Entrevista da Semana com Vânia Mello, Presidente do Crea-MS

O Crea-MS, na verdade, não é instituição de proteção ao profissional, o Crea é uma instituição de proteção da sociedade, defende a primeira presidente mulher eleita

O Estado – Como você encara o fato de ser a primeira mulher a assumir o Crea-MS? Um acontecimento inédito na história da entidade…

Vânia Mello – É o começo de uma conquista de espaço. Temos muitas mulheres que participam do Crea, que são conselheiras, mas em um número muito inferior ao dos homens. A diretoria do Crea, por exemplo, tem de 6 a 7 cargos e apenas uma mulher. Será uma missão difícil, pois é preciso dividir família, trabalho, marido, filhos. Mas tem de ter a missão e coloquei isso como proposta de vida na minha área profissional. Sempre me coloquei em defesa das profissões.

Por isso desejo iniciar o mandato já implantando projetos importantes, que colaborem para o desenvolvimento da profissão. Desde o início da minha campanha, sustentei que faria um Crea-MS para todos os profissionais das engenharias, agronomia e geociências, e é isso que quero fazer.

O Estado – Como que é a profissão de agrimensora? Como está o mercado?

Mello – Agrimensores são profissionais valentes. Hoje temos profissionais atuando no georreferenciamento, em cartografia; é uma área muita aberta. Atuamos em questões ambientais, delimitações de área e estradas. É um mercado amplo porque o agrimensor também é quem faz a batimetria, a questão dos CARs, delimitar áreas, etc. Não perdemos mercado de trabalho, pois sempre o agrimensor tem um espaço em qualquer segmento da engenharia: a topografia, questão de mapas, análise antes de qualquer coisa.

Agrimensor está sempre trabalhando junto com os outros profissionais ou sozinho. Apesar do número pequeno, somos profissionais de expressividade em MS. Chegamos hoje a um momento em que temos vários agrimensores de destaque. A engenharia de agrimensura em MS é forte.

O Estado – Durante a campanha se falou muito do distanciamento dos profissionais da entidade. Que propostas você tem para trazer, para atrair as engenharias para dentro do Crea-MS?

Mello – Quero trabalhar muito na valorização dos profissionais, diálogo, espaço aberto com a categoria. A própria eleição foi um reflexo disso. Tínhamos quase 9,8 mil aptos para votar e foram apenas 2 mil votando. Ou seja, existe espaço para conquistar. A agronomia e a engenharia civil têm número próximo de profissionais na entidade e as demais se dividem. Tivemos umas três gestões de engenheiros civis, o Dirson, que atualmente é agrônomo, e agora revolucionou.

O Estado – Como está a situação das inspetorias? O que fará para os profissionais do interior?

Mello – Os profissionais do interior reclamam bastante do afastamento do Crea, da própria falta de discussão das profissões. Eles se sentem bem distantes e eu quero trabalhar muito essa aproximação. O meu ponto-chave para que a gente consiga aproximar, consiga discutir e trazer o interior para dialogar será por meio das entidades de classe. Às vezes o profissional diz: “o Crea não faz nada por mim”, mas o Crea, na verdade, não é instituição de proteção ao profissional, o Crea é uma instituição de proteção da sociedade.

O Crea é fiscalizador; ele fiscaliza o exercício profissional. Por isso que às vezes, em muita coisa, o profissional se sente abandonado pelo Crea, mas é pela entidade. Porém é preciso esclarecer que no Crea a gente tem as entidades que formam o plenário do Crea, os conselheiros todos. Eles vêm de entidades de classe. Então é aí que eu vou trabalhar, nas entidades.

Quero fortalecer essas associações e sindicatos muito, para que eles tenham poder para debater até a questão salarial, que é um problema sério hoje nas categorias. Minha ideia é ter uma estrutura dentro do Crea para atender as entidades. No caso de concursos, também o Crea é limitado. Saiu um concurso e é na área da engenharia, vamos dar apoio jurídico, de comunicação, para que possamos ir lá e discutir os salários.

O Estado – Em relação aos recém-formados, no fim do curso, como será a aproximação. Mostrar a importância do conselho?

Mello – Eu coordenei o Crea – JR por dois anos e defendo muito o Crea na universidade. Os alunos de cada curso no sistema, eles terão um espaço dentro da entidade para fazer reuniões, buscar palestras para fazer a ligação. Quero retomar este programa porque ajuda o aluno a se interessar pelo sistema e entender como funciona de imediato. Vamos rever ainda a questão do incentivo nas anuidades iniciais, no máximo mês que vem, redução da anuidade nos dois primeiros anos e trabalhar num banco de empregos, pois ainda não temos um colégio de empresas. Quero formar um colégio de empresas nos moldes dos colegiados de classe e de instituições educacionais. Queremos agora levar as empresas para um colegiado na entidade.

A meta com este estreitamento de relação entre o Crea e as empresas é de oferecer vagas de empregos, incentivar o profissional a buscar o site, fazer a ligação, oferecer vagas de estágio de emprego. Ou seja, interagir com o profissional para que ele se sinta acolhido pelo Crea.

O Estado – O que é a Mútua? O que ela representa para o associado?

Mello – A Mútua é a Caixa de Assistência dos Associados do Crea. Nesta minha gestão uma das propostas era elevar número de associados e isso foi dobrado na minha administração, que seria de três anos. Mas por sete meses ficamos em campanha eleitoral. Foi a maior campanha das história do conselho. A Mútua é nossa mãe. Tem muita coisa boa para o profissional, como recursos que ela oferece para financiamento de carros, imóveis, tirar férias, etc. São 17 benefícios e é um dinheiro que é do profissional.

O percentual é recolhido dentro da RT e vai para a Mútua. A anuidade é de apenas 200 reais. É muito baixa e dá direito a um plano de previdência, de R$ 50, seguro-pecúlio. Além disso uma vitória foi conseguirmos trazer o Plano de Saúde. Isso foi concluído no fim do ano passado. Agora os associados têm a Unimed nacional, sem participação, 40% a 50% menor que o valor que seria pago se  fosse contratado diretamente no balcão da Unimed. Lançamos em dezembro e no início de janeiro já tínhamos 200 novos associados por causa do Plano de Saúde. Tinham carência deste benefício.

(Texto: Rosana Siqueira)

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