, são eventos adaptados para cinema, teatro e no Rio de Janeiro já acontece acompanhamento em visitações como no AquaRio, um Aquário Marinho. Mas o foco maior, por enquanto, é cinema. “O projeto começou de uma necessidade que tanto a Carolina Salviano quanto a Bruna Manta – psicólogas responsáveis pelo projeto – viram porque já faziam um trabalho de sociabilização indo a um shopping, a uma pracinha… Aí pensamos em pessoas fora do consultório, como vamos fazer a inclusão destas pessoas que, às vezes, nem tem condições de usufruir de algo assim? Desta forma surgiu o a Sessão Azul”, explica Leonardo.
Esta inclusão esta na Bahia, Distrito Federal, Rio de Janeiro, Espirito Santos, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pará, Pernambuco, Paraná, Santa Catarina e São Paulo. O projeto tenta proporcionar o maior conforto possível para as crianças, pensando nas questões sensoriais. “Na sessão de cinema o som fica mais baixo, a sala à meia-luz, há controle da parte de refrigeração e a gente conta com a ajuda de voluntários para acolher as famílias e ajudá-las no que for necessário nesta ambientação do cinema, nessa vontade de deixar as crianças confortáveis”, destaca Leonardo apontando as parceiras feitas com os voluntários aqui na Capital que são: AMA Campo Grade e a Clínica Comportar.
Primeira vez
“Para muitas famílias é a primeira oportunidade de levar seus filhos ao cinema. Porque elas ficam receosas não sabe como o filho vai se comportar e como será a reação das pessoas. Na sessão azul, as crianças tem liberdade de se expressão, de se locomover pela sala, de brincar, livres dos olhares de reprovação. Não tem o som do “shiiiii” pedindo para elas se calarem, pelo contrário, quem pede silêncio é que é corrigido”, analisa Leonardo
Olhando para tudo que está em construção, Leonardo se sensibiliza com a respostas dos envolvidos. “O resultado é emocionante porque as crianças têm esta oportunidade com novo entretenimento, uma nova atividade porque o que pode ser simples para muitas pessoas para crianças autistas, com Down e outras questões não é simples. A gente recebe muito carinho das famílias, das crianças. Tem sido muito positivo. Todos são bem-vindos, inclusive quem não tem nenhum distúrbio. Para promover a inclusão. É uma oportunidade de fazer esta inclusão social efetivamente”, enfatiza.
Na autoavaliação da Sessão Azul, Leonardo acredita que é uma forma de ensinar os filhos a respeitar a diferença de todos. “Hoje estamos vivendo conflitos de opiniões. As pessoas não tem mais paciência umas com as outras. Vemos tantas barbaridades que acontecem por discordância de opinião. A gente precisa destes projetos para que as pessoas se acalmem. Respeitem. Precisamos ter divergência para acertar. Não opinião única”, pontua e aponta “Para as famílias é importante participar, assim elas ficam mais confiantes para levar os filhos para festas, shoppings e melhorar o convívio social fora da Sessão Azul que é um dos objetivos.
A Sessão Azul já tem resultados onde as crianças já se sentem confortáveis para frequentar ambientes sem nenhuma adaptação. Para o futuro próximo, o projeto pretende atender todas as pessoas que possuem dificuldade, mas ainda não tem patrocínio. A equipe conseguiu ser aprovada na Lei Rouanet mas não conseguiu retirar o auxílio de jeito nenhum. Eles fazem tudo no tempo livre e são várias sessões por mês. “A gente espera fazer equipes para realizar outros tipos de evento e mais sessões, assim agregar ainda mais para estas famílias fazendo mais parcerias com locais culturais e levar estas famílias para onde elas desejam ir”, conclui Leonardo.
(Rafael Belo)