Clima deixa campo-grandenses molhados o dia todo

Do suor do calor à água da chuva, as testas dos campo-grandenses ficaram molhadas todo o dia. Esse foi o saldo encontrado pelo O Estado após percorrer as ruas da Capital ontem (7) com termômetros especiais usados por especialistas em meteorologia da UCDB (Universidade Católica Dom Bosco).

Se de manhã e início da tarde o povo teve que se cuidar diante de marcações que atingiram até 44ºC, no fim da tarde, com a repentina chuva que caiu na cidade, as temperaturas caíram para 28ºC. Uma diferença de 20 graus de temperatura em menos de oito horas.

A reportagem iniciou a medição no Aero Rancho, na região sul e bairro mais populoso da cidade. Praças e ruas geralmente movimentadas dão lugar a uma paisagem deserta. Eram 11h05. E são poucos os que arriscam diante dos 41ºC apontados no aparelho medidor.

Uma delas é a dona de casa Geracina Rocha, 49 anos, há pelo menos 30 deles morando na região e que afirma nunca ter enfrentado um calorão semelhante. “Está uma coisa absurda. Só saí de casa para comprar um refrigerante”, disse. Sombrinha e até caixa de isopor para manter a bebida comprada gelada são o ‘novo normal’ dela, que reclama do uso da máscara. “Abafa muito, dificulta muito andar e respirar.”

A poucos metros dela, andando, estava Danilo José Fiacadori, 32. Ex-pedreiro,ele ficou desempregado na pandemia e teve uma ideia: revender frutas, legumes e verduras em seu antigo carrinho para as donas de casa em isolamento social. O novo problema é o calor, que dificultou – e muito – os mais de 22 quilômetros que anda diariamente. “É a pior sensação do mundo. Fora que a mercadoria murcha com o calor”, disse.

O Estado flagrou o pico de 44 ºC em um verdadeiro cartão-postal da cidade. Eram 12h20 quando a temperatura mais alta do dia foi registrada no cruzamento das avenidas Afonso Pena com Calógeras. Em um cenário dantesco, muitos vendedores de água, uma agência bancária com longas filas e muita gente andando com dificuldade. “Só vim ao Centro por pura necessidade”, disse a dona de casa Elza Polsan, 42, que ao lado dos dois filhos, de 18 e 13,se refrescavam com sorvetes e a sombra que fazia sob outro monumento da cidade, a estátua do poeta Manoel de Barros.

Haviam indícios de melhora. Um deles é a umidade do ar. Se no ápice do meio-dia o termômetro mostrava índice de cerca de 11%, à tarde a coisa foi melhorando.

José Carlos dos Santos Felício, 41, é um dos operários que trabalham no asfaltamento das ruas do Nova Lima, região norte. Ao lado dos colegas, festejava os índices mais brandos, de cerca de 35ºC por volta das 14h. Alto, mas muito menos sufocante. “Dá até para trabalhar direito, sem maiores percalços”, disse.

Parecia até uma profecia. Na confusão entre céu nublado e esfumaçado, poucos campo-grandenses realmente acreditavam que menos de duas horas depois o calorão receberia um duro golpe: a chuva, que veio com tudo ederrubou as temperaturas, para o alívio de todos.

Tal como na terça-feira (6), a esperança é que a chuva venha para passar uns dias conosco. Afinal, a esperança é que haja pelo menos disposição e que o calorzão recorde deste anoseja apenas um fato para as estatísticas.

Caso não aconteça, as recomendações são as mesmas: use roupas leves, beba muito líquido, coma frutas e evitar os horários com o sol mais forte.

“Um dos traumas que pode acometer a população nessa época é o estresse térmico. O mal-estar está diretamente ligado ao aumento das temperaturas e se manifesta principalmente em idosos e pessoas com baixa imunidade”, disse o médico patologista Paulo Saldiva, da USP (Universidade de São Paulo). “Os sintomas são tontura, desmaio, contrações musculares, fadiga e, em casos mais extremos, o paciente pode até ter complicações maiores e acabar em coma.”

(Texto: Rafael Ribeiro)

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